Tenho um parceiro bissexual: e agora?

Embora esta situação possa gerar confusão e questionamentos, também pode servir para desmantelar mitos e preconceitos em torno da bissexualidade e fortalecer a confiança e a comunicação no relacionamento do casal.
Tenho um parceiro bissexual: e agora?

Escrito por Helena Sutachan

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Os relacionamentos são territórios sensíveis, estruturas que se sustentam graças à comunicação compartilhada, confiança, respeito e amor. No entanto, são frágeis ao mesmo tempo, pois a sua solidez pode ser ameaçada por imprevistos, por mudanças, descobertas e transformações que um dos membros do casal pode atingir. O que fazer, por exemplo, se o seu parceiro revelar ser bissexual?

Neste artigo, vamos explorar como essa situação pode nos confundir e, ao mesmo tempo, representar um desafio que favorece o aprendizado e o crescimento.

O que é a bissexualidade?

À primeira vista, levando em consideração o significado do prefixo “bi” (dois), pareceria muito fácil definir a bissexualidade como uma orientação sexual em que a atração erótico-afetiva é dirigida tanto a homens quanto a mulheres. Isso porque estamos acostumados a pensar o mundo e a sexualidade no eixo masculino/feminino.

No entanto, ao ampliarmos o espectro, podemos perceber que a bissexualidade pode envolver o desejo sexual e a expectativa romântica voltada para mais de um gênero, geralmente para o próprio gênero e outra identidade de gênero diferente.

Dessa forma, a bissexualidade se configura como uma das formas mais comuns de diversidade sexual. Além disso, mostra como a heterossexualidade exclusiva tem um certo caráter normativo e nosso desejo pode percorrer mais do que um único caminho predeterminado.

Homem com coração colorido de bissexualidade

Mitos sobre a bissexualidade

Devido ao desafio que a bissexualidade representa para a heteronormatividade, uma série de mitos estigmatizantes foram construídos em torno de pessoas que se identificam como bissexuais. Estes, além de não coincidirem com a realidade, geram discriminações e questionamentos sobre suas escolhas e decisões.

  • Promiscuidade e infidelidade: talvez o mito mais difundido seja o da tendência à promiscuidade das pessoas bissexuais. Supõe-se, preconceituosamente, que quando uma pessoa se sente atraída por mais de um gênero, ela tende a ter mais parceiros sexuais e a evitar a monogamia. No entanto, ainda não há evidências que mostrem a correlação entre orientação sexual, promiscuidade e infidelidade.
  • Indecisão e confusão: outro mito amplamente difundido é o da bissexualidade como uma fase de confusão antes de assumir uma identidade abertamente homossexual. Esse imaginário não está apenas ancorado em uma visão determinista, estática e unívoca da relação entre sexo e gênero, mas também minimiza a autodeterminação de pessoas que orgulhosamente se reconhecem como bissexuais.

O que é a bifobia?

Esses mitos e preconceitos em relação à bissexualidade e às pessoas que personificam essa orientação sexual se materializam em práticas chamadas de bifobia.

A bifobia é entendida como a rejeição enfrentada pelos bissexuais apenas pelo fato de se afirmarem e se reconhecerem como tais. A bifobia, além de se manifestar na população heterossexual, pode até ser encontrada dentro da comunidade LGBTIQ+.

Desse modo, entre as possibilidades dos comportamentos bifóbicos, encontramos a negação da bissexualidade. Ou seja, a ideia de que não existe bissexualidade, e a rotulação dos bissexuais como covardes ou confusos por não assumirem abertamente a sua homossexualidade.

Além disso, também encontramos outros tipos de discriminação e violência que as minorias enfrentaram historicamente, como exclusão do trabalho e da escola, assédio, agressões físicas e até assassinato.

O que fazer se o seu parceiro for bissexual?

Tendo definido a bissexualidade e os preconceitos associados a ela, é hora de levantar algumas opções sobre o que fazer quando um parceiro falar abertamente sobre ser bissexual.

É normal que surjam inseguranças associadas ao amor e ao desejo sexual, à monogamia ou à possibilidade de estreitar a relação e à dificuldade de voltar a confiar no seu parceiro. Antes de sucumbir a essas dúvidas, é importante fazer uma pausa e refletir sobre as diferentes implicações que essa revelação tem para você, para o seu parceiro e para o relacionamento que vocês construíram.

Primeiro, identifique como você se sente. É importante esclarecer seus próprios sentimentos, dúvidas e preocupações para que você possa, depois, transmiti-los ao seu parceiro de forma calma e respeitosa.

Muitas das suas preocupações podem ser baseadas em tendências bifóbicas. Será útil para você obter informações claras e confiáveis sobre a sexualidade e os conceitos errôneos que construímos sobre a diversidade sexual.

Casal conversando

Converse com o seu parceiro, exponha os seus sentimentos em relação à sua bissexualidade. Faça isso de maneira respeitosa e cuidadosa para não fazer comentários estigmatizantes. Lembre-se de que, para o seu parceiro, esta também é uma situação nova e ele pode ter ficado com medo antes de compartilhar sua orientação sexual com você.

Fazer um balanço dos seus sentimentos depois de falar com seu parceiro permitirá que você decida o que fazer. É possível que seu parceiro precise de apoio para se reconhecer publicamente como bissexual e, em muitos casos, você terá que decidir se está pronto para oferecer este apoio e, é claro, se deseja fazê-lo. Lembre-se de que você ainda é o principal responsável pelo seu bem-estar emocional.


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  • García-Barba, M., García Díaz, D., Castro-Calvo, J., Giménez-García, C., & Ballester-Arnal, R. (2017). Bifobia en jóvenes universitarios: diferencias entre géneros.
  • McCann, H. (2022). The Refusal to Refuse: Bisexuality Trouble and the Hegemony of Monosexuality. Journal of Bisexuality, 1-19.

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