Por que eu tenho que ser o "forte" da família?

Em toda família há uma pessoa que acaba assumindo o papel de "forte". No entanto, esse papel tem suas consequências, e talvez mais do que poderíamos pensar.
Por que eu tenho que ser o "forte" da família?
Gema Sánchez Cuevas

Escrito e verificado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Última atualização: 07 outubro, 2023

Ser o “forte” da família é um título que costuma ser distribuído em todas as famílias, e em algumas sem que os méritos de quem assume esse papel sejam muito claros. Uma vez que alguém o carrega, é difícil passar para outra pessoa ou que acabe sendo compartilhado.

As razões pelas quais uma pessoa se torna o “forte” da família são heterogêneas. Às vezes, é porque ela é boa em resolver problemas ou porque tem um alto senso de solidariedade; outras vezes, é só porque ela tem mais tempo ou é o irmão mais velho. A verdade é que se assume, como se fosse natural, que é válido colocar o peso das grandes crises e das dificuldades mais complexas sobre essas pessoas.

A questão é que há momentos em que alguém pode ser o “forte” da família, porque tem a disposição e a capacidade de assumir esse papel. Outras vezes, porém, ele não está em condições de fazê-lo. Ainda assim, espera-se que ele continue desempenhando seu papel , mesmo à custa de si mesmo. É aí que o assunto se torna problemático.

Não somos responsáveis pela felicidade dos outros Não somos responsáveis pelas responsabilidades dos outros. Temos o direito de poder “cair”. Respire e descanse.”

-Patrícia Ramírez-

Quem tem o papel de forte na família costuma carregar muitas responsabilidades.

Ser o “forte” da família

Ser o “forte” da família costuma ser mais um papel que é atribuído sem que haja um acordo prévio ou uma decisão explícita que o sustente. É comum que alguma pessoa da casa esteja mais disposta a resolver situações ou problema e tenha alguma eficácia ao fazê-lo. Diante disso, outros passam a delegar crises a ela.

Não é ruim que seja assim. Certas pessoas têm maior capacidade de superar dificuldades. Além disso, é como se a inércia praticamente nos empurrasse para elas quando elas aparecem. O que é problemático é que alguém acabe sendo designado para este papel fixo e até se torne o repositório de grandes e pequenos problemas

É ainda mais complexo quando se acaba exigindo que essa pessoa assuma seu papel, fazendo com que ela se sinta culpada caso resista ou se recuse a fazê-lo. Os demais acabam assumindo uma postura infantil, também confortável, e abrindo mão de parte de sua autonomia. As coisas funcionam muito bem para os outros, mas não para alguém que decidiu ser o “forte” da família.

“Se eu não cuido disso, ninguém vai cuidar disso”

A pessoa que assume esse papel também pode contribuir para esse fenômeno. É muito comum ouvir dela “Se eu não cuido disso, ninguém vai cuidar ou resolver isso”. E é verdade. A situação caiu nesta lógica e, na verdade, se os “fortes” não tomam as rédeas, ninguém o faz.

Nesse comportamento há elementos de manipulação, de modo que a pessoa que assume esse papel acaba se tornando um instrumento para a maioria -muitas vezes inconscientemente-. Assim, forma-se um círculo vicioso que retroalimenta a situação. A dinâmica só muda quando o esquema é quebrado, o que geralmente acontece quando a pessoa não aguenta mais, embora também possa sofrer algum tipo de dano que a impeça de continuar assumindo aquele papel.

A pessoa mais forte da família às vezes também precisa dos outros.

Quebrar o esquema

Às vezes, quem decidiu ser o “forte” da família também precisa ajuda. É possível que ele tenha sido ignorado em seus desejos e sentimentos, de modo que em algum momento ele conseguiu se tornar visível fazendo muito pelos outros. Isso lhe deu um lugar na família.

A verdade é que ninguém deve ser o “forte” da família. O principal obstáculo para deixar de ser um é a armadilha da culpa. No entanto, em todas as situações, uma pessoa deve se perguntar até que ponto os outros realmente precisam de ajuda externa e que tipo de ajuda eles precisam. Assim, é possível fazer uma contribuição oportuna e limitada.

O mais aconselhável é indicar o caminho e permitir que cada pessoa o percorra por conta própria. Uma pessoa adulta deve ser responsável por si mesma. A ajuda que pode ser dada é específica e temporária. Não faz nenhum bem a ninguém se outra pessoa assumir seus problemas e não lhe permitir assumir a responsabilidade pelas conseqüências de suas ações.


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