A pergunta fundamental sobre a vida, segundo Jung

Para Jung, a pergunta fundamental sobre a vida tem relação com a transcendência e o alcance que a existência individual tem. Quando essa pergunta não é respondida satisfatoriamente, há um mal-estar e um vazio que podem ser insuperáveis.
A pergunta fundamental sobre a vida, segundo Jung
Gema Sánchez Cuevas

Escrito e verificado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Última atualização: 07 abril, 2020

No século XX a preocupação com o sentido da vida ultrapassou as fronteiras da arte, da literatura e os círculos intelectuais. A queda paulatina dos valores absolutos, a decepção com a crueldade humana e a falta de referências estáveis alimentaram a necessidade de obter uma resposta. O psiquiatra suíço Carl Jung captou essa inquietude generalizada e lançou uma hipótese para identificar a pergunta fundamental sobre a vida, cuja resposta fosse capaz de dar sentido à existência.

Para Jung, o decisivo era nosso senso de transcendência. Em outras palavras, ele acreditava que cada pessoa precisa sentir que sua vida tem um sentido, e este deve ir além do imediato. O que fazemos no mundo deve ecoar de algum modo, causar um impacto sobre a realidade. Além disso, ele afirmava também que quando a vida é percebida simplesmente como uma soma de momentos, sem um maior direcionamento do que pequenos objetivos de pouca relevância, surge a angústia existencial, a sensação de que tudo carece de sentido.

Antes da modernidade, as religiões proporcionavam um sentido para a transcendência da vida. A existência das pessoas não acabava com a sua morte, mas continuava para outra forma de vida, uma vida espiritual, na qual todas as ações na Terra eram avaliadas, premiadas ou castigadas.

Dessa forma, com a queda gradativa das crenças religiosas, o ser humano ficou abandonado diante da realidade. Isso começou a acontecer na época de Jung e, por isso, ele tentou dar forma a uma pergunta fundamental sobre a vida.

“Quanto mais um homem se fixa em suas falsas posses e menos sensibilidade ele tem para o essencial, menos satisfatória é a sua vida”.
-Carl Jung-

Carl Jung

A pergunta fundamental sobre a vida

Segundo Carl Jung, a pergunta fundamental sobre a vida é esta: a existência de uma pessoa em particular está relacionada com algo no infinito? Sem nos darmos conta, a maioria de nós busca estabelecer essa conexão com o infinito na nossa existência. Nem sempre somos conscientes disso, mas o fazemos por meio da atividade religiosa, do trabalho, da construção das nossas convicções, etc.

O infinito é um conjunto ou série com final ou fronteiras desconhecidas. A vida humana acaba com a morte. Mas todos sabemos que, depois da morte de cada um de nós, há uma realidade que nos transcende. Ela estava lá antes de nós nascermos e continuará lá depois de sumirmos da Terra.

A religião foi, ao longo da história, uma das formas mais comuns de estabelecer esse contato com o infinito. A crença em um Deus responde à pergunta fundamental da vida. Para aqueles que não são crentes ou aqueles para os quais esse Deus não tem uma presença determinante, as coisas ficam um pouco mais complexas.

O infinito, então, começa a ser buscado através da própria descendência: os filhos prolongam a vida. Também é possível que a pessoa busque deixar um determinado legado, seja no âmbito de trabalho ou no social, por exemplo.

Mulher subindo escadas se desfazendo

A importância do senso de transcendência

Desde que temos notícia da história humana, o homem quis estabelecer esse contato com o infinito. Seja por medo, pela impossibilidade de assimilar a ideia da morte, ou como um meio para consolidar uma autoridade à qual todos os seres humanos deveriam obedecer. Desde épocas muito antigas, o amor também se tornou a pedra angular que dava uma resposta para essa pergunta fundamental da vida.

No entanto, o ser humano descobriu que se o objeto do seu amor fosse algo ou alguém expirado ou limitado, esse sentimento estaria condenado a gerar sofrimento. Na medida em que o objeto de amor tem um fim, o senso de transcendência está condenado a morrer como consequência da perda irremediável do objeto. Por isso o ser humano passou a criar deuses em todos os cantos, e os amou. Eles não morrem, o destino não pode nos privar da sua companhia. Desse modo, ficou estabelecido um vínculo com o infinito.

Mais adiante na história, com o desenvolvimento das ciências e das artes, para muitos o conceito de Deus passou para um segundo plano. Precisamente, as ciências e as artes se tornaram um novo infinito, que fornecia a transcendência necessária para a vida de uma pessoa.

A importância da pergunta fundamental sobre a vida e o senso de transcendência é que sua resposta proporciona um sentido existencial que não é alcançado de outra maneira. Isso foi expressado pelo filósofo Spinoza de maneira muito clara. Ele diz: “Toda a nossa felicidade ou infelicidade depende apenas da qualidade do objeto no qual fixamos o nosso amor […]. Mas o amor oferecido para um objeto eterno e infinito alimenta a mente com uma alegria pura, sem rastros de tristeza”.


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  • Jung, C. G., & Wilhelm, R. (1929). El secreto de la flor de oro. Colombia: Ed. Solar Ltda.

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