O que aconteceria se tirássemos o celular dos jovens?

O que aconteceria se tirássemos o celular dos jovens entre 15 e 24 anos por uma semana? Várias universidades espanholas realizaram essa experiência. Saiba abaixo o que aconteceu.
O que aconteceria se tirássemos o celular dos jovens?
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 21 outubro, 2022

Em média, os jovens passam cerca de cinco horas por dia conectados aos seus celulares. Quatro delas são dedicados às redes sociais. O favorito deles é o TikTok, um aplicativo que eles não usam apenas como meio de entretenimento e interação. É também o canal que eles mais gostam para se manterem informados.

Chegamos a um ponto em que as novas tecnologias não são mais tão novas, pois temos gerações inteiras que nasceram e cresceram com elas. Os nativos digitais entram no mundo por meio de telefones celulares e até desenvolvem suas identidades atraves das telas. Aprendem, se relacionam e se divertem muito mais nesse universo de algoritmos do que no mundo real.

Enquanto isso, aqueles de nós que conheciam essa sociedade sem internet ou Tinder alertam nossos adolescentes sobre os perigos decorrentes de seus abusos. Mal conseguimos fazer com que regulamentem seu uso e tomem cuidado com o que expõem de si mesmos enquanto estão online. Sabemos que esses recursos são o futuro e que facilitam a vida de todos nós. No entanto, é difícil ignorar o custo dos celulares para a saúde mental de meninos e meninas.

Um estudo da Universidade de Toronto detectou um aumento significativo da angústia mental nas últimas décadas. Por essa e outras razões, precisamos de uma educação explícita sobre como usar a tecnologia e as mídias sociais. Além disso, se queremos proteger os mais fracos de seus efeitos mais danosos, devemos parar de apontá-lo como um campo minado de perigos; eles estão vendo dia a dia que também possui inúmeras vantagens.

A tecnologia mais cotidiana, e a que mais abusamos, é o celular. Por qual motivo? E se tentássemos restringir seus dispositivos por uma semana? Várias universidades espanholas o realizaram e este foi o resultado.

Para uma parte dos adolescentes, não ter celular foi um alívio. A relação com a família melhorou e eles passaram a ter mais tempo para atividades como a leitura.

Meninos representando as coisas que os adolescentes devem saber sobre as mídias sociais
Os adolescentes passam boa parte do tempo em redes sociais como o TikTok.

E se tirássemos o celular dos jovens por uma semana? Isso é o que aconteceu

A Universidade de Málaga, em colaboração com a Universidade Complutense de Madrid e a Universidade Miguel Hernández de Elche, realizou uma experiência interessante. Essa é uma investigação pioneira em toda a Europa com 97 voluntários entre 15 e 24 anos. O objetivo foi conhecer o real impacto do uso de celulares e redes sociais entre os jovens.

Para isso, foi realizado um acompanhamento nesse grupo por três semanas. Na primeira semana, eles podiam usar seus celulares o quanto quisessem. No segundo, eles tiveram que desconectar completamente seus dispositivos. Foram sete dias sem conexão com a internet. Na última parte do experimento, eles já podiam usá-los normalmente.

Os responsáveis por esse trabalho de pesquisa procuravam várias finalidades. Um dos objetivos foi aumentar o nível de conscientização sobre as consequências do uso abusivo de celulares. Outra, não menos importante, foi permitir que eles refletissem sobre as fontes que utilizam para obter informações. O TikTok, por exemplo, não é exatamente uma fonte confiável.

Quais foram os resultados? Isso ajudou esse grupo de quase 100 jovens a ficar completamente sem Internet durante esse período de tempo? Nós o analisamos.

“Tenho tido mais ansiedade do que quando tento parar de fumar.” Isso é o que muitos jovens disseram quando não puderam usar o celular por 7 dias.

Ficar sem celular gerou alta ansiedade

O que aconteceria se tirássemos o celular dos jovens por uma semana? Bem, muitos adultos se fizeram essa mesma pergunta. A resposta é interessante. O que eles sentem é ansiedade e insegurança, já que a ideia de não conseguir se conectar às redes sociais ou se comunicar uns com os outros os deixa desconfortáveis.

O fato de que seu ambiente pode ter a tecnologia que eles desejam aumenta essa sensação. As experiências que descreveram foram semelhantes às de qualquer adicto com síndrome de abstinência. Alguns até explicaram que precisavam ter o celular por perto, mesmo sabendo que não tinham conexão.

Desconectar-se da tecnologia permitiu que eles se conectassem com a família e tivessem mais tempo

Houve algo que esse grupo de meninos e meninas tomou conhecimento. Vive-se melhor sem um celular, mas é impossível ficar sem ele. Essa ideia é contraditória e até irônica, mas é um fato evidente que não só os mais jovens percebem. A população que conheceu aquela época em que o celular ainda não existia, por exemplo, também não pode abrir mão dessa tecnologia.

Dessa forma, os benefícios encontrados por esse grupo que fez parte da investigação foram os seguintes:

  • Puderam passar mais tempo com a família. As discussões diminuíram e não havia mais motivo para brigar com os pais sobre o tempo que passavam conectados. Além disso, eles puderam assistir séries com os pais sem se distrair com as notificações.
  • Foram capazes de terminar suas tarefas acadêmicas em menos tempo.
  • Gostavam de ler, podendo ler livros mais rapidamente, concentrados e relaxados.
  • Os jovens admitiram que esse tempo de abstinência permitiu-lhes perceber a sua dependência dos celulares. E não só isso. Eles também estavam plenamente conscientes de como seus dispositivos condicionam suas vidas.

Por outro lado, se tirássemos o celular dos jovens, algo óbvio também aconteceria. Suas relações sociais com seus pares seriam prejudicadas. Afinal, não podemos esquecer que seus universos sociais são tecidos pela interação diária online. Se isso falhar, se faltar internet, esses laços deixam de ser fortalecidos e eles experimentam grande ansiedade e desconforto.

Criança lendo sobre o que aconteceria se tirássemos o celular dos jovens
Crianças e adolescentes devem aprender a racionalizar o uso de telas desde cedo.

A necessidade de uma alfabetização midiática

A idade recomendada para começar a usar o celular é 16 anos. No entanto, as crianças de hoje os usam quase desde que vieram ao mundo. Aos 3, 4 e 5 anos já pegam os aparelhos dos pais e aos 10 já pedem o primeiro celular. Isso nos obriga a educá-los em seu uso desde que são muito jovens.

Assim como os ensinamos a ler, a atravessar a rua ou uma língua estrangeira, também temos que ensiná-los a usar bem o telefone. Uma educação que começa pelo exemplo.

A ideia é que sejam eles que, a partir de uma educação correta e uso inteligente da tecnologia, se autorregulem nesse uso. O mundo vai além de uma tela, nem tudo que aparece nela é verdade e a vida pode ser incrivelmente enriquecedora se os dois mundos forem combinados: o real e o digital.

Não vamos ficar sujeitos a apenas um, aquele que nos domina com suas notificações e rolagem infinita.


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