7 sinais de que a cultura competitiva está prejudicando o ambiente de trabalho

Em um mundo cada vez mais complexo e dinâmico, a competitividade parece ser esse motor que movimenta toda organização e ambiente de trabalho. Pois bem, a que preço? Que efeito tem essa dimensão nas pessoas? Este é o tema que concerne o seguinte artigo.
7 sinais de que a cultura competitiva está prejudicando o ambiente de trabalho
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 03 junho, 2023

A cultura competitiva é a espinha dorsal de quase todas as fases da sociedade. Ela é internalizada desde a infância na escola e, posteriormente, suas engrenagens se intensificam ao ingressar no mundo do trabalho. Foi o psicólogo e filósofo inglês Herbert Spencer quem cunhou o clássico termo “sobrevivência do mais apto” para definir essa suposta necessidade de competir entre nós.

No entanto, nos últimos anos, cada organização enfrenta uma concorrência constante mais do que nunca para agregar valor e permanecer nos mercados. Mas a que preço? Também é necessário desenvolver uma rivalidade interna entre os próprios funcionários? Que efeito isso tem no ambiente de trabalho ? Todas essas variáveis interessantes são analisadas a seguir.

«Nada de belo pode sair da rivalidade; e do orgulho, nada nobre».

-John Ruskin-

Cultura competitiva nas empresas

Foi Aristóteles Onassis quem disse: “Não tenho amigos nem inimigos, apenas concorrentes”. Essa ideia exemplifica muito bem a visão de muitos grandes empresários e daqueles que, afinal, tentam monopolizar a liderança de seus negócios. Não é errado apontar que a cultura competitiva vem crescendo nas últimas décadas.

Como o professor da Escola de Negócios de Harvard Michael E. Porter indica em seu livro Estratégia competitiva (2009), competir é um imperativo para qualquer organização. Essa estratégia é o que faz a diferença em termos econômicos e de crescimento de qualquer empresa, dada a grande rivalidade e mudanças que ocorrem no meio empresarial e na sociedade.

A cultura da competitividade é um fenômeno generalizado, incrementado em decorrência da globalização e que crescerá com o desenvolvimento de novas tecnologias. Isso explica porque é comum ver a mesma dinâmica no funcionamento interno das empresas com seus funcionários. É um mecanismo que, em certos casos, não traz os benefícios esperados.

Sinais de como a competitividade afeta o ambiente de trabalho

Todos nós trabalhamos em um ambiente competitivo de tempos em tempos. A primeira coisa a saber é que a competição interna entre os funcionários motiva alguns e desencoraja outros. Nem todo mundo vive esses tipos de situações da mesma maneira. A Universidade de Pequim enfatizou em um estudo que é a personalidade do trabalhador que medeia esse comportamento competitivo traduzido em bom desempenho.

No entanto, o problema reside nas organizações que estabelecem uma cultura competitiva acirrada para atingir os objetivos. Elas também o fazem criando um ambiente de trabalho carente de cooperação e coesão. São cenários que, longe de estimular a criatividade e a produção, não trazem nenhum benefício. Vejamos a seguir o que teriam essas dinâmicas.

Há funcionários que processam a competitividade no trabalho como uma força motivadora. Outros, por outro lado, veem essas situações como experiências estressantes.

1. Conflitos no local de trabalho

O Instituto Nacional de Saúde Ocupacional de Oslo publicou uma análise interessante em 2022 sobre esse tema. Conflitos no local de trabalho geralmente resultam em licença médica. O impacto dessas dinâmicas internas em uma organização é imenso.

Em muitos casos, a cultura competitiva de uma empresa gera divergências, críticas e até assédio entre os funcionários. A necessidade de se destacar e alcançar o mérito pela superação dos pares, configura situações tão incômodas quanto ameaçadoras.

2. Estresse disfuncional crônico

A competitividade do trabalho é produtiva em certas circunstâncias. Se os mecanismos forem bem estruturados e um plano claro com objetivos específicos for criado, a experiência será gratificante e bem-sucedida. Porém organizações dominadas por um ambiente de trabalho onde a competitividade é uma constante, trazem grande desconforto psicológico aos seus colaboradores.

O estresse em momentos específicos atua positivamente. Por outro lado, quando pressões e rivalidades fazem parte do tecido laboral, a saúde mental acaba sendo afetada.

3. O comportamento antiético pode aparecer

A cultura competitiva desestruturada, constante e baseada na rivalidade leva a comportamentos de trapaça. Além disso, há respostas e ações antiéticas que beiram o criminoso. Se o único objetivo é conseguir mais que o outro e ser o melhor da equipe, a coesão, a empatia e o respeito mútuo desaparecem. É então quando a rivalidade leva a realidades ameaçadoras e disfuncionais.

4. Diminuição da produtividade

A Universidade da China abordou um fator interessante em uma investigação. Em média, os funcionários mais competitivos são os que trazem inovação para a empresa e os que apresentam a autoeficácia mais percebida. Como apontam no referido inquérito, é necessário saber em que circunstâncias e contextos ocorrem esses comportamentos.

Se o ambiente de trabalho for ideal, bem estruturado e a competição não for implacável, haverá resultados positivos. Pelo contrário, em contextos dominados por forte concorrência, os próprios funcionários sentem-se desanimados e a produtividade é prejudicada.

Um exemplo disso são aquelas empresas em que são publicadas estatísticas ou tabelas das conquistas de alguns e do mau desempenho de outros. A exposição pública, apontar e destacar certas pessoas gera um substrato de constante pressão e desânimo.

Ter que proteger nossa posição na empresa contra colegas que se tornam rivais é uma experiência que prejudica a saúde mental.

5. A cultura competitiva: quando você passa do desafio à ameaça

A competitividade é impulsionada pela motivação e pelo desejo de alcançar. Também por aquela autoconfiança na hora de desafiar outras figuras nas mesmas condições. Há algo de enriquecedor nesses processos que ninguém pode negar. Isso porque a competição é uma forma de desafio e quando há propósito e entusiasmo, grandes objetivos são alcançados.

O problema com o ambiente de trabalho competitivo em muitas empresas é que ele é cruel e as pessoas não se sentem desafiadas; eles se sentem ameaçados. De repente, os colegas de trabalho não são nossa equipe, mas rivais; eles se tornam figuras que inventarão truques e mecanismos para nos expor e minar nossa produtividade. Não é um mecanismo ético ou de sucesso para nenhuma organização.

6. O conformismo pode ser estabelecido

Estando imerso em um ambiente de trabalho adverso, altamente competitivo e desgastante, pode chegar um momento em que o conformismo se instala. Longe de melhorar o desempenho e a autoeficácia, pode-se optar por fazer o mínimo para não se estressar ou levar a dinâmicas prejudiciais.

Em vez de nos esforçarmos para “ser o melhor de todos”, preferimos “ser como todos” e não nos esforçar mais do que o necessário. Esse mecanismo nada mais é do que uma resposta de autoproteção e sobrevivência.

7. A saúde mental é afetada em ambientes altamente competitivos

Existem personalidades que se adaptam e veem benefícios em ambientes altamente competitivos; outras, porém, são mais vulneráveis ao estresse e à ansiedade. Conseqüentemente, embora seja verdade que os efeitos da cultura competitiva no local de trabalho variam entre os funcionários, em ambientes onde a rivalidade é tóxica e pouco inteligente, há sequelas. Esses efeitos acabam condicionados pelas seguintes experiências:

  • Não vemos nosso valor reconhecido.
  • O estresse é uma experiência constante.
  • Todas as figuras no local de trabalho parecem ameaças.
  • Nesses contextos a pessoa leva os problemas e angústias para casa.
  • Há uma percepção permanente de que, em algum momento, perderemos nossos empregos por não sermos suficientemente competitivos.

Todas essas variáveis são sérios condicionantes do bem-estar mental. A saúde psicológica é afetada pela perene competitividade no trabalho.

Uma das maiores preocupações que o funcionário tem em um ambiente de trabalho competitivo é ser demitido a qualquer momento por não atingir os objetivos esperados ou não estar no nível dos trabalhadores mais bem-sucedidos.

cultura competitiva está prejudicando o ambiente de trabalho
Nos empregos, é sempre melhor promover uma cultura de trabalho cooperativo.

Cultura de trabalho cooperativo, comparada com a competitiva

A eficácia organizacional nem sempre reside na criação de ambientes de trabalho competitivos entre os próprios funcionários. A sociedade e o campo empresarial já são bastante hostis e complexos. Será sempre favorável criar mecanismos que modelem ambientes de trabalho colaborativo.

Existem conhecidas empresas de tecnologia que baseiam sua cultura interna na formação de seus trabalhadores em uma mentalidade cooperativa. Essa é a única forma de enfrentar os desafios e as constantes mudanças. Ver os colegas como apoio e uma figura capaz de estimular a criatividade é um pilar de grande valor. O mesmo não é verdade se você os percebe como um adversário ou uma ameaça.

Atualmente, toda empresa concorre com dezenas de organizações do mesmo setor. Não criemos a mesma dinâmica dentro das próprias empresas, sejamos capazes de trabalhar juntos, com sinergia e inovação, para olharmos juntos para o mesmo horizonte. Só então o sucesso será alcançado.


Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.



Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.