O que é a rigidez psicológica?
A rigidez psicológica define aquelas pessoas reféns de um padrão cognitivo e comportamental ferrenho. São perfis que não se abrem para novas perspectivas, que não admitem outros pontos de vista nem toleram as mudanças. Não entendem que a flexibilidade mental é essencial para uma vida saudável, para enfrentar dificuldades, para ter relações sociais mais felizes…
Embora certamente nos venha à mente algum conhecido que segue este padrão de comportamento, devemos admitir que todos nós, de certa forma, aplicamos em algum momento uma certa rigidez psicológica. É comum pensar, por exemplo, que determinadas coisas só podem ser solucionadas de um jeito, ou que os valores e crenças que tanto nos definem são verdades universais.
Cada um de nós se prende a uma série de conceitos que assume como imutáveis em alguns âmbitos. Em outras áreas, sabemos ceder, nos abrimos mentalmente a outras opiniões e perspectivas com facilidade e sem resistência alguma. O fato de que isso ocorra dessa forma não é negativo, não enquanto existir um equilíbrio em que sempre tendamos a praticar a flexibilidade psicológica.
Por outro lado, quem não cede, quem se torna prisioneiro dos seus próprios esquemas mentais, está preso a um claro sofrimento e mal-estar. No entanto, é necessário levar em conta que esta característica pode ir além de um estilo de personalidade para se tornar um traço típico de certos transtornos, como alguns tipos de demência, o transtorno do espectro autista ou o transtorno obsessivo compulsivo.
Vejamos mais dados a seguir.
“Para ver claramente, basta mudar a direção do olhar”.
-Antoine de Saint-Exupery-
3 componentes que definem a rigidez psicológica
Na terapia de aceitação e compromisso, o conceito de rigidez psicológica é fundamental. Neste tipo de enfoque de tratamento enquadrado no que conhecemos como terapias de terceira geração (focadas em educar e reorientar a vida do paciente a partir de um ponto de vista mais holístico), é essencial que a pessoa detecte esta falta de flexibilidade mental.
Desta forma, entende-se que grande parte do nosso sofrimento como pessoas parte das nossas próprias crenças imutáveis. São as mesmas que, de alguma forma, se nutrem daquilo que nos ensinaram culturalmente, e também dos valores e esquemas que utilizamos sem questionar e que permeiam nossas vidas, deixando-nos em uma realidade carente de impulso, de variabilidade, de abertura à mudança e de oportunidades.
Para este tipo de terapia, a rigidez psicológica é, portanto, um problema que precisamos resolver. Cabe destacar que este conceito foi mencionado pela primeira fez por Sigmund Freud na psicanálise. Para o psiquiatra vienense, era a resistência do paciente à mudança, era aquele ponto em que surgiam diversas atitudes e comportamentos que tornavam o avanço muito difícil e que evidenciavam a ponta do iceberg de um problema.
Os psicólogos Robinson, Gould e Strosahl (2011) explicaram no livro Real Behavior Change in Primary Care que a rigidez psicológica é definida por três componentes. São os seguintes.
Não se conectar com o presente
As pessoas caracterizadas pela rigidez psicológica não apreciam o presente. Elas vivem no seu cenário mental particular, onde todas as janelas ficam fechadas. Não admitem as novidades do aqui e agora onde ocorrem tantas coisas. Estes perfis não apreciam as oportunidades, não toleram a variabilidade, fogem do desconhecido, de todos os imprevistos.
Todas essas dinâmicas capazes de romper com a sua “estabilidade ferrenha” lhes provocam medo e contradição.
Não saber reconhecer as prioridades
Quando alguém tem prioridades claras, todos os caminhos ficam claros. Quando alguém sabe o que considera importante, não tem medo de arriscar, gerar mudanças, se abrir para novas perspectivas para se permitir crescer e cuidar melhor daquilo que estima.
No entanto, uma pessoa com rigidez psicológica se limita a seguir regras fixas, as suas. É incapaz de olhar além da sua zona de conforto, e o que mais a preocupa é ter o controle absoluto da sua realidade. Isso faz, por exemplo, com que sejam incapazes de ceder pelos demais, de atender necessidades alheias, de ser tolerantes, de se conectar com as pessoas entendendo seus pontos de vista.
Pouco a pouco, a qualidade das suas relações se deteriora, a frustração surge, e muitas das coisas que eram importantes para elas (e que elas não souberam apreciar) acabam passando ou indo embora.
O fechamento cognitivo: não tolerar a incerteza
A rigidez psicológica não tolera o imprevisto, e muito menos a incerteza. Assim, algo que devemos entender é que o nosso mundo é regido precisamente por esta característica: a imprevisibilidade. Saber se adaptar às mudanças, ser capaz de reagir de maneira criativa, original e flexível nos permite, sem dúvida, ir desembaraçando essas variações tão típicas do dia a dia.
Um perfil com rigidez psicológica apresenta o que conhecemos como fechamento cognitivo. É a necessidade de “eliminar” o quanto antes toda a incerteza ou ambiguidade que surge diante de qualquer situação. São pessoas que, diante de todos os problemas, emitem uma só resposta e, com frequência, escolhem a mais extrema.
Também são homens e mulheres que, diante de uma discussão ou desavença, adotam o comportamento menos útil ou construtivo, como romper a relação ou, simplesmente, deixar de dirigir a palavra à pessoa envolvida.
Para concluir, se você estiver se perguntando como e de que maneira pode combater a rigidez psicológica, queremos indicar que terapias como a cognitivo-comportamental e a terapia de aceitação e compromisso são muito úteis nesse processo.
Além disso, como revela um estudo de Jonathan Greenberg, da Universidade de Beer-Sheva, Israel , práticas como o mindfulness são muito adequadas para treinar um enfoque mental mais flexível no dia a dia.
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- Greenberg, J., Reiner, K., & Meiran, N. (2010). “Mind the Trap”: Mindfulness Practice Reduces Cognitive Rigidity. PLoS ONE, 5(1). https://doi.org/10.1371/journal.pone.0036206