Neuroestética: ciência para entender a arte

A neuroestética cria uma ponte entre dois ramos fascinantes do conhecimento: a neurologia e a arte. Neste artigo, nós nos aprofundamos nessa relação, tentando entender, por exemplo, por que somos atraídos por determinados objetos ou faces.
Neuroestética: ciência para entender a arte
María Vélez

Escrito e verificado por a psicóloga María Vélez.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Durante séculos, perguntas como “O que é arte?”, “Como percebemos a beleza?” e “O que determina que algo seja bonito?” têm inspirado muitas reflexões. Há cerca de dez anos, a neuroestética surgiu para decifrá-las. Esta disciplina recente, também chamada de neuroarte, combina conhecimento e técnicas derivadas da neurociência e da arte.

Para muitos, pode parecer absurdo quantificar e medir a arte, mas o objetivo dessa corrente é encontrar os pontos comuns de todas as obras artísticas, e saber o que acontece no cérebro de uma pessoa quando recebe uma obra estética através dos sentidos, ou quando a cria.

Neuroestética: ciência para entender a arte

Qual é o sentido?

Do ponto de vista biológico, a resposta estética poderia estar baseada em um tipo especializado de atração. Essa atração especial pode surgir diante de objetos específicos, pessoas, cores, ideias, etc.

A atração ou aversão teve um papel fundamental na evolução da nossa espécie, e seus benefícios são evidentes. Por exemplo, estamos preparados para ser atraídos pelas cores dos alimentos saudáveis ​​(e não gostamos de alimentos que pareçam ruins, como frutas podres).

Também sentimos uma maior atração por certos rostos e, em geral, somos melhores em identificar pequenos gestos que nos ajudarão a ter sucesso reprodutivo.

Por outro lado, a arte depende dos sentidos e estes dependem do cérebro. Assim, não há dúvida de que, a nível cerebral, serão encontrados sinais que indicam que estamos gostando de uma determinada obra.

Como é possível?

As principais descobertas no campo da neuroestética derivam de diferentes tipos de pesquisa. Como em muitas áreas, os primeiros resultados foram observados a partir do estudo dos processos cognitivos e de pessoas com lesões cerebrais.

Estudos de neuroimagem também foram conduzidos sobre o assunto, enquanto eram feitos julgamentos positivos ou negativos sobre obras de arte. Outra abordagem foi observar as reações cerebrais a diferentes linhas artísticas (dança, música, pintura, etc.).

Esses estudos em neuroestética fazem uso, principalmente, da ressonância magnética funcional, que permite coletar informações sobre quais zonas do cérebro são ativadas durante uma tarefa, e com qual intensidade.

Em detalhes, também há estudos que usam técnicas fisiológicas, como o eletroencefalograma.

O que é possível saber?

Um estudo conduzido por uma equipe de neurologistas em 2007 teve como objetivo responder se a beleza é completamente subjetiva. Para fazer isso, mostraram imagens de esculturas da Arte Clássica do Renascimento dentro de uma máquina de ressonância magnética funcional.

Por um lado, mostravam as imagens originais e, por outro, aquelas mesmas esculturas, mas com as proporções modificadas.

Depois de vê-las, os participantes tiveram que dizer se gostaram ou não das mesmas e, posteriormente, fazer um julgamento sobre a proporção.

O que esses cientistas descobriram foi que, observando as esculturas originais, ocorria uma ativação da ínsula. Esta região está especialmente relacionada ao pensamento abstrato, à tomada de decisão e à percepção.

Quando diziam que pareciam bonitas, a parte direita da amígdala era ativada. Esta região do cérebro é crucial no processamento das emoções, especialmente da satisfação e do medo.

No entanto, segundo outro estudo, a percepção de beleza e de feiura é processada pelas mesmas áreas (córtex orbitofrontal), diferindo apenas na intensidade de ativação.

Amígdala cerebral

Nem tudo é cérebro

Apesar de tudo, como é compreensível, nem tudo está no cérebro. Na concepção de beleza e atração por certas obras artísticas, a influência da cultura é enorme. Por isso, é essencial levar em conta o contexto social e cultural ao tirar conclusões sobre o que é considerado belo.

Por exemplo, um estudo neuroestético observou que as obras que possuíam um rótulo com a localização do MoMA (Museu of Modern Art) eram percebidas pelos participantes como mais bonitas do que as demais (de localização desconhecida).

Entretanto, quaisquer que sejam os determinantes culturais, o interessante é que duas obras diferentes causarão o mesmo efeito no cérebro de pessoas diferentes.


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  • Andreu Sánchez, C. (2009). Neuroestética: cómo el cerebro humano construye la belleza. Universidad Autónoma de Barcelona.
  • Zaidel, D.W. (2015). Neuroesthetics is not just about art. Frontiers in Human Neuroscience, 9(80), 1-2.

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