Sublimação: a arte de reorientar nossas angústias

Sublimação: a arte de reorientar nossas angústias
María Alejandra Castro Arbeláez

Escrito e verificado por a psicóloga María Alejandra Castro Arbeláez.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Podemos liberar nossas tensões através da sublimação. Trata-se de uma forma incomparável de reorientar nossas angústias a algo que seja mais saudável. Assim, reforçamos nosso bem-estar.

Às vezes, acumulamos angústias tão grandes que não sabemos como lidar com elas. Trata-se de um sofrimento intenso, que vamos deixando que, pouco a pouco, se apodere de nós.

No entanto, existem mecanismos para nos defender e colocar uma barreira nesse sentimento tão profundo. Através da sublimação, podemos conseguir redirecionar esse sofrimento.

Então, embora seja próprio da natureza humana passar por momentos difíceis que nos causam mal-estar, podemos estabelecer um limite para as nossas angústias. Até mesmo reorientá-las, dando-lhes uma direção mais saudável. Isso não é maravilhoso?

Através da sublimação, podemos dar outra forma ao sofrimento. A seguir, vamos contar um pouco mais sobre o que falamos exatamente, quais são seus benefícios e algumas formas de sublimar.

“Nossos complexos são a fonte da nossa fraqueza. Mas com frequência também são a fonte da nossa força”.
-Sigmund Freud-

Sublimação: do que se trata?

A sublimação é uma parte dos mecanismos de defesa descritos por Sigmund Freud. Um mecanismo de defesa é uma via com a qual contamos para enfrentar nossas angústias. Estas surgem, por exemplo, quando temos um medo com o qual não sabemos lidar.

No caso da sublimação, surge para redirecionar nossos impulsos a algo que seja socialmente aceito. Freud sugeriu que se trata de uma via de elaboração das pulsões com a capacidade de deslocá-las.

Assim, podemos entender que é um mecanismo através do qual somos capazes de reorientar nossas angústias em direção a uma conduta que não nos cause prejuízos no âmbito social.

Sigmund Freud

Nas palavras de Freud, “a cultura repousa totalmente na coerção dos instintos”. Nesse sentido, afirmaríamos que há assuntos aceitos no âmbito cultural e, através da sublimação, poderíamos reorientar o que nos causa angústia a tais assuntos ou níveis de expressão (como pintura, literatura, escultura, etc).

No entanto, Freud não foi o único que falou sobre esse conceito: alguns de seus contemporâneos e sucessores também o fizeram (e continuam fazendo).

Por exemplo, Nietzsche formulou o conceito na mesma época que Freud, mas deu maior ênfase à sublimação artística, referindo-se à arte como um Deus salvador. Jaques Lacan também mencionou o conceito, mas deu destaque à sublimação como uma satisfação substitutiva.

Mesmo atualmente, esse conceito continua a ser estudado. Por exemplo, Javier Cuevas del Barrio dedicou, em sua tese de doutorado (Universidade de Málaga, na Espanha), uma seção ao conceito da sublimação. Ele se concentrou na influência desse conceito na arte das vanguardas e explorou a sua transformação através de vários autores.

Muito além da criação artística

Ao longo do tempo, desde que foi formulado o conceito de sublimação, fala-se que uma forma de redirecionar o sofrimento é por meio da arte, mas existem outras.

Embora a arte seja um veículo mobilizador das emoções, que atua de forma inigualável como suporte para representar nossos aspectos inconscientes e conscientes, há outras formas de sublimar.

Como na sublimação ocorre o redirecionamento a algo que seja aprovado socialmente, é possível realizá-la através de diferentes vias. Uma forma bastante estudada também é por meio do trabalho.

Podemos transferir nossas angústias a algo que seja aceito pela nossa cultura, que neste caso seria trabalhar. Por exemplo, um cirurgião que, em vez de seguir seus instintos, faz operações, algo socialmente aceito. Assim, descarrega suas tensões.

Além disso, podemos sublimar praticando esporte. Trata-se de redirecionar nossas angústias ao exercício físico. Uma forma ímpar de liberar a energia que nossos impulsos podem conter. Além disso, ao praticar esportes produzimos endorfinas, um neurotransmissor que cuida do nosso humor.

Outra maneira de sublimar que talvez não identifiquemos como tal é através das novas tecnologias. São recursos maravilhosos que utilizamos diariamente para sair das nossas angústias. Por exemplo, podemos assistir séries que incluam acontecimentos inaceitáveis no mundo real, como matar.

Mulher correndo ao ar livre

Benefícios da sublimação

É difícil ter consciência dos nossos mecanismos de defesa porque eles agem em um espaço de difícil acesso para a nossa consciência, até mesmo com angústias que não somos capazes de reconhecer. Estando conscientes ou não, a sublimação pode nos trazer grandes benefícios.

Vamos ver alguns deles:

  • Protege nossa psique.
  • Alivia tensões.
  • Fomenta os processos de socialização.
  • Facilita a compensação psicológica.
  • Altera estados mentais que podem ser prejudiciais.
  • Diminui o estresse.

Cada forma de sublimar representa um benefício para a nossa saúde mental. Embora não tenhamos consciência desse mecanismo, podemos conseguir descobrir como ele age em nós. O autoconhecimento e a psicoterapia são uma grande opção para explorá-lo.

A sublimação é um mecanismo de defesa que age como um guia para nossas angústias. Ela as leva a outro plano, no qual se expressam de uma forma mais saudável. Então, é uma forma através da qual nossa mente nos protege.

Em vez de seguir nossos impulsos e fazer coisas fora da lei, passamos a orientar nossas angústias a assuntos que sejam compreensíveis para a nossa sociedade, liberando, assim, nossas tensões.


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  • Cuevas del Barrio, J. (2012). Entre el silencio y el Rechazo. Sigmund Freud ante el arte de las Vanguardias. Tesis Doctoral. Universidad de Málaga.
  • Freud, S. (1996). La moral sexual cultural y la nerviosidad moderna. Obras Completas. Tomo II. Madrid: Bliblioteca Nueva, p. 1251.

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