Neuroplasticidade e estresse pós-traumático: o cérebro pode superar o trauma?

A plasticidade do cérebro é uma propriedade maravilhosa que, eventualmente, permite apagar os traços deixados por um evento traumático no sistema nervoso. A neurociência é uma via para superar efetivamente o estresse pós-traumático.
Neuroplasticidade e estresse pós-traumático: o cérebro pode superar o trauma?
Gema Sánchez Cuevas

Escrito e verificado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Última atualização: 13 agosto, 2020

Os traumas estão na base de muitos problemas emocionais e mentais. Não é incomum que algumas pessoas vivam suas vidas inteiras à sombra de uma experiência traumática e até que a transmitam às gerações seguintes através dos seus comportamentos. Hoje, falaremos especificamente sobre a relação entre a neuroplasticidade e o estresse pós-traumático.

A palavra “trauma” nem sempre é bem compreendida, pois algumas vezes é minimizada e outras vezes é amplificada. Em primeiro lugar, o trauma é reconhecível, em muitas ocasiões, através do estresse pós-traumático. Em segundo, nem sempre resulta em uma experiência superlativa e devastadora aos olhos do mundo.

O que torna um fato traumático é a maneira como cada pessoa o vive e os efeitos desadaptativos que deixa na sua vida. Às vezes é causado por um evento doloroso, como a morte trágica de um ente querido; outras vezes, surge de situações aparentemente não tão sérias, como ter 6 anos e ver o pai beijar uma mulher que não é a sua mãe.

Ansiedade, pesadelos e um colapso nervoso. Há uma certa quantidade de traumas que uma pessoa consegue suportar antes de ir para a rua e começar a gritar.”
-Cate Blanchett-

Neuroplasticidade e estresse pós-traumático

O trauma

Pelo que foi dito acima, é possível deduzir que o que caracteriza o trauma é o impacto  emocional que  ele causa em alguémÀs vezes é desencadeado por um evento específico, e outras vezes surge como resultado de uma cadeia de eventos dolorosos associados.

O ponto central é que isso causa um choque emocional, isto é, uma experiência de confusão absoluta. Isso ocorre porque a pessoa afetada não encontra ferramentas cognitivas ou emocionais para entender a situação e incorporá-la à sua experiência. O que existe é a estupefação e o bloqueio.

Grande parte dessa confusão vem do fato de o trauma se configurar diante de situações completamente surpreendentes. O sistema nervoso não está preparado para lidar com esse fato e, portanto, deixa de reagir de maneira organizada e coerente.

O estresse pós-traumático

Todo trauma gera um fenômeno conhecido como estresse pós-traumático. As manifestações e a intensidade do mesmo dependem da gravidade da experiência, da situação psicológica geral da pessoa no momento em que o evento ocorre, do contexto em que se desenvolveu e da recorrência da experiência traumática.

As manifestações típicas do estresse pós-traumático ocorrem em quatro áreas:

  • Reiteração do evento traumático. Através da lembrança constante, pesadelos, pressentimentos e presença de sintomas de agitação quando o evento é lembrado.
  • Evitar o evento. O assunto e tudo relacionado ao evento são evitados.
  • Mudanças no estado mental. Esquecer ou suprimir o que aconteceu ou parte do acontecido, sensação de distanciamento da realidade, apatia, pessimismo, incapacidade de ter sentimentos positivos.
  • Excitação e reatividade. Insônia, dificuldade em controlar a raiva e se concentrar, nervosismo, medo constante, hipervigilância.

A neuroplasticidade

O trauma não apenas causa efeitos mentais, mas também causa um tipo de reset ou recalibração do sistema nervoso. O cérebro de uma pessoa traumatizada muda, gerando uma ativação do sistema de alarme que se torna constante. Ele não retornará ao seu estado normal até que seja feita uma intervenção formal para consegui-lo. Às vezes isso nunca é conseguido.

Portanto, o estresse pós-traumático também deixa sua marca no cérebro. Os avanços na neurociência nos permitiram estabelecer que o cérebro é plástico, isto é, se modifica diante de estímulos específicos. Especialistas nesta área apontam que, assim como o trauma altera o cérebro, outras experiências também podem trazê-lo de volta à sua função normal.

A neuroplasticidade é a capacidade do cérebro de mudar com base na experiência. Atualmente, existem várias terapias que têm como objetivo superar o estresse pós-traumático por meio de intervenções destinadas a provocar mudanças no sistema nervoso central.

A neuroplasticidade do cérebro

Terapias para o estresse pós-traumático baseadas na neuroplasticidade

Um dos especialistas que mais estudou o assunto é o pesquisador holandês Bessel Van der Kolk. No seu entendimento, para superar o estresse pós-traumático, atividades como ioga, teatro terapêutico, terapia com neurofeedback, psicodrama experiencial e massagens terapêuticas, entre outras, são muito eficazes.

Outros especialistas, como Alain Brunet, psicólogo clínico de trauma, conduzem um tratamento que inclui quatro fases: recordação (geralmente com sedação simultânea), redação detalhada da história do trauma e leitura em voz alta do que está escrito. As sessões são realizadas uma vez por semana, durante cinco semanas.

Surpreendentemente, muitas pessoas sofrem traumas e não percebem, ou não querem perceber, porque ainda se sentem sobrecarregadas. Essa experiência traumática ocorre devido às manifestações do estresse pós-traumático. Agora sabemos que você não precisa viver para sempre com essa marca do estresse pós-traumático na sua mente, e pode contar com a ajuda da neuroplasticidade para sair desse labirinto.


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  • Carvajal, C. (2002). Trastorno por estrés postraumático: aspectos clínicos. Revista chilena de neuro-psiquiatría, 40, 20-34.


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