Michel Houellebecq, o profeta do mal-estar

Você ainda não leu nenhuma obra de Michel Houellebecq? Descubra a seguir quem é o “profeta do mal-estar”.
Michel Houellebecq, o profeta do mal-estar
Roberto Muelas Lobato

Escrito e verificado por o psicólogo Roberto Muelas Lobato.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Michel Houellebecq é amado e odiado na mesma medida. Ainda mais agora que o escritor francês conseguiu de novo. Seu novo romance, Serotonina, parece ter profetizado as manifestações dos coletes amarelos. E não é a primeira vez que esse escritor parece adivinhar o futuro ao escrever relatos de ficção. Por esse motivo, não é surpreendente que exista quem se refira a ele como o “profeta do mal-estar”.

Os personagens distorcidos de Houellebecq, degradados até chegar aos seus instintos mais baixos, vivem em mudos distópicos. Esses mundos, como o autor declarou, surgem das preocupações da sociedade atual. Assim, nós nos deparamos com atentados por parte de islamistas, países ocidentais regidos pela sharia e, em seu último romance, estradas bloqueadas por agricultores furiosos.

Michel Houellebecq soube realizar profundas análises das problemáticas e dos medos da sociedade. De fato, é significativo que a revista Charlie Hebdo tenha lhe dedicado uma capa intitulada Les prédictions du mage Houellebecq (As previsões do mago Houellebecq) no mesmo dia em que a sede da publicação sofreu um atentado que resultou em doze mortes.

Michel Houellebecq fumando

Plataforma

Turismo sexual e islamofobia são os temas que melhor descrevem o romance intitulado Plataforma de Michel Houellebecq. Os dois personagens principais dessa obra embarcam em um negócio turístico: o turismo amigável. Esse tipo de turismo incentiva os europeus a buscar experiências sexuais na Tailândia, nos “Clubes Afrodite”. Nesse contexto, os extremistas muçulmanos cometeram um ato terrorista muito semelhante ao atentado de Bali, que aconteceu após a publicação do romance.

“Viver sem ler é perigoso, obriga a se conformar com a vida, e a pessoa pode sentir a tentação de correr riscos”.
-Michel Houellebecq-

Apesar da grande recepção desse romance, não foi a primeira obra-prima do autor. Foi com Partículas Elementares que ele se consagrou a ponto de ser denominado o “fenômeno Houellebecq”. Mas talvez seja melhor citar essa obra do que descrevê-la.

“Assim vivemos, e atualmente ter um filho não tem mais sentido para um homem. O caso das mulheres é diferente, porque continuam precisando de alguém a quem amar, coisa que nunca foi e nunca será o caso dos homens. É uma mentira fingir que os homens também precisam cuidar de um bebê, brincar com seus filhos, fazer carinho neles. Por mais que repitam isso há anos, continua sendo falso. Quando um homem se divorcia, assim que o ambiente familiar é rompido, as relações com os filhos perdem todo o seu sentido.  O filho é a armadilha que se fecha, o inimigo que precisa continuar sendo mantido e que vai sobreviver a nós”.

Submissão

França, ano 2022, Mohammed Ben Abbes, um político do partido Fraternidade Muçulmana, sai vencedor nas eleições gerais. Uma vez no cargo, Ben Abbes instaura a sharia . A principal universidade da França é privatizada e se torna uma universidade islâmica, o direito de igualdade entre homens e mulheres é suprimido, a poligamia é aprovada, o Marrocos entra na União Europeia. Dessa forma, a União Europeia pretende ser o novo “Império Romano”, islâmico, com a França como eixo central.

“Todas as sociedades têm seus pontos fracos, suas chagas. Coloque o dedo na ferida e aperte bem forte”.
-Michel Houellebecq-

Esse é o contexto em que os personagens do romance Submissão (tradução da palavra árabe islam) de Michel Houellebecq se movimentam. O romance se tornou rapidamente um best-seller e deu origem a elogios e críticas. Movimentos de extrema direita destacaram que a ficção poderia se tornar realidade, enquanto houve quem o tachasse de racista e homófono. Enfim, uma ficção que não deixa ninguém indiferente.

Capa do Charlie Hebdo com Michel Houellebecq

Serotonina

O último romance de Michel Houellebecq, Serotonina, concentra-se no descontentamento dos novos pobres. Denuncia o cinismo social dos políticos com sua “compreensão” das problemáticas sociais, enquanto condenam o extremismo dos agitadores. Na obra, estão representados o desmoronamento e a decadência de uma civilização. Em suas palavras, a civilização “morre por cansaço, por nojo de si mesma”.

“Ao contrário da música, da pintura e até do cinema, a literatura consegue absorver e digerir quantidades ilimitadas de escárnio e de humor”.
-Michel Houellebecq-

Michel Thomas, nome real do escritor, é depressivo, fumante compulsivo, cru e, sobretudo, provocador. Ele passou por várias internações em centros psiquiátricos até se consagrar como a terrível criatura das letras francesas e o implacável narrador da desesperança contemporânea.

Sua falecida mãe chegou a defini-lo como “um bastardinho estúpido e perverso” depois que ele a retratou como uma ninfomaníaca e uma prostituta em uma de suas obras. No entanto, é um dos escritores que melhor soube captar a falta de esperança da opinião pública. Por isso, seus romances são imperdíveis.


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  • Houellebecq, M. (1999). Las partículas elementales. Barcelona: Anagrama.
  • Houellebecq, M. (2002). Plataforma. Barcelona: Anagrama.
  • Houellebecq, M. (2015). Sumisión. Barcelona: Anagrama.
  • Houellebecq, M. (2019). Serotonina. Barcelona: Anagrama.

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