Gânglios basais: anatomia, fisiologia e funções

As funções dos gânglios basais são essenciais para atividades como dirigir, fazer trabalhos manuais, subir escadas... No entanto, também mediam a nossa motivação e estão por trás de algumas condições, como a doença de Parkinson.
Gânglios basais: anatomia, fisiologia e funções
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

Usar as mãos para pegar uma bola, mover os pés para subir uma escada, dirigir, pintar, tocar um instrumento… Os gânglios basais ou da base são um conjunto de grupos de neurônios especializados no processamento de informações relacionadas ao movimento. Eles nos ajudam a ajustar cada uma das ações mais simples que realizamos ao longo do dia.

Estamos diante de um conjunto de núcleos subcorticais do cérebro que desempenham um papel muito importante. Deve-se notar, como curiosidade, que eles não fazem parte do sistema motor. Na verdade, são um amplo conjunto de estruturas interconectadas a diferentes áreas. O seu objetivo, portanto, é planejar ações, aquelas que têm um objetivo muito específico e que geralmente resultam de aprendizados anteriores.

Os neurologistas descrevem os gânglios basais como os grupos neurais que refinam as funções do córtex cerebral. Eles asseguram, por assim dizer, a correta execução de qualquer plano motor entre o cérebro e os músculos. Dessa maneira, qualquer alteração nessas estruturas nos leva a experimentar alterações no movimento; é o que acontece, por exemplo, em doenças como o Parkinson.

“A neurociência é a área mais emocionante da ciência porque o cérebro é o objeto mais fascinante do universo. Cada cérebro humano é diferente, ele torna cada ser humano único e define quem ele é”.
– Stanley B. Prusiner –

Gânglios basais

O que são os gânglios basais?

Os gânglios basais, como já sabemos, modulam e controlam a atividade motora. No entanto, eles realizam muitas outras funções. Estudos, como o realizado pelo Centro de Pesquisa Médica Aplicada da Universidade de Navarra (Espanha), indicam o seguinte:

  • Os gânglios basais mediam tudo que tem a ver com o aprendizado motor (praticar esportes, atividades como dirigir, escrever, fazer artesanato…). Eles também apresentam uma conexão muito significativa com a motivação e a emoção.
  • Por outro lado, quando falamos de gânglios basais, precisamos dizer que eles são constituídos por uma série de núcleos subcorticais interconectados. Eles estão localizados ao redor do sistema límbico e do terceiro ventrículo (no nível do lobo temporal).
  • Os principais neurotransmissores que trabalham nessas estruturas são a dopamina e o GABA.
  • Além disso, foram descobertos novos dados sobre a anatomia e a química funcional dos gânglios basais que nos ajudam a entender melhor a sua relevância em nosso comportamento e atividades. Isso também é importante no tratamento de várias doenças.

Composição dos gânglios basais

Os gânglios basais são classificados em núcleos de entrada (aqueles que recebem informações de outras estruturas cerebrais), em núcleos de saída (aqueles que enviam informações para o tálamo) e núcleos intrínsecos (aqueles que atuam como zonas intermediárias entre os anteriores). Vejamos como eles estão organizados.

Corpo estriado

O corpo estriado é a maior estrutura cerebral subcortical do cérebro dos mamíferos. É uma área que atua como um núcleo intrínseco, ou seja, recebe informações e, por sua vez, as envia para outras áreas.

Núcleo caudado

O núcleo caudado está relacionado à modulação do movimento e também a vários processos emocionais. Está conectado ao lobo frontal e regula aspectos como a motivação, memória, sensação de ameaça…

Núcleo lenticular

O núcleo lenticular é uma estrutura que fica logo abaixo do núcleo caudado. É uma área bastante grande (cerca de 5 cm) que facilita as habilidades motoras, regula a nossa postura, bem como os processos de aprendizado e até mesmo a nossa motivação.

O núcleo putâmen

Nos últimos anos, está sendo investigada a relação do núcleo putâmen com sentimentos de amor e ódio. Dentro dos gânglios basais, ele desempenha uma função básica nas tarefas de movimento automatizado. Também está localizado próximo ao núcleo caudado.

Gânglios basais

O globo pálido

O globo pálido regula as informações que são estabelecidas entre os núcleos putâmen e o caudado em direção ao tálamo. Além disso, apresenta uma conexão com o sistema límbico, atuando como reforçador de comportamentos, principalmente os derivados do uso de drogas.

Substância negra

A substância negra está integrada no mesencéfalo e também é um elemento-chave dos gânglios basais. Os seus neurônios, devido a um pigmento da neuromelanina, conferem a ela uma coloração escura que tende a aumentar ao longo dos anos. Está relacionada à aprendizagem, movimento e orientação.

Quais processos os gânglios basais mediam?

Como vimos, os gânglios basais são compostos por várias estruturas neuronais subcorticais. Entre elas, as informações são enviadas e recebidas continuamente, participando de processos que vão além do movimento.

De fato, estudos como os realizados pelos médicos Ahmed A. Moustafa e Izhar Bar-Gad, da Universidade Bar-Ilan, Ramat Gan (Israel), indicam que eles são fundamentais nos processos de memória e motivação, de forma que qualquer alteração está ligada a condições como a doença de Parkinson, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), síndrome de Tourette, etc.

Dessa forma, estudando com precisão distúrbios como os indicados, foi possível observar ao longo de décadas quais são os processos que os gânglios basais mediam. São os seguintes:

  • Regulação e controle do movimento.
  • Aprendizados relacionados a procedimentos que acabamos automatizando (por exemplo, dirigir).
  • Atividades e movimentos relacionados ao planejamento.
  • Processos motivacionais e emocionais.

Doenças e distúrbios relacionados aos gânglios da base

Grande parte das alterações observadas nos gânglios basais costuma ter implicações graves. De fato, muitas dessas doenças etiologicamente relacionadas com essas estruturas têm uma natureza degenerativa. São as seguintes:

  • Doença de Parkinson.
  • Doença de Huntington.
  • Síndrome PAP (condição clínica relacionada a uma grave falta de motivação).
  • Síndrome de Tourette.

Para concluir, cabe ressaltar que condições como o transtorno obsessivo-compulsivo e déficit de atenção – com ou sem hiperatividade (TDAH) – também estão associados a pequenas alterações nos gânglios basais. No entanto, nesses casos, os tratamentos psicológicos podem ser muito eficazes.


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