O "debriefing" psicológico, é realmente útil?
O debriefing psicológico é uma estratégia com aparente potencial terapêutico; é frequentemente usado para a prevenção de entidades clínicas relacionadas ao estresse. Alguns autores o consideram uma forma de terapia. No entanto, o método (chamado de ‘interrogatório’ em inglês) é mais uma estratégia de apoio à crise do que um protocolo consolidado de tratamento psicológico.
Essa estratégia não é isenta de críticas porque, como veremos adiante, ela tem o poder de realimentar o estresse e aumentar o trauma em pessoas que sofreram eventos angustiantes. A seguir, vamos explicar a técnica que nasceu nos anos 70, pela mão de JT Mitchel, sob o nome de ” Critical Incident Stress Debriefing, CISD”.
“Os dados disponíveis fornecem pistas sobre possíveis efeitos nocivos, como retraumatização ou o risco de acesso tardio a outras intervenções.”
-Eduardo Fonseca Pedrero-
O que é debriefing psicológico?
O objetivo dessa modalidade é diminuir as consequências psicológicas de eventos potencialmente traumáticos. É estruturado, ou seja, contempla uma série de fases bem definidas que veremos a seguir (Fonseca-Pedrero et al, 2021):
- Introdução. O grupo recebe informações sobre como funciona o debriefing, promovendo o diálogo ou a narração de aspectos do evento. Após a apresentação de cada componente, avaliam-se as expectativas que as pessoas têm sobre esta estratégia, de forma a ajustá-las caso sejam elevadas.
- Narrativa de eventos. Para isso, são feitas diferentes perguntas aos participantes, como “o que aconteceu?”, “como você vivenciou isso?”, “como isso aconteceu” ou “como você se sentiu?”.
- Compartilhar pensamentos e reações em torno do evento traumático. O objetivo desta fase é duplo, pois procura promover a compreensão das reações ao evento, ao mesmo tempo em que tenta facilitar a rotulação das emoções que surgiram como resultado.
- Analise as reações emocionais. Nesta fase, busca-se a ventilação emocional do medo, da raiva e da frustração, com o objetivo de que os membros do grupo se apoiem e confortem uns aos outros.
- Normalizar. Busca validar as reações, tanto emocionais quanto comportamentais, ao evento estressante.
- Planejar o futuro e encarar o presente. Pretende-se que, após a intervenção, as pessoas do grupo terapêutico possam antecipar os sintomas que irão ocorrer nos próximos dias, como a insónia ou memórias intrusivas.
- Dissolução do grupo. Nesta fase, os participantes são convidados a fazer quantas perguntas forem necessárias. Em seguida, são informados sobre outros recursos assistenciais e profissionais a que recorrer caso julguem necessário, como o hospital.
Entre os objetivos perseguidos por meio do debriefing psicológico está o alívio precoce do estresse pós-evento. Procura também promover a identificação, rotulação e descrição das experiências emocionais vividas e das reações e pensamentos que se têm. No entanto, apesar das boas intenções dessa estratégia, ela pode ser prejudicial se mal utilizada.
“As pessoas expostas a um evento traumático devem receber terapia psicológica como primeira medida, mesmo antes da medicação ou do debriefing”.
-Eduardo Fonseca-Pedrero-
Quais são as críticas?
Podemos pensar que a vítima de um assalto, um ataque, um desastre natural (em suma, um evento potencialmente traumático ) encontraria alívio “desabafando verbalmente suas emoções”. Mas pode ser contraproducente, porque embora a “desabafo verbal” do que aconteceu, com o objetivo de prevenir o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), seja útil por 24 a 72 horas após o evento, se for feito muito em breve pode causar o efeito oposto. Há evidências científicas para apoiá-lo.
Uma memória leva em média cerca de 6 horas para se consolidar na memória. Para que ocorra a consolidação, o ideal é estar relaxado e, se possível, dormindo. Para prevenir o TEPT, é importante que a pessoa permaneça ocupada e ativa, em vez de relaxada e dormindo por seis horas após o evento.
O objetivo é manter a vítima longe da “janela de consolidação de memória”. Nesse sentido, recomenda-se, mesmo com alguma prudência, abster-se da prescrição de drogas hipnóticas durante a primeira noite após o trauma.
Fazer uso do debriefing antes de 24 horas após o evento pode ter um efeito retraumatizante. Isso porque poderia reforçar a consolidação da memória do evento na memória. Em outras palavras, é importante “dar tempo para a pessoa digerir o que aconteceu”.
“Os dados disponíveis fornecem pistas sobre possíveis efeitos nocivos, como retraumatização ou o risco de acesso tardio a outras intervenções.”
-Eduardo Fonseca-Pedrero-
O debriefing psicológico é realmente útil?
O debriefing psicológico pode ser útil quando utilizado, dentro de uma estratégia terapêutica grupal, entre 72 horas e 14 dias após o evento. Além disso, é importante permitir que a vítima escolha se quer “desabafar” suas emoções e lembranças ou se prefere ficar em silêncio.
Como vimos, o debriefing psicológico tem o potencial de ter efeitos traumáticos em pessoas que foram submetidas a eventos estressantes. Apesar de esta estratégia ter nascido com as melhores intenções, a investigação em neurociências e os resultados de eficácia e eficácia tendem a desaconselhá-la (Fonseca-Pedrero et al, 2021).
“De acordo com os níveis de evidência estabelecidos em diferentes diretrizes, por exemplo, o NICE, não deveria ser uma prática clínica de rotina, devido à sua falta de eficácia e eficácia.”
-Eduardo Fonseca-Pedrero-
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- Fonseca Pedrero, E. (2021). Manual de tratamientos psicológicos: Adultos (Psicología) (1.a ed.). Ediciones Pirámide. https://es.slideshare.net/SilviaValdiviaVasco1/519256960manualdetratamientospsicologicosadultosbyeduardofonsecapedreropdf
- Jiffry, A. J., Cho, C. S., Schmidt, A. R., Pham, P. K., & Nager, A. L. (2023). A Mixed Methods Needs Assessment for a Debriefing Intervention Following Critical Cases. Academic Pediatrics, 23(1), 85-92. https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S1876285922002522
- Olson, D. (2022). Debriefing. In: Gothic War on Terror. Palgrave Gothic. Palgrave Macmillan, Cham. https://doi.org/10.1007/978-3-031-17016-4_16