Relacionar-se com alguém que não sabe o que quer é brincar com fogo

Cuidado ao estabelecer um relacionamento com uma pessoa insegura, além de ser frustrante, pode levar a um relacionamento de muito sofrimento. O que está por trás desses perfis? O que pode ser feito? Nós explicamos para você abaixo.
Relacionar-se com alguém que não sabe o que quer é brincar com fogo
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 13 abril, 2023

Relacionar-se com alguém que não se ama, que vive de dúvidas, inseguranças e de medos e lacunas que os outros devem moderar, nutrir e preencher, pode ser tão perigoso quanto cair no abismo sem pára-quedas. Porque quem não sabe o que quer faz do amor um jogo mortal de imaturidade e sutil irresponsabilidade.

Estamos diante de pessoas que duvidam de tudo, até dos sentimentos que lhes professamos. Nesse contexto relacional, um é forçado quase que constantemente a demonstrar afeto ao outro. Tornamo-nos, quase sem perceber, figuras que vestem medos, que dissipam dúvidas, que devem fazer grandes atos heróicos para que a pessoa amada confie em nós.

Algo assim não só leva ao esgotamento, porque oferecemos tudo sem receber nada. Mais cedo ou mais tarde, obviamente um desgaste é criado nesse relacionamento. O que há por trás daqueles que duvidam de tudo? O que se passa na cabeça da pessoa que precisa de elogios constantes e teme o abandono quase todos os dias? Nós o analisamos.

“Se você quer saber para onde está indo, primeiro descubra do que está fugindo”

-Alejandro Jodorowsky-

Casal abraçado simbolizando a ligação com alguém errado
Ter que oferecer constantes demonstrações de afeto à pessoa insegura causa grande desgaste

O parceiro inseguro, um relacionamento de sofrimento

Vamos falar sobre relacionamentos: quando a maioria de nós inicia um relacionamento, queremos construir uma relação feliz, digno e significativo. Queremos parceiros de vida autênticos, amantes valiosos e pessoas maduras capazes de construir um projeto comum: sólido e enriquecedor. Isso é o que desejamos em letras maiúsculas e com luzes de néon piscando. No entanto, temos que admitir, a realidade às vezes é menos brilhante.

Segundo a Dra. Sandra Murray, professora de psicologia na Universidade de Buffalo e especialista em relacionamentos, parceiros amorosos caracterizados pela clássica insegurança pessoal podem se tornar sabotadores psicológicos.

Algo curioso que esse mesmo autor explica é que muitas mulheres costumam iniciar relacionamentos com homens inseguros logo após sair de um relacionamento complexo e tempestuoso com um parceiro narcisista. Descobrir de repente alguém que, à primeira vista, não parece tão focado em si mesmo, atrai. Ver que estamos lidando com uma pessoa falível, tímida e insegura ao mesmo tempo, pode nos seduzir por essa nuance mais humana e até próxima.

No entanto, à medida que a convivência começa e no dia a dia do próprio relacionamento, descobrimos arestas vivas. São como as pontas de um iceberg complexo que surge do nada e com o qual colidimos irremediavelmente, encontrando-nos com uma dimensão fria, distante e até destrutiva…

A que se deve esse comportamento?

Apegar-se a uma pessoa com grandes inseguranças, que lida com grandes lutas internas e que teme tudo, parte de diferentes origens. Essa dinâmica de aproximação e fuga, alterações de comportamento, grandes carências e profundas deficiências, explica-se por duas realidades:

1. Apego inseguro e ansiedade

Os estilos de apego definem a forma como nos relacionamos com nossos pais na infância. Assim, em uma investigação da Universidade de Milano-Bicocca, na Itália, por exemplo, algo interessante nos é sugerido. O bem-estar relacional é nutrido por um apego seguro. São relacionamentos baseados na confiança, independência e maturidade.

No entanto, as pessoas definidas por um apego ansioso ou inseguro são dominadas pela inquietação, pelo medo e até pelo ciúme constante. Elas não confiam nos outros, temem o abandono e precisam de mais demonstrações de afeto. A causa começa na infância com um pai que não atendia as suas necessidades.

2. Possíveis transtornos mentais subjacentes

A pessoa com inseguranças costuma apresentar desde problemas de ansiedade até uma personalidade marcada pelo neuroticismo (instabilidade emocional). É importante entender em todos os casos que esses perfis, dominados por alterações na forma de se relacionar, podem esconder algum distúrbio psicológico que deve ser tratado.

Casal conversando com psicólogo sobre se apegar à pessoa errada
Por trás da insegurança pode haver qualquer coisa, desde um transtorno de ansiedade, depressão até uma infância traumática. O cuidado profissional é essencial

As consequências de se relacionar com uma pessoa insegura

A princípio, como já apontamos, essa insegurança pode ser atraente para nós. Há algo de cativante, doce e até sedutor naqueles perfis vulneráveis, que admitem seus medos, suas dúvidas, suas limitações. Ainda mais, não faltam aqueles que se apaixonam por essas pessoas pensando que podem mudá-las, que podem agir como verdadeiros salvadores, dando segurança e temperança aos que se equilibram no fio tênue do medo.

No entanto, devemos ter algo bem claro. Nas relações de casal ninguém pode ou deve ir como salvador, como herói da baixa autoestima, como mago dos medos profundos ou como gestor valente de atitudes limitantes.

Isso por um motivo muito simples: não podemos mudar a personalidade de uma pessoa de um dia para o outro, ainda mais se nosso parceiro apresentar algum problema psicológico que deva ser tratado. Por outro lado, as consequências que se pode sofrer ao se relacionar com uma pessoa insegura são muitas e variadas. A seguir, falamos sobre elas.

1. Exaustão relacional

As pessoas inseguras são caracterizadas por uma necessidade constante de aprovação e reconhecimento externo. Não podemos esquecer que quem não sabe o que quer tem a autoestima em perigo. É como se fosse um pneu de bicicleta que fura constantemente, por isso precisa ser desmontado e “enchido”.

Isso nos torna figuras que devem atuar como validadores constantes das deficiências de nosso parceiro. Algo assim é exaustivo.

2. Eles vão quebrar seu coração e você vai se sentir sozinho

Outro aspecto comum tem a ver com comportamentos erráticos e caprichosos, com altos e baixos emocionais e a constante mudança de objetivos pessoais. Viver com um parceiro inseguro e imaturo é como entregar o coração a alguém que não sabe cuidar dele, que instantaneamente perde o interesse por ele e no dia seguinte precisa dele como do ar que respira.

3. Eles vão querer controlar você

A necessidade de controle também é uma característica comum. Essa falta de segurança pessoal muitas vezes dá lugar à desconfiança, à dúvida sobre o relacionamento do casal, ao medo do abandono, do engano ou da traição. Assim, é comum passar por momentos em que sentem a necessidade de controlar quase todos os passos do parceiro.

Como podemos ver, relacionar-se com uma pessoa que não investiu no seu crescimento pessoal, que é feita de medos e que é incapaz de investir com firmeza e saúde no próprio projeto de casal, pode ser a pior decisão.

O que podemos fazer se moramos com uma pessoa insegura?

A insegurança pessoal tem graus, isso é importante deixar claro. Haverá pessoas que estão plenamente conscientes dela e tentarão administrá-la, moderá-la o máximo possível. No entanto, há também aqueles que, longe de vê-la, assumi-la e aceitá-la, defendem-se dela vestindo armaduras de espinhos. Qualquer um que se aproxime demais está fadado a sofrer. Enquanto o delicado e frágil ser interior permanece seguro…

Dessa forma, o primeiro passo que devemos dar se estivermos nos relacionando com uma pessoa com esse perfil é fazer com que ela assuma sua responsabilidade, para poder ver esse comportamento inseguro como a origem da insatisfação do casal.

Por outro lado, devemos cuidar para que nosso estilo de vida permaneça e não acabe subserviente às necessidades do outro. Assim, não perderemos o fôlego inflando a baixa autoestima, nem entraremos nessas esteiras emocionais onde às vezes somos motivo de adoração e no dia seguinte do mais frio desinteresse. Porque se relacionar com alguém que não sabe o que quer pode desequilibrar nosso estado emocional.

Lembremos que o amor sábio não é inconstante, que quem ama de verdade sabe bem do que cuidar e pelo que lutar. Em um relacionamento saudável não vale a insegurança permanente, nem hoje eu te amo pela metade e amanhã por completo. Vamos permitir, então, encontrar um amor corajoso, digno, colorido e enriquecedor. Por último e mais importante, vamos ajudar a pessoa insegura a buscar ajuda profissional para curar seus medos e entender a origem de sua insegurança.


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