Síndrome de Kleine-Levin: características, causas e tratamento
Os distúrbios do sono costumam afetar a qualidade de vida das pessoas que os sofrem, pois o sono é um processo fisiológico essencial para a vida e necessário para recuperar as forças e descansar. Hoje vamos falar sobre um distúrbio neurológico um tanto estranho, que afeta especialmente o sono: a síndrome de Kleine-Levin.
Esse distúrbio, que afeta 1 em cada 500.000 pessoas, é caracterizado principalmente pelo aparecimento de episódios de hipersonia (períodos de sono intenso ou sonolência excessiva), embora também cause outros sintomas. Quais são? Como esta doença pode ser tratada? Aprenderemos tudo isso e muito mais neste artigo.
“O sono é a melhor meditação.”
-Dalai Lama-
Síndrome de Kleine-Levin: características
A síndrome de Kleine-Levin, também chamada de síndrome da Bela Adormecida, é um distúrbio de origem neurológica considerado um tipo de hipersonia.
É considerada uma condição rara e de origem desconhecida. É caracterizada pelos seguintes sintomas:
- Episódios de hipersonia profunda (sonolência excessiva).
- Alterações cognitivas.
- Distúrbios comportamentais.
- Desaceleração física e mental.
- Fadiga
A característica central desse transtorno são episódios de hipersonia recidivantes e remitentes, que se traduzem no fato de a pessoa poder dormir até vinte horas por vez. Esses episódios podem durar de horas a dias ou semanas, e ocorrem em várias ocasiões ao longo do ano.
Quando a pessoa está acordada, apresenta comportamentos compulsivos, desinibição, comportamentos infantis ou agressivos, etc.
Além disso, durante a vigília, a pessoa com síndrome de Kleine-Levin pode apresentar emocionalidade lábil, irritabilidade e até fenômenos dissociativos (como a desrealização) ou alterações perceptivas (como alucinações).
Início, duração e prevalência
A síndrome de Kleine-Levin geralmente começa na adolescência (mas também na infância) e é mais comum em homens (até três vezes mais comum, de acordo com a Classificação Internacional de Distúrbios do Sono).
A Orphanet coloca a sua prevalência em homens em 68-78%. A maioria deles são adolescentes (81% dos casos), e a idade média de início é de 15 anos (embora a faixa seja de 4 a 82 anos).
Essa síndrome é um distúrbio recorrente, embora tenda a desaparecer com o passar dos anos. Sua duração geralmente é de décadas.
Causas da síndrome de Kleine-Levin
O que causa a síndrome de Kleine-Levin? Atualmente, as causas desse transtorno são desconhecidas. No entanto, algumas hipóteses foram estabelecidas e fala-se da presença de algumas alterações funcionais no hipotálamo e no sistema límbico.
Por outro lado, especula-se sobre alterações em outras estruturas subcorticais do cérebro que estariam relacionadas à regulação das emoções e do sono.
Nesse sentido, foram encontrados pacientes com hipoperfusão no sistema límbico, no tálamo e no córtex frontotemporal. Além disso, uma desaceleração da atividade eletroencefálica (EEG) foi encontrada em alguns pacientes.
Outras hipóteses
Algumas hipóteses etiológicas da síndrome de Kleine-Levin falam do fator genético. Em algumas famílias, foi observada a existência de vários casos da doença. No entanto, esta é uma hipótese a ser confirmada.
Além disso, essa síndrome é considerada a de menor incidência familiar de todas as patologias do sono. Finalmente, os ferimentos na cabeça, a presença de forte estresse e doenças infecciosas médicas são consideradas possíveis causas da doença.
Prognóstico
O prognóstico para a síndrome de Kleine-Levin costuma ser bom. A maioria das pessoas afetadas pela doença apresenta episódios menos graves e frequentes com o passar do tempo (nesse sentido, o distúrbio vai se suavizando). É comum que por volta dos 30-35 anos a síndrome desapareça.
Por outro lado, em períodos assintomáticos, os pacientes costumam ter leves dificuldades de concentração ou lembrança de eventos (em 20-30% dos casos, de acordo com Arnulf et al. [2008]). Uma pequena parte das pessoas afetadas pela síndrome têm distúrbios psiquiátricos persistentes.
Tratamento da síndrome de Kleine-Levin
Embora seja verdade que atualmente a síndrome de Kleine-Levin não tem cura, existem algumas alternativas para melhorar a qualidade de vida dessas pessoas.
Farmacologia
Do ponto de vista farmacológico, drogas estimulantes são prescritas para aumentar a atividade e o estado de alerta das pessoas e para reduzir o número de episódios de hipersonia e sua duração. Ainda assim, os estimulantes também têm suas desvantagens, pois podem causar outros sintomas, como alucinações ou comportamentos impulsivos.
Além dos estimulantes, os antipsicóticos têm sido usados para tratar distúrbios de comportamento derivados da síndrome. Antidepressivos (como IMAO ou imipramina), estabilizadores de humor e anticonvulsivantes também têm sido usados.
Psicoterapia
A nível psicoterapêutico, o tratamento visa fornecer orientações de higiene do sono e rotinas diárias que favoreçam a qualidade de vida da pessoa afetada. Nesse sentido, a psicoeducação terá uma grande importância.
Por meio da psicoterapia, todas as alterações emocionais derivadas da síndrome de Kleine-Levin podem ser tratadas.
Para que o paciente possa vivenciar sua doença da forma mais adaptativa possível, pode-se optar pelo uso de técnicas cognitivo-comportamentais, como a reestruturação cognitiva. Esta ferramenta tem o objetivo de modificar os pensamentos disfuncionais da pessoa (neste caso, associados à sua doença, sintomas ou dificuldades decorrentes deles).
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- Arias, M.; Crespo, J.M.; Pérez, J: Requena, I.; Sesar, A. & Peleteiro, M. (2002). Síndrome de Kleine-Levin: aportación diagnóstica de la SPECT cerebral. Rev. Neurol.; 35 (6): 531-533.
- Arnulf, A.; Lecendreux, M.; Franco, P. & Dauvilliers, Y. (2008, revisado en 2018). Le syndrome de Kleine-Levine. Encyclopédie Orphanet. [En línea]. Disponible en: www.orpha.net/data/patho/Pro/fr/KleineLevin-FRfrPro10326v01.pdf [20/05/2017].