Inteligência e ansiedade: uma relação de amor e ódio

Existe uma correlação entre inteligência e ansiedade que ocorre com mais frequência do que parece. Descubra conosco os detalhes dessa relação.
Inteligência e ansiedade: uma relação de amor e ódio

Última atualização: 29 julho, 2022

Típica é a imagem do aluno brilhante, com um currículo impecável, que apesar dos seus dotes intelectuais e da sua notável capacidade de sucesso acadêmico, é consumido por um mar de nervosismo cada vez que uma prova se aproxima. Inteligência e ansiedade, neste e em outros exemplos, parecem andar de mãos dadas.

Esta relação hipotética entre um alto nível intelectual e a ansiedade tem sido estudada e examinada, tanto pelo seu empirismo evidente quanto pelas suas implicações teórico-práticas, em muitas ocasiões e a partir de várias disciplinas.

Um estudo da Universidade Lakehead, no Canadá, estabeleceu um forte apoio para essa ligação entre inteligência elevada – mentes brilhantes, criativas e analíticas – e tendências ansiosas – medo do social, antecipações, nervosismo e preocupação excessiva, entre outros.

Essas correlações entre desajustes psicológicos e habilidades pessoais notáveis ​​têm uma longa história na ciência. Há alguns anos, uma certa relação entre criatividade e predisposição para tendências bipolares ganhou popularidade relativa entre as disciplinas que estudam o cérebro e a mente humana.

Estudos sobre estados de humor

A cautela, entretanto, deve orientar a assimilação de possíveis relações causais desse tipo: não é verdade que alguém com alto potencial criativo ou com alto QI tenha algum tipo de distúrbio ou problema psicológico por trás de si.

No entanto, o que se pode afirmar é que existe com certa frequência o estereótipo da pessoa cujos comportamentos e estados internos parecem estar fora de sincronia com as capacidades de uma mente mais do que privilegiada.

Por suas implicações clínicas, sociais, pessoais e acadêmicas, o assunto, já interessante por si só, merece um estudo detalhado e o esclarecimento do tipo de vínculo entre um traço e outro.

A ciência por trás da relação entre inteligência e ansiedade

Há um ditado popular que diz que a ignorância pode trazer felicidade. Invertendo esse ditado, obtemos que o oposto da estupidez – sabedoria – pode se tornar sinônimo de infelicidade. A ansiedade, por sua vez, tem poder suficiente para infligir essa infelicidade às pessoas.

“Um homem sábio procurará mais oportunidades do que as que lhe são apresentadas.”
-Francis Bacon-

O fato de pessoas com QI alto tenderem a apresentar, com maior probabilidade, episódios de ansiedade e até mesmo ansiedade crônica e generalizada, tem suscitado relevantes linhas de pesquisa que visam elucidar por que uma pessoa inteligente pode vivenciar frustração, infelicidade e chegar a tomar decisões inadequadas para o seu bem-estar.

Enquanto no campo acadêmico você pode ver alunos de destaque que mostram uma tranquilidade e equilíbrio mais do que desejáveis, em mais de uma ocasião você também pode ver alunos que, apesar dos seus dons intelectuais:

  • Tendem a antecipar eventos negativamente.
  • Rapidamente ficam frustrados com mudanças inesperadas.
  • Mostram traços de estresse com uma frequência e intensidade anormalmente altas.
  • Apresentam uma queda considerável no desempenho acadêmico.

Assim, os comportamentos acima podem prejudicar o sucesso acadêmico e profissional e, provavelmente, o sucesso pessoal.

Matéria branca: implicações para a inteligência e ansiedade

A matéria branca do cérebro é responsável pela transmissão de informações bioelétricas entre os neurônios, não tanto pelo processamento de informações do cérebro, que é atribuído à massa cinzenta.

A condução dos impulsos nervosos sustenta a sua eficiência na velocidade e na ausência de perda de potencial elétrico, ambos otimizados ao nível da substância branca. Pode-se dizer que a substância branca é responsável pela eficiência e agilidade dos processos cognitivos e, portanto, pela própria inteligência.

Com o objetivo de aprofundar o estudo desta relação entre inteligência e ansiedade, os cientistas responsáveis ​​pelo referido estudo utilizaram técnicas de neuroimagem – e, especificamente, a ressonância magnética – para revelar as causas subjacentes.

As descobertas foram tão surpreendentes quanto, quase na mesma medida, lógicas e esperadas: pessoas nas quais convergiam alta inteligência e características marcadamente ansiosas tinham, em geral, uma maior densidade de matéria branca. 

“Enquanto os tolos decidem, os inteligentes deliberam.”
-Plutarco-

Essa densidade aumentada, em termos estatísticos, poderia explicar o poder intelectual dessas pessoas e, ao mesmo tempo, suas tendências à ansiedade crônica e generalizada, uma vez que a substância branca tem sido associada ao controle emocional. 

Neurônios do cérebro

Explicação evolutiva

No curso evolutivo da nossa espécie, parte da comunidade científica acredita que o desenvolvimento da inteligência e a disposição para sentir ansiedade andaram de mãos dadas.

A razão não poderia ser outra senão o fato de que, para melhorar a sobrevivência da nossa espécie, foi útil otimizar a análise e o processamento de informações para poder antecipar perigos.

Assim, ao desenvolver uma densidade maior de matéria branca, essa inteligência necessária para a sobrevivência seria promovida. Por outro lado, como o sistema nervoso possui formas mais rápidas e eficientes de se comunicar e transmitir informações, os estados de ansiedade apareceriam com maior frequência.

Essas conclusões também nos levam a uma possível explicação teórica do bloqueio emocional e comportamental que envolve uma quantidade desproporcional de ansiedade. Assim, no momento em que a ansiedade atinge níveis excessivamente elevados, ocorre a saturação das vias de comunicação nervosa e o potencial de inteligência diminui drasticamente, causando uma sensação de paralisia na pessoa.

Como vimos, ter uma mente altamente inteligente é, na maioria dos casos, um elemento desejável para muitas pessoas. Mas as moedas têm dois lados e, como vimos, um alto grau de inteligência pode trazer consigo traços de ansiedade e dificuldade de controle emocional.

A inteligência é importante, mas ser inteligente realmente é tudo?


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