O que levou Andreas Lubitz a jogar o Airbus A320 contra os Alpes?

O que levou Andreas Lubitz a jogar o Airbus A320 contra os Alpes?
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Em 24 de março de 2015, o mundo inteiro ficou atônito diante da queda de um avião Airbus A230 nos Alpes. A bordo, 150 pessoas e 5 cães. Uma tragédia de grandes dimensões que mobilizou vários países imediatamente, enquanto a população mundial esperava, com pesar no coração, pelas respostas para a catástrofe.

Foi então que começou o debate quase automático sobre a existência ou não de segurança nas companhias aéreas de baixo custo e sobre a idade de um avião que, talvez, não devesse mais estar no ar. Durante várias horas, todos nós procuramos mil razões, mil origens nessas máquinas por vezes imperfeitas que fazem parte das nossas vidas.

A tecnologia às vezes falha, conforme bem sabemos. Acidentes acontecem e a origem quase sempre está em um descuido, um erro, ou na má manutenção.

Porém, poucos de nós pensamos que o responsável não era a “máquina”, mas sim o homem. Um jovem copiloto que, por vontade própria, jogou o avião contra os Alpes franceses, levando consigo todas as vidas a bordo.

Como podemos compreender esse tipo de situação? O ser humano sempre precisa encontrar um porquê, uma razão que justifique (se é que isso é possível) esse tipo de ato inconcebível, contido nessa parte ainda tão obscura da nossa natureza, onde o irracional e talvez a doença, ou o simples ato de causar o mal, ainda está presente.

O que levou Andreas Lubitz a jogar o Airbus A320 contra os Alpes? Vamos analisar as possíveis causas, explorando todas as informações que foram transmitidas até hoje para tentarmos encontrar um “porquê”.

Um piloto certificado como “apto”, mas com problemas psicológicos

Andreas Lubitz estava sozinho na cabine do avião quando, de repente, e por vontade própria, decidiu apertar o botão de descida para que ele e todos os outros passageiros perdessem a vida colidindo contra os Alpes.

De acordo com a empresa “Lufthansa”, o copiloto do Airbus A320 tinha sido declarado apto para o serviço. Ninguém suspeitava de nada e ele era uma referência de competência e profissionalismo.

No entanto, foi encontrado um laudo médico atestando que ele não estava apto, que as suas condições psicológicas não eram adequadas para continuar trabalhando. Lubitz estava ciente disso, mas, ao invés de aceitar o fato, rasgou o referido laudo sem que a empresa soubesse sobre ele, indo para o trabalho quando, na verdade, nunca deveria ter ido.

De acordo com as informações publicadas, Andreas Lubitz sofria de uma grave depressão. Isso se justificava pelo fato de estar em processo de separação da namorada, com problemas emocionais que talvez possam ter causado essa reação suicida.

Por outro lado, presume-se que esses transtornos depressivos eram constantes durante a sua vida, que ele já havia passado por algo semelhante há algum tempo, recebendo tratamento para um episódio de depressão grave.

Andreas Lubitz

Depressão grave e “suicídio prolongado”

Então, a pergunta seria a seguinte: será que a depressão grave pode levar uma pessoa não apenas ao suicídio, mas também a causar a morte de 150 pessoas?

-Primeiramente, ao falar de depressão, devemos ter em mente que nenhum problema psicológico se apresenta da mesma forma em todas as pessoas, ou seja, não existe um padrão “único” que seja facilmente identificável. Muitas vezes, pode haver diversos distúrbios associados, ou pode ser que em vez de uma depressão grave houvesse uma depressão psicótica. Não sabemos.

-As razões pelas quais uma pessoa pode ter depressão podem ser muito variadas e complexas. Porém, há sempre um sentimento de perda de controle sobre a própria situação de vida e sobre as emoções, além de uma visão muito negativa do futuro. Não há esperança. Assim, quando essas sensações se magnificam, é comum que isso leve a desejos suicidas.

-Geralmente, a depressão que cursa com pensamentos suicidas costuma ocorrer com 15% dos pacientes que apresentam esse transtorno. No entanto, o que não é frequente é que, juntamente com as tendências suicidas, também existam tendências homicidas. Ou seja, não é comum que, quando uma pessoa quer dar fim à própria vida, ela também opte por “punir” outras pessoas que, além de tudo, não tinham relação afetiva com ela.

-Caso exista essa vontade, já estaríamos falando de um “suicídio ampliado”. Ou seja, trata-se de situações em que a pessoa, além de acabar com a própria vida, também busca levar consigo a vida de inocentes. Seu desespero e frustração são tão grandes que não basta fazer mal a si mesma. A pessoa também procura ampliar o desejo de agressão aos outros. Portanto, há raiva e desejo de vingança.

No caso de Andreas Lubitz, por exemplo, sabemos que a sua grande obsessão era voar. Provavelmente, seus problemas afetivos fizeram com que recaísse em uma nova depressão, um processo que aparentemente era algo latente em seu estado psicológico e que, no passado, já havia causado uma demora para a obtenção da sua licença.

Assim, o laudo psicológico que concluía que ele “não era apto para o trabalho e não poderia voar” certamente foi o gatilho para que ele pensasse não apenas em suicídio, mas também em vingança. Aquele seria o seu último voo, e a sua dor não seria a única a ser sentida. O sofrimento tomaria dimensões ampliadas e, sem dúvida, assim ocorreu.

-Alguns especialistas explicam que esses atos incompreensíveis às vezes são guiados pela síndrome de Amok, isto é, uma reação espontânea e descontrolada para machucar os outros, para matar indiscriminadamente.

No entanto, para muitos, o terrível ato cometido por Andreas Lubitz poderia ter sido perfeitamente premeditado. Inclusive, é até mesmo possível que os Alpes tivessem algum significado para ele já que, de acordo com relatos, ele mantinha uma fixação importante com essa paisagem.

As pessoas sempre precisam de uma explicação diante de atos como o ocorrido com o Airbus A230. Queremos conhecer e entender os motivos pelos quais um homem aparentemente normal decide acabar com a vida de 150 pessoas. Porém, às vezes teremos que aceitar que o irracional, como a maldade, existe e está presente, sempre escapando ao nosso controle. Imprevisível e voraz, tirando a vida de quem mais amamos.

De qualquer forma, neste espaço, prestamos o nosso mais sincero apoio às famílias, juntamente com a nossa sincera homenagem e respeito às vítimas. Descansem em paz.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.