Paralisia da perfeição: quando o medo do fracasso nos paralisa

Há momentos em que queremos tanto atingir a perfeição e fazer o nosso melhor que tudo que conseguimos é ficar estagnados. Isso já aconteceu com você?
Paralisia da perfeição: quando o medo do fracasso nos paralisa
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 02 dezembro, 2021

A paralisia da perfeição define aquele estado em que se deseja atingir 200% do seu potencial e o que se consegue é ficar em 0%. Salvador Dalí disse com grande sucesso que se há algo que devemos descartar da nossa mente é a ideia de alcançar algo perfeito, porque esse status nunca é alcançado. No entanto, o cérebro não pode deixar de alimentar esse foco e essa necessidade doentia.

A história do cinema conta que não existiu diretor mais perfeccionista e obcecado por detalhes do que David Lean. Graças a ele temos produções maravilhosas, como Lawrence da Arábia, A Ponte do Rio Kwai e Doutor Jivago. Sua fixação em cuidar de cada tomada era exasperante, a ponto de esgotar boa parte da equipe de filmagem com suas exigências e peculiaridades.

Bem conhecido é o caso do seu desejo de que um campo nevado com papoulas aparecesse em uma cena de Dr. Jivago. A conjunção, por si só, foi impossível de se concretizar, o que causou um notável atraso nas filmagens, além de prejuízos econômicos. Seus biógrafos explicam que esse desejo de atingir a perfeição em cada filme lhe trouxe períodos de depressão e desespero, além de muitos descontentamentos com seus colegas de profissão.

A escritora norte-americana Pearl S. Buck disse que o desejo pela perfeição torna algumas pessoas totalmente insuportáveis. A isso devemos acrescentar algo ainda mais importante: o sofrimento emocional e a exaustão psicológica. Vamos analisar o assunto.

“A perfeição é morte, a imperfeição é arte.”
-Manuel Vicent-

Homem de pedra

O que é a paralisia da perfeição?

A ciência nos diz que os jovens estão mais perfeccionistas do que nunca. Além disso, pesquisas como as realizadas na Universidade de Western Ontario (Canadá), por exemplo, mostram que o perfeccionismo cresceu  substancialmente desde 1990. A geração dos millennials luta contra essa dimensão muito mais do que as gerações anteriores.

Tudo isso tem um custo elevado, que muitas vezes resulta em transtornos de ansiedade, estresse, depressão e até transtornos alimentares. O fenômeno mais comum nessas situações é, sem dúvida, a paralisia da perfeição. Vamos entender do que se trata.

A paralisia da perfeição e o medo do fracasso

A paralisia da perfeição define o medo imobilizador do fracasso e de não atender às nossas expectativas e as que os outros têm de nós. Quando nos pedem um projeto, um trabalho ou a contribuição de uma ideia inovadora, é muito comum dizermos a nós mesmo: “Vou dar o meu melhor, vou oferecer a vocês algo extraordinário”.

Porém, o que acontece depois desse objetivo adotado é que o estresse nos paralisa. E quando o estresse e a ansiedade sequestram a mente, a criatividade não vem à tona. Porque nosso universo psicológico não funciona em estados de alta emocionalidade. O medo do fracasso nos bloqueia e a inovação e as ideias criativas não germinam neste contexto.

O que causa essa necessidade de atingir a perfeição?

Sabemos que, por trás da paralisia da perfeição, está o medo do fracasso e também do desapontamento. Agora, por que alimentamos esse medo? Por que, em vez de nos permitirmos curtir o processo de desempenho, somos tomados pela angústia?

Existem várias hipóteses que explicam essa situação. São as seguintes:

  • Grande parte dessa busca pela perfeição é mediada pela criação e educação. Muitos são os pais que incentivam nos filhos a necessidade de serem os melhores, de alcançar a excelência em tudo o que fazem. Isso, eventualmente, os leva a desenvolver exigências próprias doentias.
  • Por outro lado, é preciso falar sobre fatores como falta de autoconfiança e até sobrecarga de tarefas. Às vezes, temos um acúmulo considerável de trabalhos e muita pressão sobre isso. Se você também adicionar a necessidade de fazer certas coisas de forma perfeita, a ansiedade nos congela.
  • Da mesma forma, há outro fator recorrente no campo das organizações. Há momentos em que um líder, por exemplo, é desafiado a tomar uma decisão em relação a um problema específico. Ele analisa milhares de informações e avalia dezenas de estratégias. No entanto, ter que avaliar vários dados ao mesmo tempo causa o fenômeno conhecido como bloqueio de análise.

O que causa essa necessidade de atingir a perfeição?

Como lidar com o bloqueio por visar a perfeição?

Bloqueado, estressado, assustado, nervoso e até exausto. A paralisia devido à perfeição nos sujeita a um estado psicológico incapacitante, improdutivo e angustiante. Não importa o quão excepcional a pessoa seja. Suas habilidades e conhecimentos não têm importância se você mergulhar naquela névoa mental orquestrada pelo medo e pela ansiedade.

O que podemos fazer nessas circunstâncias? Vamos analisar.

3 estratégias para reduzir a paralisia da perfeição

A primeira estratégia é simples: relaxe e expanda o foco de atenção. Um erro que as pessoas obcecadas pela perfeição cometem é olhar os detalhes, atender a aspectos muito específicos a ponto de perder a perspectiva.

Às vezes, quando você impõe uma certa distância, consegue ver mais coisas. Às vezes, quando a mente descansa, as melhores ideias surgem. Desconectar-se para se conectar com maior intensidade mais tarde é a melhor chave.

Outro recurso básico e essencial é aumentar a autoconfiança. A autoexigência faz com que não gostemos do nosso desempenho. É verdade que a ambição pode trabalhar a nosso favor, mas devemos garantir que o resultado dessa tentativa de melhoria não acabe prejudicando a nossa autoestima. Tratar uns aos outros com gentileza e confiar nas nossas próprias habilidades é decisivo.

Finalmente, é necessário reduzir o pensamento ruminanteAs ideias obsessivas e negativas e a mente que não para de girar as coisas sem direção ou sentido são o motor da paralisia da perfeição. Vamos evitar chegar neste ciclo de ruminação exaustivo. Tentemos, na medida do possível, reduzir o maior inimigo do desempenho e do bem-estar: a necessidade de sermos perfeitos.


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  • Curran, T., & Hill, A. P. (2019). Perfectionism is increasing over time: A meta-analysis of birth cohort differences from 1989 to 2016. Psychological Bulletin, 145(4), 410–429. https://doi.org/10.1037/bul0000138

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