Onde as memórias são armazenadas?
Por sua complexidade, suas falhas e também por tudo o que nos permite, a memória é um processo fascinante. Todos nós já nos perguntamos como é possível que nos lembremos daquela tarde brincando no parque durante a infância, como conseguimos reter tanta informação ou onde as memórias estão armazenadas no cérebro.
Graças a ele, podemos reviver nossas experiências, usá-lo para implementar novas soluções ou manter uma identidade. Para fazer isso, a memória codifica as informações para que o cérebro possa “ler” e recuperá-las quando necessário. Mas onde as armazena?
O hipocampo e a memória
O hipocampo é talvez a estrutura cerebral que tem mais peso em nossa memória. Essa região, localizada no sistema límbico, é crucial para a formação, armazenamento e recuperação de memórias. Mais especificamente, está relacionado a diferentes aspectos da memória, cumprindo mais de uma função, incluindo:
- Associar emoções positivas ou negativas às memórias.
- Facilitar o armazenamento de informações recentes na memória de longo prazo.
- Fornecer um contexto espacial e temporal para as memórias.
O hipocampo se encarrega de guardar memórias: isto é, de armazenar experiências sensíveis que obtivemos de diferentes canais ou sentidos -não apenas armazena informações, mas o faz de forma integrada-. Se pararmos para analisar o que fazemos diariamente, perceberemos que o processo é realmente fascinante.
Todos os detalhes têm um papel fundamental, e é que eles agem da mesma forma que os puxadores das gavetas: podemos segurá-los para recuperar a memória. Assim, quando ouvimos uma música somos capazes de nos transportar para um momento específico ou quando cheiramos um perfume, lembramos da pessoa que costumava usá-lo.
Onde os detalhes das memórias são armazenados
Como dito acima, o papel do hipocampo é inquestionável. No entanto, ainda há dúvidas sobre como e onde os detalhes das memórias são armazenados. Essa parte do processo é essencial, pois se as características ou elementos de uma memória não fossem armazenados de forma independente, provavelmente haveria apenas um estímulo que poderia evocar essa memória.
Dito de outra forma, o armazenamento por elementos permite que as memórias sejam armazenadas de forma mais organizada ou classificada. Como se pudéssemos colocar uma série de hashtags que nos permitem acessá-las de maneira mais simples ou variada. Por exemplo, para manter a lembrança daquele aniversário no campo, usaríamos as tags #natureza #aniversário #família #sol #piquenique.
Nesse sentido, especialistas levantaram duas possibilidades sobre como esse armazenamento é realizado e onde. Uma opção é que o armazenamento dos elementos seja integrado no hipocampo, de modo que a ativação de neurônios responsáveis pela codificação de estímulos específicos possa provocar uma resposta de memória global. Ou, que os detalhes sejam armazenados em outras áreas distintas envolvidas, que por sua vez têm acesso à representação conjunta do hipocampo.
Novas descobertas
Essas duas questões foram levantadas recentemente por uma equipe de pesquisa da Rockefeller University. Se decidiu investigar os circuitos do hipocampo e do córtex cerebral em tempo real durante a formação, armazenamento e recuperação de memórias complexas. Suas descobertas, publicadas na prestigiosa revista Nature, foram verdadeiramente reveladoras.
Para isso, eles realizaram um estudo com camundongos no qual tiveram que usar novas técnicas que permitiam registrar a atividade neuronal em várias áreas ao mesmo tempo em que os animais percorriam corredores intermináveis.
Nestes, os ratos encontraram diferentes combinações de cheiros e sons, que foram associados a experiências gratificantes ou negativas. Dessa forma, graças à detecção de um cheiro ou som específico, os ratos conseguiram se lembrar de toda a experiência e resolver a tarefa com sucesso.
Seus resultados revelaram que o hipocampo, especificamente a via entorrinal-hipocampal, estava envolvida na formação e armazenamento de experiências. No entanto, eles descobriram que características sensoriais individuais estavam sendo processadas e registradas pelo córtex pré-frontal.
Por sua vez, os resultados mostraram que quando os ratos encontraram uma característica específica, os neurônios pré-frontais se comunicaram com o hipocampo para evocar a memória global.
Implicações e conclusões
Esses achados têm implicações teóricas e práticas. Agora podemos saber que o armazenamento de memórias complexas ocorre como um todo e é classificado por partes. Essa separação supõe que a exposição a um estímulo individual é suficiente para ativar o córtex pré-frontal e, consequentemente, evocar uma memória.
Em termos de desenvolvimento de tratamentos, essa descoberta pode ser relevante para a doença de Alzheimer, onde a recuperação de memórias é mais afetada. Assim, a existência de várias rotas de armazenamento pode contribuir para o desenvolvimento de diferentes estratégias de recuperação. Portanto, o uso de vias pré-frontais para pacientes com Alzheimer pode ser mais promissor terapeuticamente.
Em conclusão, ainda temos muito que aprender sobre o cérebro e seu funcionamento. Neste caso, sabemos agora que o hipocampo não é o único lugar onde as memórias são armazenadas. Também o córtex pré-frontal, envolvido na personalidade ou na tomada de decisões, entre outros, é responsável por armazenar os aspectos mais específicos das experiências que vivemos.
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