Quando somos nossos piores inimigos

Todos nós temos sido muito duros com nós mesmos, em algumas ocasiões. Nesses e em outros casos, nos comportamos como nossos próprios piores inimigos. Discutimos perfeccionismo, autocrítica e autocompaixão, expondo o papel que eles desempenham naqueles momentos de injustiça em relação a nós mesmos.
Quando somos nossos piores inimigos
Gorka Jiménez Pajares

Escrito e verificado por o psicólogo Gorka Jiménez Pajares.

Última atualização: 29 janeiro, 2023

Por que nos criticamos tanto? Por que é tão difícil para nós reconhecer nossas conquistas e tão fácil destacar nossos fracassos? Quando somos nossos piores inimigos, é provável que tudo pareça mais cinza, mais incerto e mais nublado. Tratar-se com compaixão está longe de ser uma tarefa fácil, mas às vezes se torna muito necessário.

Existem dois conceitos que usamos com muita frequência; a razão é que eles estão mal definidos no patrimônio linguístico e cultural cotidiano: perfeccionismo e autocrítica.

No campo da saúde mental, o perfeccionismo tem sido associado a entidades clínicas como a gravidade de transtornos alimentares, depressão, ansiedade ou estresse. Em contraste, a autocrítica tem sido relacionada à fobia social ou ao suicídio.

mulher perfeccionista
Quando somos nossos piores inimigos, tendemos a nos criticar excessivamente, às vezes como consequência de nos sentirmos distanciados de termos sido tão perfeitos quanto gostaríamos.

O que é perfeccionismo?

O perfeccionismo é a tendência de nos mantermos a altos padrões de desempenho enquanto nos avaliamos em excesso. Além disso, o resultado dessas avaliações costuma ser a autocrítica, o que leva a uma preocupação crescente em cometer mais erros. Existem dois tipos de perfeccionismo:

Perfeccionismo adaptativo

O perfeccionismo adaptativo implica, além de altos padrões de desempenho, uma baixa discrepância se as coisas estiverem longe de acontecer como queremos: reconhecemos que fazer tudo certo é sempre impossível.

O perfeccionismo adaptativo refere-se ao fato de que, apesar de exigirmos muito de nós mesmos, nos tratamos com compaixão quando falhamos em nossos objetivos.

Perfeccionismo desadaptativo

Por outro lado, o perfeccionismo desadaptativo alude a exigir muito de nós mesmos, mas também nos punir severamente se os resultados estiverem longe do esperado. Implica discordar excessivamente do resultado de nossas ações, ou seja, ter a percepção contínua de estar constantemente longe dos mais altos padrões estabelecidos.

O que é autocrítica?

A autocrítica e o perfeccionismo são irmãos. A autocrítica pode ser definida como um estilo de personalidade cognitiva por meio do qual avaliamos e julgamos a nós mesmos.

Para entendê-lo, a autocrítica alude a ser hipervigilante ao menor fracasso e julgá-lo negativamente de acordo. A autocrítica também tem uma parte adaptativa e uma parte disfuncional.

Autocrítica adaptativa

Saber onde falhamos ajuda a enfrentar os momentos delicados da vida com mais integridade. Além disso, é importante na formação da identidade, pois ao nos avaliarmos e vermos como podemos melhorar, nos sentimos mais capazes de lidar com as contingências negativas da vida.

“Nesse sentido, comportamentos autocríticos adaptativos aumentariam a percepção de autoeficácia do indivíduo”.

-De Rosa-

Autocrítica disfuncional

Quando apenas percebemos comportamentos inadequados, ou quando apesar de alcançar o sucesso, estamos longe de reconhecê-lo, os problemas aparecem. Agindo como nossos piores inimigos, subestimamos os resultados positivos de nossas ações por considerá-los, por exemplo, meras obrigações.

Consequentemente, quando atingimos o objetivo proposto, podemos experimentar um alto grau de insatisfação pensando que “na realidade o que foi alcançado estava longe de ser tão importante”. Isso se chama desvalorização das conquistas e confirma o fracasso geral.

“Ou seja, as pessoas autocríticas tendem a se avaliar de forma global, rígida e enviesam sua percepção para o erro”.

-De Rosa-

A importância de praticar a autocompaixão

A autocompaixão envolve aprender a acompanhar a si mesmo no sofrimento. Para vários autores implica um sentimento de carinho, cuidado e compreensão de si mesmo, mesmo quando os resultados estão longe do que desejávamos. Também está associado ao reconhecimento de que, como seres humanos, somos frágeis e imperfeitos.

“A autocompaixão está enraizada na capacidade biológica de cuidar dos outros, sensibilidade ao sofrimento, simpatia, tolerância ao sofrimento, empatia, não julgamento e manutenção de um tom emocional caloroso.”

-Gilbert-

Mulher de olhos fechados e mão no coração
A pessoa com autocompaixão busca sua felicidade e bem-estar, aceitando que tem limitações.

Para Neff, especialista em autocompaixão, existem três características fundamentais dessa resposta:

  • Gentileza como si mesmo, entendida como tratar a si mesmo com cuidado e compreensão, em vez de julgamento crítico.
  • Humanidade compartilhada, ou seja, reconhecer que os outros também passam por sofrimentos semelhantes aos nossos.
  • Mindfulness ou a capacidade de perceber, prestar atenção e aceitar o que está acontecendo no momento presente.

É comum confundirmos autocompaixão com “sentir pena de nós mesmos”, e isso é um erro. A autocompaixão vai muito além, pois envolve ver nossa própria vida e a dos outros de uma posição de desconexão, sem distorções que diminuam a experiência.

Concluindo, um bom recurso quando somos nossos piores inimigos é nos tornarmos nossos melhores aliados e entender que é natural errar e errar. Porque o fracasso está longe de significar ser pior ou melhor, mas humano, imperfeito e belo.

“A autocompaixão envolve ser caloroso e compreensivo com nós mesmos, em vez de nos criticar quando estamos sofrendo, quando sentimos que falhamos ou quando nos sentimos incompetentes.”

-Neff-


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