Os três filtros da consciência: freudiano, rogeriano e atencional

A consciência é como um filme que se passa na nossa temomente e que nos permite dar sentido ao que vemos e sentimos. Os três filtros que aplicamos a este processo nos permitem organizar e compreender cada experiência.
Os três filtros da consciência: freudiano, rogeriano e atencional
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Enquanto lemos este artigo, temos consciência das palavras e seus significados. Também podemos ter consciência do celular, tablet ou computador que estamos manipulando com as mãos.

No entanto, não teremos consciência da sensação das roupas no nosso corpo, da luz do sol que toca a nossa pele ou de como os nossos neurônios estão trabalhando para relacionar o que este texto diz com os nossos conhecimentos prévios já adquiridos. A percepção do que acontece dentro de nós responde a mecanismos que ainda não estão totalmente claros.

De fato, até mesmo a própria definição do que é a consciência ainda é um pouco elusiva e confusa para os especialistas. Mesmo que ela esteja sendo estudada há vários séculos, é difícil chegar a um consenso. John Locke a entendia como a percepção do que acontece na nossa mente. David J. Chalmers, filósofo do processamento cerebral, falou sobre a experiência pessoal a partir do nosso interior.

William James (1890), comparou a consciência a um rio ou córrego: é o pensamento que flui, é o que estamos vivenciando aqui e agora. E, o mais importante de tudo, como processamos ou damos significado.

“A consciência é um filme incrível que parece estar passando em nossas mentes.”

-David Chalmers-

cérebro iluminado representando os três filtros da consciência
As experiências conscientes definem nossas vidas, mas a natureza subjetiva, privada e qualitativa dessas experiências e como a mente as processa ainda é um mistério.

Os três filtros da consciência

Gregg R. Henriques é professor adjunto da Universidade James Madison, na Virgínia. Há dez anos, ele concebeu uma abordagem para entender um pouco mais como a consciência funciona. Ele tinha como objetivo poder intervir melhor com seus pacientes, entender suas atitudes, comportamentos e emoções. Afinal, entender como a mente funciona nos permite ter uma visão mais ajustada do comportamento humano.

Para isso, ele enunciou a teoria dos três filtros da consciência, seguindo essa linha tão atual que não pretende nada além do que tentar desvendar essa dimensão tão relevante de forma científica. Conforme explicado em um estudo da Dra. Anil Seth, da Universidade de Sussex, a consciência é o maior mistério da nossa existência e é hora de encontrar respostas para todos os seus enigmas.

O filtro atencional

A atenção é o processo mais importante da experiência consciente. Aquilo em que colocamos a nossa atenção é o que se torna real para nós, o que orienta o nosso comportamento em todos os sentidos.

Demos um exemplo disso no início: para ler este artigo e entendê-lo, você precisa colocar a sua atenção nele, priorizando as suas palavras sobre os outros estímulos que possam estar no ambiente. É o que acontece aqui e agora; aquilo em que a mente investe todos os seus recursos em um momento específico.

No entanto, durante esse ato, realizamos um processo de filtragem poderoso do qual não temos consciência. Afinal, na verdade, existem inúmeros processos neurocognitivos básicos acontecendo no cérebro dos quais não temos consciência. O curioso é que o fato de não nos darmos conta é essencial para o nosso funcionamento e bem-estar.

De fato, seria altamente estressante ter consciência de como os nossos neurônios funcionam e de cada evento que acontece tanto dentro quanto fora de nós.

O filtro freudiano

Os três filtros da consciência nos explicam não apenas como a nossa atenção funciona, mas também a forma como exercemos o autocontrole.

Vamos imaginar por um momento o que significaria dizer às pessoas tudo o que sentimos e pensamos com a mais pura sinceridade. Revelaríamos de forma crua e sem rodeios todos os nossos ódios, desprezos e também desejos. Viriam à tona os nossos impulsos e até mesmo os nossos instintos. No entanto, conforme sabemos muito bem, isso não acontece. E não acontece porque a consciência aplica um filtro que impossibilita essas reações.

O filtro freudiano permite que os impulsos sejam reinterpretados para que sejam consistentes com o nosso sistema de princípios éticos ou valores. Isso evita, por exemplo, que realizemos atos socialmente inaceitáveis ​​ou desrespeitosos. Portanto, trata-se de realizar um processo de racionalização interna para criar narrativas mentais que gerem harmonia e autocontrole.

Mente com luzes representando a técnica flowtime
O filtro freudiano regula e exerce controle sobre nossos impulsos.

O filtro rogeriano

Carl Rogers foi um dos principais promotores da psicologia humanista. Seu objetivo era ajudar as pessoas a alcançar  o seu desenvolvimento, favorecer a sua evolução e moldar um estilo de vida de acordo com os seus valores e necessidades. Portanto, entre os três filtros de consciência, poderíamos dizer que o “rogeriano” é o mais interessante.

A razão para isso é que a consciência também tem como objetivo nos ajudar a construir a nossa identidade. Ou seja, isso significa que existe um filtro que fica justamente entre o “eu social e externo” e o “eu interno e instintivo”. Assim, além do que mostramos para os outros e do que reprimimos, há ainda uma terceira dimensão que vamos construindo aos poucos.

É ela que ousa ir além do que é socialmente aceitável para ser ela mesma, mas sem agir de forma instintiva. É ela que deixa de se orientar para agradar os outros para pensar no seu próprio bem-estar. Que atende às próprias necessidades sem se preocupar com os julgamentos dos outros. Porque o “eu” também é importante e ter consciência dele também media o nosso bem-estar.


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  • Seth, Anil. (2010). The Grand Challenge of Consciousness. Frontiers in psychology. 1. 5. 10.3389/fpsyg.2010.00005.


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