Evgeny Morozov e a 'ciberutopia'

Evgeny Morozov é um filósofo que é altamente crítico da Internet e de nosso uso de redes. Ele acredita que se mascaram novas formas de colonização, muito mais perniciosas e poderosas do que no passado.
Evgeny Morozov e a 'ciberutopia'
Sergio De Dios González

Revisado e aprovado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Escrito por Edith Sánchez

Última atualização: 17 abril, 2023

A “ciberutopia” pode ser definida como aquela tendência de ver a Internet como um espaço de defesa da liberdade e de combate ao autoritarismo. Evgeny Morozov é um filósofo bielorrusso que se opõe radicalmente a essa ideia. Seu trabalho visa alertar sobre o lado perigoso da rede e suas implicações.

Morozov estuda detalhadamente os efeitos políticos, sociais, econômicos e culturais da tecnologia. Ele fez duras críticas em suas obras The Net Delusion: The Dark Side of Internet e To Save Everything, Click Here. Hoje é uma das vozes mais autorizadas sobre o assunto.

Há mais de 10 anos, o filósofo alerta sobre o custo que a sociedade digital teria: invasão de privacidade, eleições fraudadas, vazamento de dados, fake news, propaganda chocante e tendenciosa, por exemplo. No entanto, ele está convencido de que este é apenas o começo de um controle muito maior.

“As grandes tecnologias absorvem nossos dados, constroem produtos com base neles e os vendem para o Pentágono ou bancos de investimento sem que vejamos um único euro. Esse é o negócio real: um modelo econômico parasitário.”

-Evgeny Morozov-

Evgeny Morozov, o “herege da Internet”

Apesar de ser um tuiteiro consagrado, Morozov é conhecido como o “herege da Internet” por sua visão crítica da rede. Ele é um dos filósofos que trouxe à tona o conceito de “ciberutopia” ou “tecnoutopismo”, para alertar que há muita ingenuidade entre o público sobre a verdadeira abrangência do mundo virtual.

Morozov aponta que a “ultraconexão” gradualmente coloniza nossas vidas. Indica que os gigantes tecnológicos, como Google, Facebook ou Twitter, não vivem de publicidade como muitos acreditam. Para ele, seu negócio é absorver dados e, a partir deles, criar produtos que posteriormente são oferecidos aos mesmos usuários. Em última análise, esses usuários trabalham para eles.

Este pensador afirma que o triunfalismo tecnológico é um subproduto do fim da Guerra Fria. Ele afirma que nos faz acreditar que é a única abordagem pela qual podemos observar o mundo, como se não houvesse uma sociedade ou cultura alternativa válida, quando isto não é verdade. Simplificando, o Vale do Silício está impulsionando o comportamento no mundo ocidental.

Mulher aproveita a internet
Embora para muitos a Internet seja uma ferramenta de ajuda, Morozov a classifica como um recurso de controle.

“Ciberutopia” e ditaduras

Evgeny Morozov nem sempre viu o mundo da Internet e das novas tecnologias dessa maneira. Na verdade, ele se interessou pelo assunto por meio de um ciberativismo implacável, com o objetivo de mudar o mundo. Ele foi inspirado pela famosa “Primavera Árabe” e pelos processos políticos na Geórgia e na Ucrânia. Ele viu nas redes uma oportunidade libertária.

Com o tempo, foi se desiludindo com o poder do mundo virtual para alcançar mais justiça e liberdade. Ele percebeu que, assim como esse espaço possibilitava a promoção de novas ideias e propostas, era também um campo minado por onde abriam caminho a propaganda autoritária e a mentira. De “último bastião da liberdade de expressão”, a Internet acabou se tornando uma ferramenta eficaz para as tiranias, pelo menos em muitos lugares.

A razão para isso, em grande parte, é uma só: a maioria das pessoas não entende como funciona o mundo virtual. Utilizam diariamente a Internet e participam nas redes sociais, mas desconhecem as suas consequências e implicações. Os poderes pensam essas tecnologias e os cidadãos comuns as usam, sem perceber, em benefício de tais poderes.

Jovem verifica seu relógio inteligente
Segundo o filósofo, a sociedade acabará dividida entre os poucos que entendem as implicações da rede e a maioria dos párias digitais.

Tudo pode ser pior

É claro que Evgeny Morozov não faz parte do grupo de filósofos otimistas. O oposto. Em sua opinião, haverá cada vez mais controle da Internet e o mundo acabará dividido entre uma elite cognitiva minoritária, que conhece, cria e recria o mundo digital, e uma grande maioria de párias digitais. Estes últimos são os que pagarão o preço.

Para explicar essa ideia, ele dá um exemplo simples e cotidiano. Um relógio inteligente mede as funções vitais de uma pessoa e acumula muitos dados sobre seu estilo de vida. Essa informação nas mãos de uma seguradora fará com que muitas pessoas não consigam sequer comprar um desses produtos ou os tornem muito caros.

O exemplo ilustra, mas algo assim é o que vem acontecendo e continuará acontecendo cada vez mais em todas as áreas da vida.

Evgeny Morozov diz que estamos perto do fato de que muitos serviços de Internet não serão mais gratuitos. As pessoas vão pagar para usar as redes sociais? É claro que sim. Muitos os tornaram parte de seus hábitos imprescindíveis. Aí está o alarme central: as novas tecnologias são um negócio e, como todo negócio, seu principal interesse é obter benefícios.


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  • Rodríguez, I. S., & Morozov, E. (2014). Un paseo por el lado oscuro de la red: entrevista con Evgeny Morozov. Minerva: Revista del Círculo de Bellas Artes, (22), 66-71. https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=4718142
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