Todos nós temos um segredo guardado a sete chaves no sótão da nossa alma

Todos nós temos um segredo guardado a sete chaves no sótão da nossa alma

Última atualização: 02 abril, 2023

Dizem que manter um segredo guardado não é bom, que machuca. No entanto, às vezes é mais comum sermos feridos quando damos o passo na hora de revelar essa confidência. Porque há corações traiçoeiros que nos fazem sentir ingênuos quando lhes oferecemos a chave da nossa alma.

Não podemos negar. Todos nós temos estes oceanos privados em cujas profundidades se encontram vários segredos protegidos com correntes grossas e inúmeros cadeados. De vez em quando olhamos para lá, com bastante cuidado, para relembrar um fato. Um detalhe. Uma imagem. Um prazer oculto ou até mesmo um momento traumático do passado.

Muitas vezes, o fato de manter um segredo faz com que, inevitavelmente, iniciemos a conduta do engano. Faz isso quem, por exemplo, mantém um vício, procedendo assim a ferir a si mesmo e aos outros. Também comete o engano quem já não ama, quem sente seu coração ermo em relação à pessoa com quem convive e ainda assim escolhe se calar e seguir em frente por medo, por indecisão, por costume ou por uma combinação de tudo isso.

São realidades que de uma forma ou de outra, todos nós conhecemos. No entanto, nem todos os segredos têm este componente onde um deve proceder ao engano para salvaguardar sua realidade pessoal não assumida. O certo é que existem segredos que, longe de causar algum conflito com a nossa pessoa e com o ambiente, são como tesouros preciosos envolvidos pelo véu do silêncio.

Não sabemos muito bem por que é assim, mas existem fatos que, se forem ditos em voz alta e ao ouvido da pessoa errada, perderiam o seu brilho. Sua essência singular e transcendente para o nosso ser.

O segredo que fica para sempre no diário pessoal

Há segredos dolorosos. Fatos pessoais que requerem, sem dúvida, uma alavanca para podermos nos curar e libertar. Um erro com consequências, um engano ou um trauma não enfrentado, nos leva por vezes a guardar uma série de confidências que envolvemos com cercas ferroviárias durante meses, e até anos.

Quando isto ocorre, não hesitamos em usar mecanismos de defesa afiados; assim, estabelecemos uma distância de segurança entre o mundo exterior e essa zona delicada que cura lentamente a nossa ferida secreta. Dizemos a nós mesmos que “está tudo bem”, que “a vida segue“. No entanto, essa ferida, longe de se cauterizar, infecciona ainda mais. É quando o nosso comportamento oscila entre a ansiedade, a impotência e a depressão.

Mas dizer esses fatos em voz alta também supõe ao mesmo tempo enfrentarmos outro foco de estresse. Porque nunca sabemos como as outras pessoas irão reagir… Em essência, romper este falso equilíbrio no qual nos sustentávamos.

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Revelações de família

Todos temos bastante consciência daquilo que dói, que pesa, que devemos deixar ir. Sabemos que dizer em voz alta os fatos que alguém escolhe esconder debaixo do tapete da nossa mente pode nos liberar, nos curar. No entanto, há quem escolha não fazer isso nunca. A título de curiosidade, falaremos da doutora Evan Imber-Black. Ela é psiquiatra familiar e diretora do “Centro para a Família e a Saúde” do Bronx, em Nova Iorque.

Em seu livro “Secrets in Families and Family Therapy”, ela relata como muitas pessoas encontraram um grande benefício mantendo um diário ao longo das suas vidas. Estas vivências pessoais – impressas às vezes com uma má caligrafia e uma letra trêmula – escondiam verdadeiros dramas ou fatos impactantes que jamais se atreveram a compartilhar com suas famílias. Para elas, a escrita virou um salva-vidas cotidiano.

No entanto, assim como a doutora Imber Black nos explica, os segredos de família, longe de se evaporarem, são transmitidos de geração em geração como heranças, como “armadilhas” esperando para explodir. Embora este fato não seja relevado, o clima emocional negativo e a tensão contaminam toda a dinâmica.

Manter um diário ajuda, mas não basta. É necessário libertá-los, reconstruir, curar .

Confidências que guardo apenas no sótão da minha alma

Há segredos, diferentemente dos anteriores, que não machucam. Que são nossos, assim como a nossa pele, nosso oxigênio ou aquelas cicatrizes que ganhamos quando éramos crianças e que de vez em quando acariciamos para nos transportarmos para um momento do passado. Existem recordações que nos definem e que, simplesmente, escolhemos não compartilhar com ninguém.

Às vezes, estes tesouros privados são feitos de sensações e pensamentos surgidos em um determinado momento. Outras vezes, não são mais do que vivências, aquelas que formam o tecido emocional que nos define agora. Recordações que não podem ser ditas em voz alta porque há palavras que não conseguem descrever a imensidão daquelas sensações que ainda nos fazem tremer por dentro.

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Algo que também todos nós sabemos é que às vezes escolhemos compartilhar estes delicados segredos com a pessoa amada. Fazer isso é algo sobre o que temos que pensar muito. Não é bom abandonar durante muito tempo a emocionalidade do momento, porque corremos o risco de que estes espaços privados sejam profanados bruscamente com a ironia, a decepção ou inclusive a traição. 

Acredite ou não, é sempre bom ficarmos com algo secreto para nós. São ilhas privadas, jardins muito isolados onde podemos nos enraizar, onde podemos voltar de vez em quando para encontrar a calma, para nos abraçarmos no prazer tranquilo da nossa essência.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.