O que é o efeito Kappa?

Nem tudo o que vemos é real. Nossa mente e nossos sentidos podem nos enganar. O efeito Kappa é um exemplo disso e está relacionado à percepção da passagem do tempo e da velocidade.
O que é o efeito Kappa?

Última atualização: 29 julho, 2022

Como processamos, percebemos e interpretamos os estímulos que nos rodeiam? A realidade é que cometemos erros, e isso tem sido demonstrado pela psicologia básica, um ramo da psicologia que visa estudar os processos psicológicos e comportamentais mais básicos do ser humano. Entre eles encontramos o estudo da percepção, emoção, sensação, aprendizagem… E dentro deste estudo, encontramos um fenômeno perceptivo muito curioso: o efeito Kappa.

Esse efeito tem a ver com nosso “erro perceptivo” ao interpretar que certos estímulos aparecem temporariamente mais rápido ou mais lento do que pensamos, dependendo da distância física entre estímulo e estímulo.

Para melhor compreender este conceito e também conhecer algumas teorias explicativas do efeito Kappa e paradigmas através dos quais foi estudado, recomendamos que você continue lendo esse artigo.

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O que é o efeito Kappa?

O efeito Kappa é um fenômeno perceptivo que podemos enquadrar na psicologia básica. Assim, está relacionado com a nossa percepção da passagem do tempo e também com a velocidade. Mas em que exatamente consiste?

O efeito Kappa, também chamado de “dilatação do tempo perceptual”, é uma ilusão temporária de percepção. Aparece quando as pessoas observam uma série de estímulos sensoriais apresentados sequencialmente e em diferentes locais e, por fim, julgam quanto tempo se passou entre o estímulo e o estímulo.

O que acontece com esse fenômeno? Ao perceber uma sequência de estímulos consecutivos (sequenciais), o tempo decorrido entre os diferentes estímulos sucessivos tende a ser superestimado quando a distância entre eles é suficientemente grande.

Em contraste, quando a distância é pequena o suficiente, as pessoas que manifestam o efeito Kappa tendem a subestimar o tempo decorrido entre estímulo e estímulo.

Em que modalidade sensorial ele aparece?

O Kappa aparece em diferentes modalidades sensoriais, especificamente em três: a modalidade auditiva (por exemplo, usando tons diferentes), a visual (com estímulos visuais, como flashes de luz) e a tátil (por exemplo, através de toques na pele) Como se manifesta nas duas primeiras? Vamos ver isso.

Modalidade visual

Os estudos que tentaram demonstrar o efeito Kappa foram, essencialmente, por meio de paradigmas com estímulos visuais.

Um exemplo deles é o seguinte: vamos imaginar três fontes de luz (A, B e C, respectivamente). Essas fontes iluminam-se sucessivamente no escuro. Você pode imaginar isso?

Bem, imagine que o intervalo de iluminação entre estímulo e estímulo seja o mesmo para todos. Agora imagine que colocamos essas três fontes de luz (A, B e C) em posições diferentes (por exemplo: A e B mais próximos um do outro do que B e C).

Ao fazer isso, o que acontecerá se o efeito Kappa ocorrer? Que a pessoa vai perceber que o intervalo de tempo entre o flash vindo de A e o vindo de B (as fontes mais próximas) é menor que o intervalo de tempo entre os flashes provenientes de B e C (as fontes mais distantes uma da outra).

Através do efeito Kappa, o observador perceberá que os flashes entre A e B são mais rápidos do que entre B e C, pois A e B estão mais próximos um do outro do que B e C.

Modalidade auditiva

O efeito Kappa foi comprovado na modalidade auditiva. De que forma? Através de diferentes paradigmas experimentais (embora não em todos eles).

Por exemplo, em um experimento de Roy et al. (2011), justamente o efeito oposto foi observado ; que ao aumentar a distância entre as diferentes fontes sonoras, os intervalos de tempo que a pessoa percebia (entre a fonte e a fonte) eram mais curtos.

Assim, os observadores perceberam um intervalo de tempo menor em face de estímulos cada vez mais espaçados fisicamente.

Por que o efeito Kappa aparece?

Vimos em que consiste o efeito Kappa, mas por que ele aparece? Algumas teorias explicativas dessa ilusão perceptiva foram desenvolvidas. Escolhemos dois das mais relevantes:

Teoria da expectativa de velocidade constante

Segundo essa teoria, o cérebro “registrou” a seguinte expectativa: “a velocidade dos estímulos é sempre constante “. Quando falamos em velocidade, nos referimos ao tempo que decorre entre o aparecimento do estímulo 1 (por exemplo, um tom, um flash…) e o estímulo 2.

Assim, seguindo essa teoria explicativa do efeito Kappa, as pessoas cometeriam erros de percepção ao observar paradigmas como os mencionados.

Teoria de expectativa de baixa velocidade

Esta segunda teoria é baseada no modelo perceptivo Bayesiano e visa explicar o efeito Kappa em estímulos táteis.

A teoria sustenta que os circuitos cerebrais codificam a seguinte expectativa: “os estímulos táteis movem-se lentamente.” Assim, tendo essa expectativa, a pessoa superestima o tempo decorrido entre o estímulo e o estímulo, e assim se produz o efeito Kappa.

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O que vemos nem sempre é real

Como vemos, nossa percepção das coisas nem sempre é exata, perfeita ou ” real “. E é que nosso sistema perceptivo não é infalível, e muitas vezes fatores externos, ou a própria mente, podem falhar.

A psicologia básica, como vimos, trata de estudar o porquê desse e de outros fenômenos, para continuar lançando um pouco de luz sobre a mente humana, que é tão incrível quanto misteriosa.

“A mente humana é moldada de tal maneira que é muito mais suscetível à falsidade do que à verdade.”

-Erasmo de Rotterdam-


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  • Henry, M.J. & McAuley, J.D. (2009). Evaluación de un modelo de velocidad de tono imputado del efecto auditivo kappa. Revista de psicología experimental: percepción y rendimiento humanos. 35 (2): 551–64.
  • Masuda, T., Kimura, A., Dan, I. & Wada, Y. (2011). Efectos del contexto ambiental sobre el sesgo de percepción temporal en el movimiento aparente. Vision Research 51, 1728-1740.
  • Morris, Ch. y Maisto, A. (2013). Introducción a la Psicología. 13va. edición. México, Pearson Prentice Hall.

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