O que é o amor?

O que é o amor?
Gema Sánchez Cuevas

Escrito e verificado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Última atualização: 29 dezembro, 2021

O que é o amor? Como definir algo tão complexo, contraditório, fascinante e que ao mesmo tempo nos faz sentir tão vivos? Ele não pode ser observado no microscópio, há quem o defina em termos químicos e quem o faça através da poesia.

O amor é inspiração, às vezes até sofrimento, e todos querem vivê-lo. A maioria de nós já o sentiu em algum momento, mas até hoje não conseguimos explicá-lo de forma definitiva.

Mahatma Gandhi dizia que “onde há amor, há vida”. Esta é sem dúvida uma das definições mais simples (mas realistas) dessa dimensão maravilhosa e ao mesmo tempo misteriosa. Essa é emoção que nutre o bebê que acaba de nascer, que nos ajuda a crescer, que nos faz sentir que somos parte de um grupo social. O amor, por assim dizer, nos coloca no mundo…

O amor nos escolhe

Canções de amor. Todos nós temos as nossas favoritas, e elas tentam explicar o que é esse sentimento, o que ele implica e, acima de tudo, o que ele produz: felicidade, sofrimento, inspiração, paixão… Essas letras falam sobre o amor não correspondido, e até mesmo sobre as suas tipologias: amor interessado, amor romântico, amor eterno, amor que nasce da amizade…

“O amor é uma coisa que queima
Que forma um anel de fogo… “

-Johnny Cash-

Se você já esteve ou está apaixonado sabe muito bem como é, mesmo que não consiga explicar em uma definição que englobe todas as nuances. Assim, se existe algo que a maioria de nós sabe, é que nem sempre somos livres para nos apaixonar por quem realmente queremos. Em outras palavras: o amor nos escolhe. E essa escolha pode ser a mais adequada ou, ao contrário, nos trazer mais sofrimento que felicidade.

Por que temos tão pouco controle nas questões afetivas? por que não podemos ser mais objetivos, mais racionais? O que está por trás do fenômeno da atração?

Mulher de olhos fechados pensando no amor.

O que é o amor? O que a ciência nos diz?

No amor existe um componente biológico determinado, nós sabemos disso. Todos nós já ouvimos falar da tempestade química composta por neurotransmissores como dopamina, serotonina, oxitocina… No entanto, não podemos ignorar outros tipos de influências, neste caso externas. Nos referimos sobre a nossa cultura e o peso da sociedade como mecanismo de influência.

De acordo com a ciência, quando estamos apaixonados as regiões cerebrais relacionadas à recompensa e à motivação como o hipocampo, o hipotálamo e o córtex cingulado anterior são ativadas. Além disso, a oxitocina e a vasopressina, produzidas sob o efeito da paixão, estimulam a liberação de dopamina e geram sensações agradáveis ​​associadas à pessoa que amamos, sua presença e suas memórias.

Esse coquetel neuroquímico, que nos deixa tão felizes quando começamos um relacionamento, é também a causa do desconforto emocional que surge após o término.

O amor pela perspectiva da psicologia

A partir de um ponto de vista puramente psicológico, o amor é uma experiência afetiva composta por um conjunto de variáveis ​​muito específicas: a necessidade de se relacionar com alguém, de intimidade, de paixão e sexualidade… Todos esses princípios estão previstos na teoria triangular do amor de Stenberg.

Em 1986 o professor Robert Stenberg da Universidade de Yale ofereceu uma primeira definição psicológica em seu livro The Triangular Theory of Love (A Teoria Triangular do Amor em tradução livre), sobre as dinâmicas que constroem um relacionamento amoroso. Sobre o que, em essência, busca e define o amor.

  • Intimidade: são os sentimentos que promovem a proximidade, a conexão e a construção de vínculos. É a aceitação do outro e o sentimento de confiança e carinho que estabelecemos com essa pessoa.
  • Paixão: trata-se do desejo, mas não se refere apenas ao desejo físico e sexual, com todo o componente neuroquímico que dele deriva: a paixão também é expressa pela admiração pelo outro, através da implicação psicológica na qual surge o afeto mais profundo e a necessidade de estar perto da pessoa amada.
  • Compromisso: é a decisão expressa e autêntica de construir um projeto com a outra pessoa. É ser fiel a ela e saber construir um presente e um futuro no qual as atividades se desenvolvem em comum. É criar um “nós”, um espaço próprio onde a relação se consolida.

Essas três dimensões podem formar diferentes combinações que, segundo Sternberg, dão origem a sete estilos de relacionamento afetivo:

  • Carinho: o carinho geralmente está presente nas relações de amizade. Ele implica intimidade sem paixão, com uma forma diferente de compromisso.
  • Paixão: se refere aos relacionamentos temporários e com pouco significado. Geralmente existe sentimento, mas não intimidade ou compromisso.
  • Amor vazio: pode se tratar de relacionamentos construídos a partir de interesse e egoísmo. Nesse tipo de relação, geralmente existe um compromisso sem paixão ou intimidade.
  • Amor romântico: são os casais em que existe uma forte presença de paixão e intimidade, mas mesmo depois de algum tempo não acontece um compromisso.
  • Amor sociável: costuma aparecer em relacionamentos muito longos (pois existe intimidade e compromisso), mas a paixão parece ter se extinguido.
  • Amor tolo: no amor tolo existe paixão e compromisso, mas não intimidade, ou seja, é possível que as duas pessoas que se gostem e queiram ficar juntas, mas elas realmente não têm muito em comum para construir afinidades.
  • Amor consumado: é o amor no qual os três elementos se combinam: intimidade, paixão e compromisso.

Helen Fisher e a neurobiologia do amor

Helen Fisher é uma conhecida antropóloga e bióloga que estuda o comportamento humano na Universidade Rutgers. Suas obras são conhecidas em todo o mundo por trazerem uma visão alternativa e igualmente interessante sobre o que é o amor. A seguir apresentamos um resumo das ideias e reflexões mais importantes desta autora:

  • O amor é um poderoso sistema de motivação, um impulso básico que nos permite satisfazer a uma série de necessidades.
  • A principal necessidade é de nos sentirmos amados. Esse desejo é mais intenso do que a própria sexualidade. Desta forma, Helen Fisher explica que esse desejo vital do ser humano constitui o que conhecemos como “amor romântico”. Trata-se de uma série de dinâmicas emocionais caracterizadas pela motivação, pelo desejo de se relacionar e compartilhar a vida, os projetos, de ser parte do projeto de alguém.
  • O desejo sexual é outro desses motivadores. Trata-se da busca do prazer, da autossatisfação…
  • O terceiro objetivo do amor a partir dessa perspectiva neurobiológica é o apego. O apego como uma aspiração para obter calma e segurança ao lado de alguém, como a evolução do amor romântico para alcançar a estabilidade e evoluir como casal.

Amor, preconceitos e implicações sociais

Mas o que acontece se você tiver quarenta anos e ainda estiver em busca de um ideal de amor puro? Absolutamente nada. Com certeza dirão que você é iludido, zombarão de você ou dirão que você deveria ser mais realista. Mas pare para refletir por um momento: essa é a sua realidade. É um grande erro negar o que você é ou o que sente por causa dos julgamentos dos outros.

Historicamente tem havido uma tendência em catalogar como devemos nos relacionar com o sexo oposto. Se dizemos “sexo oposto” é porque o coletivo LGBT, infelizmente, ainda é ignorado ou tratado como um tabu quando se fala de amor.

Que implicação isso tem? Que socialmente continuamos a cometer os mesmos erros. A sociedade continua estabelecendo qual é a maneira correta de amar e desejar, e com isso eliminamos o amor em todas as suas maneiras, formas e expressões. Negamos por exemplo o fato de que pessoas com deficiência também têm suas necessidades emocionais e sexuais. Negamos (ou não queremos ver) que o amor e a sexualidade também estão presentes em pessoas idosas.

O verdadeiro significado do amor

Acontece com todos nós. Em nenhuma mídia a silhueta de duas mulheres lésbicas, um casal formado por um homem branco e uma mulher negra, um gari e uma advogada ou uma jovem escritora e um homem mais velho aparecem como “o casal perfeito”.

Amar é o maior ato de coragem.

Recentemente apareceu na mídia um homem com esclerose múltipla que viu o seu bebê nascer deitado na cama. Isso emociona a todos nós, mas poucos teríamos a força necessária para lutar ao lado dele no dia a dia.

Vivemos na cultura do esforço mínimo e das aparências. Somos grandes egoístas.

O amor exige uma grande dedicação, mas sem perder a identidade. Amar é compartilhar, aprender, descobrir… As pessoas costumam dizer a quem terminou um relacionamento que tem muitas outras pessoas no mundo; até poderíamos acrescentar algo mais, existem muitos outros mundos. O amor não entende idiomas, cores, ideologias, idades ou sexo. Não seja a pessoa que afasta este sentimento por causa de preconceitos, medos ou mitos escondidos em frases feitas de amor.

Então, se você ainda não encontrou o “seu príncipe encantado” ou “o sapo não virou príncipe”, você pensa que “não existe ninguém que entenda as mulheres” ou que “nós somos muito complicadas”. Mas você pode apenas estar adotando uma perspectiva errada. Abra a sua mente e viva, o amor pode te encontrar no lugar menos esperado.

O que NÃO é amor?

Como já vimos, definir o amor é uma tarefa complexa. Isso nos leva a confundi-lo com outros sentimentos e expressões que definitivamente não correspondem ao amor verdadeiro. Por isso, a seguir apresentamos uma lista de comportamentos que você deve evitar em todos os seus relacionamentos (seja como casal, amigos, entre pais e filhos, etc.):

Dependência emocional

Acontece quando um dos membros do relacionamento tem uma forte necessidade de estar em contato contínuo com o outro. Desta forma, seu bem-estar e felicidade dependem apenas da presença da outra pessoa. Além disso, eles estão constantemente com medo de que o vínculo acabe.

Ciúmes

Existe uma crença popular de que se o seu parceiro não tem ciúme de você, ele não te ama. Isto é falso. O ciúme é produto da sua própria insegurança, de não se sentir suficiente para a outra pessoa. Isso geralmente provoca tentativas de controlar o outro, o que acaba afetando a qualidade do vínculo.

Sentimento de posse

Também é comum pensar que a pessoa que “amamos” nos pertence. Dessa forma, são gerados comportamentos de controle em relação ao outro, além de permitir que ele controle você. Isso definitivamente não é amor.

Manipulação

Essa é outra maneira de exercer controle sobre o outro. Nesse caso, a chantagem emocional é usada para obter uma resposta esperada no outro. Lembre-se de que o amor implica em aceitar a sua própria liberdade e a do outro.

As imagens de primorosa delicadeza e carinho são cortesia de Luiso García

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