Nidoterapia: mudar de ambiente para curar

Embora a influência do ambiente sempre tenha sido levada em consideração nos transtornos psicológicos, a nidoterapia é, até agora, a única intervenção ambiental sistemática que pode ser monitorada ao longo do tempo para transtornos mentais persistentes.
Nidoterapia: mudar de ambiente para curar
Cristina Roda Rivera

Escrito e verificado por a psicóloga Cristina Roda Rivera.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

A nidoterapia é um método terapêutico que tem como objetivo principal modificar o ambiente das pessoas com esquizofrenia e outros transtornos mentais graves.

É aplicada em combinação ou em paralelo com outras intervenções. Em vez de se focar em intervenções diretas apenas com o paciente, o objetivo é ajudá-lo a identificar a necessidade de mudança e lutar pelas mudanças no ambiente.

O propósito da nidoterapia não é mudar a pessoa, e sim criar um melhor “ajuste” entre o meio ambiente e o indivíduo. Como resultado, o indivíduo pode melhorar, mas este não é o resultado direto do tratamento com o paciente, e sim da criação de uma relação mais harmoniosa com o ambiente.

Se os fatores ambientais ou o ambiente em que uma pessoa vive tiverem um peso significativo no aparecimento de doenças e recaídas, então os nidoterapeutas e as pessoas com esquizofrenia podem identificar esses fatores juntos para tentar reduzir o número e a gravidade da recaída na doença.

Mulher enfrentando esquizofrenia

Bases teóricas da nidoterapia

Essa terapia foi criada pelo psiquiatra Peter Tyrer. Em seus 40 anos de profissão, Tyrer publicou 38 livros, foi editor do British Journal of Psychiatry e desenvolveu a nidoterapia como uma forma de intervenção ambiental. Esta tem uma base teórica ligada ao conceito darwiniano de evolução.

A adaptação de um organismo ao seu meio garante sua prosperidade. Assim, se conseguirmos que o meio se adapte ao organismo de modo similar, obteremos mudanças positivas no comportamento.

Embora as condições ambientais sempre sejam levadas em consideração na avaliação e no tratamento de pessoas com transtornos mentais, raramente é seguida uma estratégia coerente de intervenção.

Dar uma importância primordial ao ambiente possibilita mudanças que não seriam alcançadas de outra maneira. Os problemas ambientais se transformam, frequentemente, em desencadeadores persistentes de recaídas na doença mental.

O sucesso nas intervenções ambientais requer uma consciência sensível e uma habilidade especial para balancear as necessidades do paciente com as dos outros.

Princípios da nidoterapia

Os principais princípios da nidoterapia seriam:

  • Colocação colateral: considerar o ambiente a partir do ponto de vista do paciente.
  • Formulação de objetivos ambientais realistas.
  • Estabelecimento de objetivos claros para a mudança ambiental.
  • Melhoria da função social: concentração na função mais do que nos sintomas.
  • Adaptação e controle pessoal: permitir que o paciente participe de modo apropriado e assuma a responsabilidade pelo programa.
  • Integração mais ampla do meio e mediação.
  • Envolver os outros, incluindo mediadores independentes, na resolução de aspectos difíceis da mudança ambiental.

Sincronização com outras terapias e agentes de mudança

A nidoterapia pode funcionar de maneira paralela – e acumulativa em efeitos – à aplicação de terapias existentes, mas, ao mesmo tempo, deve ser independente delas.

Ajudar o paciente a se focar nas mudanças ambientais pode melhorar a adaptação ao seu meio. Isso pode se manifestar em uma melhor adesão em relação a outros tratamentos.

Os objetivos propostos durante a nidoterapia costumam envolver muitos membros da equipe: assistentes sociais, psicólogos, terapeutas ocupacionais, terapeutas criativos ou agentes comunitários.

Duração e fases da nidoterapia

A intervenção formal costuma durar, de acordo com a experiência do autor, 10 sessões. A nidoterapia adota um modelo de cinco fases.

Fase I. Identificação dos limites da nidoterapia

A nidoterapia costuma ser implementada depois de o paciente ter sido tratado amplamente e ter obtido todos os ganhos possíveis com as intervenções disponíveis. Outras vezes, costuma ser implementada depois de uma longa batalha entre os terapeutas para realizar intervenções, enquanto os pacientes resistem a elas.

Se o terapeuta é capaz de definir ao paciente quais fenômenos são provocados pelo transtorno e quais fenômenos são provocados pelo ambiente, ele diminui a possibilidade de conflito e aumenta a colaboração com outros tipos de intervenções.

Fase II. Análise ambiental completa

Todos os desejos do paciente devem ser anotados, inclusive se forem extravagantes ou pouco realizáveis.

A análise ambiental do terapeuta segue a do paciente. Ela é feita com o paciente ou independentemente dele, e é pouco provável que seja semelhante à do paciente. Uma vez completa, deve-se chegar a um acordo sobre os objetivos a serem alcançados e, se existirem diferenças, recorrer ao árbitro/mediador.

Fase III. Implementação de uma trajetória comum

A fase II demora muitas horas para ser realizada, mas, quando bem sucedida, permite que as próximas fases sejam negociadas rapidamente. Os diferentes elementos dessa trajetória comum são identificados e planejados em cada intervenção.

Muitas dessas mudanças devem ser cuidadosamente pensadas e têm que ocorrer de forma gradativa. É importante estabelecer prazos de tempo apropriados para essas mudanças com o objetivo de evitar decepções no futuro.

Fase IV. Monitoramento do progresso

Embora a aquisição dos objetivos possa tomar um tempo considerável, eles devem se manter claros, com transparência nos procedimentos para que possam ser conquistados.

A retroalimentação sobre os progressos adquiridos é importante. Por isso, propõe-se como tempo razoável uma avaliação a cada três meses. Apesar de tudo, é altamente improvável que todos os objetivos sejam satisfatoriamente conquistados.

Fase V. Reposicionando a nidoterapia

Às vezes, objetivos que pareciam ser apropriados acabam não sendo com o tempo. Quando isso acontece, é necessário voltar e traçar uma nova trajetória com diferentes objetivos, geralmente menos ambiciosos, mas às vezes ainda mais.

Nessa tarefa, o papel do paciente é muito importante, assim como uma aceitação honesta daquilo que foi decidido.

Sessão de terapia

Conclusões

É preciso pesquisar mais para preencher os vazios do conhecimento sobre a eficácia, os benefícios e os possíveis riscos da nidoterapia. Enquanto isso, as pessoas que têm problemas de saúde mental, profissionais da saúde, gestores e formuladores de políticas públicas deveriam considerar essa nova terapia como uma abordagem experimental.

A nidoterapia é um processo complexo que ainda está em desenvolvimento. Até agora, é a única intervenção ambiental sistemática e com acompanhamento ao longo do tempo para transtornos mentais persistentes.

Os terapeutas devem estar treinados para aceitar os pacientes pelo que são, e não pelo que gostariam que fossem.


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  • Tyrer, P., Sensky, T., & Mitchard S (2003). The principles of nidotherapy in the treatment of persistent mental and personality disorders. Psychotherapy and Psychosomatics, 72, 350-356

Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.