Por que você deveria brincar mais?

O jogo, mais do que uma atividade, é uma abordagem. Sua essência tem a ver com a priorização da diversão e da exploração, sem necessariamente sofrer com o desempenho a longo prazo. De fato, em muitos casos, o que se consegue é justamente o contrário.
Por que você deveria brincar mais?
Sharon Laura Capeluto

Escrito e verificado por a psicóloga Sharon Laura Capeluto.

Última atualização: 07 outubro, 2023

O jogo existe em todos os cantos do mundo desde tempos imemoriais. Caracteriza-se por ser uma atividade prazerosa que consiste em movimentar-se livremente, representar personagens, criar mundos, pensar estrategicamente e resolver problemas de forma inovadora. Afinal, brincar é aprender enquanto se diverte.

É comum que esse hábito diminua à medida que envelhecemos. Quando crianças, brincamos grande parte do dia: em casa, na escola, no parque (é o principal, quase o mais importante). Sozinho, com amigos, com irmãos ou outro membro da família. No entanto, o jogo na idade adulta tende a ser cada vez mais esporádico, visto que o percebemos como “uma perda de tempo”. Depois dos 20 anos, nossas responsabilidades têm cada vez mais peso. O tempo de folga se reduz muitas vezes a assistir televisão.

A questão é que o jogo nos dá muito mais do que diversão. Os benefícios que obtemos são realmente significativos e promovem uma qualidade de vida saudável. Os adultos deveriam brincar mais…

Jovens jogando futebol
O jogo promove nos adultos a socialização e reduz o estresse.

O jogo na infância

Durante a infância é um dos principais e mais significativos elementos do desenvolvimento físico, cognitivo e social. Isso promove a curiosidade e a imaginação, favorece as habilidades sociais e exercita a concentração. Além disso, o jogo permite que as crianças compreendam seu ambiente e desenvolvam habilidades para se adaptarem a ele. Por sua vez, torna-se também um canal através do qual expressam suas necessidades e emoções, e que tem grande valor terapêutico.

Em suma, por meio de atividades lúdicas, as crianças conhecem o mundo exterior, e também a si mesmas, de forma voluntária e prazerosa, ao mesmo tempo em que exibem uma série de habilidades que as beneficiarão para o resto de suas vidas.

Deve-se notar que qualquer atividade lúdica contribui para o desenvolvimento cerebral, pois estimula a criação de novas conexões neurais no córtex pré-frontal do cérebro. Por isso, do ponto de vista pedagógico, os jogos têm um importante potencial educativo. Crianças em idade pré-escolar e escolar aprendem por meio de uma atividade que ocorre em um contexto não ameaçador e de baixa pressão: a brincadeira espontânea.

Grandes referentes da psicologia pensaram e escreveram sobre o jogo: Erik Erikson descreve os jogos infantis como um meio disponível para as crianças ganharem autonomia, enquanto Vygotsky destaca seu peso como regulador do comportamento. Por sua vez, Melanie Klein lhe confere um papel fundamental no espaço psicoterapêutico com crianças. Considera que o jogo para a criança equivale à associação livre do adulto, técnica psicanalítica por excelência.

A importância de continuar brincando

Embora muitas pessoas entendam que é uma prática exclusivamente infantil, o aspecto lúdico não desaparece com a idade, mas se transforma. Surgem outras formas de brincadeira, geralmente voltadas para o estabelecimento de vínculos entre os pares e a negociação das demandas do mundo adulto.

Os esportes, determinados jogos de videogame, o xadrez e outros jogos de estratégia compõem o grupo de jogos socialmente aceitos como forma de entretenimento para adultos. No entanto, não há nada de errado em jogar jogos mais emocionantes. Despentear o cabelo e rir em voz alta não fará de você menos adulto!

É claro que a forma que o jogo assume tende a mudar de acordo com a idade cronológica e interesses particulares da pessoa, mas a verdade é que a necessidade de brincar se mantém mesmo sendo responsável por um trabalho e por uma família. Através do jogo ganhamos em bem-estar, aprendizado e crescimento. Nesse sentido, entendemos que brincar na idade adulta não é apenas válido, mas recomendado.

“É no jogo e somente no jogo que a criança ou o adulto como indivíduos podem ser criativos e utilizar a totalidade de sua personalidade, e somente sendo criativo o indivíduo se descobre”.

-Donald Winnicott-

Jovens jogando videogame
Brincar na idade adulta estimula a imaginação e a criatividade.

Benefícios do jogo

Recuperar uma das experiências mais prazerosas da existência humana torna-se praticamente uma necessidade quando somos capazes de reconhecer seus benefícios. Aqui elencamos alguns deles:

  • Estimula a imaginação e a criatividade.
  • Promove a socialização.
  • Reduz o estresse e a ansiedade
  • Nos ajuda a conectar com nós mesmos.
  • Ajuda a exercitar e preservar a memória.
  • Melhora a regulação emocional.
  • Aumenta a tolerância à frustração.
  • Promove a resolução de conflitos de forma inovadora.

Infelizmente, é mais do que comum subestimar o valor do jogo quando somos inundados pelas obrigações do mundo adulto. Nos preocupamos em investir nosso tempo e energia em atividades que consideramos produtivas, sem perceber que a produtividade não se reduz a gerar dinheiro ou resolver problemas.

Quando deixamos de ser crianças, o jogo não é uma forma de conhecer e vivenciar o mundo, pois já conhecemos grande parte dele. Ou seja, em algum momento, cores, texturas, animais e tudo que nos cerca no dia a dia param de nos surpreender.

No entanto, o jogo nos permite aproximar de realidades que ainda não conhecemos e a nos desafiar, afastando-nos da nossa zona de conforto. Além disso, brincar é uma ferramenta maravilhosa que nos ajuda a nos sentirmos menos estressados e mais felizes, já que o objetivo final é aproveitar o momento presente, além do resultado. O que você está esperando para incorporar mais atividades lúdicas no seu dia a dia?


Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.


  • Gálvez, M., Rodríguez, N. (2005). Jugando Juntos: un tercer lugar para niños de 3 a 6 años y su familia (Tesis de licenciatura). Universidad de las Américas.
  • Meneses, M., Monge, M. (2001). El juego en los niños: enfoque teórico. Educación, 25(2), septiembre 2001, 113-120, Costa Rica: Universidad de Costa Rica.

Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.