O Sutra do Coração, um texto budista repleto de sabedoria

No Sutra do Coração estão as verdades mais profundas ​​da filosofia budista. Juntamente com o Sutra do Diamante, é considerado um dos escritos budistas mais sábios. Nos fala sobre o vazio e o despertar, e a iluminação que esse conceito implica.
O Sutra do Coração, um texto budista repleto de sabedoria
Gema Sánchez Cuevas

Escrito e verificado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Última atualização: 06 março, 2020

O Sutra do Coração é um texto bastante popular da escola de pensamento budista. É considerado o mais estudado e pesquisado de todos os textos budistas. Atrai muitos seguidores para essa filosofia por sua brevidade e por ser visto como um compêndio de sabedoria.

É muito interessante que um texto tão curto tenha sido tão pesquisado pelos budistas e que seja identificado como um dos ensinamentos que exigem uma vida inteira para realmente ser entendidos. O Sutra do Coração tem apenas 14 versos, originalmente escritos em sânscrito. Termina com o que é considerado um dos mantras mais poderosos do budismo.

O Sutra do Coração data do século I, embora alguns acreditem que possa ser ainda mais antigo. Ele fala sobre vários dos conceitos centrais do budismo, como o vazio, o desapego, a compaixão, a forma, a vontade e a consciência.

“Todos os atos errados vêm da mente. Se a mente mudar, como esses atos podem permanecer?”
-Buda-

O vazio e o Sutra do Coração

O vazio e o Sutra do Coração

Quase todo o Sutra do Coração se centra no conceito do vazio. No entanto, esse vazio tem um significado diferente do “nada”, como os ocidentais entendem.

O vazio não é o mesmo que ausência ou falta, porque o vazio do que ou de quem não está presente é repleto dessa ausência. O mesmo vale para o conceito de falta: não está vazio, mas cheio dessa presença imaginária do que está faltando.

Quando os budistas falam de vazio, se referem à ideia de que nada que existe tem uma realidade intrínseca. Isso significa que tudo muda e está sempre mudando, ou seja, sendo e deixando ser. O que percebemos com os nossos sentidos é apenas a aparência das coisas. É por isso que achamos que a realidade é “cheia”, mesmo que não seja.

O vazio se relaciona com a constante mutabilidade de tudo o que existe. Nada cessa ou difere completamente do resto, nem é puro ou impuro, completo ou deficiente.

O que realmente existe são formações mentais que nos levam a ver a realidade como a percebemos. No entanto, essas formações mentais não são realidade. Realidade é independente e muda a todo momento, mesmo sem percebermos.

O mantra enigmático

Ao contrário do que algumas pessoas pensam, mantras não são palavras mágicas  para atrair boa sorte ou alcançar certos objetivos. No budismo, são um caminho para alcançar certos níveis de meditação. Sua função é contribuir para o despertar da consciência.

O mantra no final do Sutra do Coração é: Gate gate Pāragate Pārasaṃgate’ Bodhi svāhā.

Está em sânscrito e sua tradução seria: “Partir, partir, partir para o alto, partir para o mais alto despertar. Que assim seja!”. Há quem o tenha traduzido da seguinte forma: “Foi, foi, foi além. Completamente exposto, despojado. Desperto. Salvação!

Aqueles que entendem do assunto apontam que a palavra sânscrita Gate refere-se precisamente ao vazio, mas em um nível pessoal. É equivalente ao conceito de “não-eu”. O que parte ou vai é o “eu”.

O mantra é, então, um chamado para se separar de si, que é considerado uma fonte de equívocos e sofrimento. O “eu”, nesse caso, é um sinônimo para o ego. O que se busca é que o ego se dissipe para que o vazio surja.

Velas acesas

Os ensinamentos do Sutra do Coração

Embora o Sutra do Coração seja um texto de grande complexidade, no final o que mostra é o caminho para alcançar o “despertar” ou a “salvação”. Ele consiste em abandonar o ego para encontrar o vazio e, assim, acessar uma profunda percepção e compreensão da realidade.

Em outras palavras, quem é guiado por seus olhos, ouvidos e mãos, assim como pela sua mente, está destinado a não conhecer ou entender a realidade. Da mesma forma, quem consegue se libertar dos sentidos e da própria maneira de pensar da sua mente consegue se fundir com a realidade e entendê-la, não como um ato intelectual, mas em termos de uma experiência transcendental.

O despertar é precisamente o estado em que paramos de perceber o mundo por meios limitados, como através dos nossos sentidos e da nossa própria mente. A iluminação equivale a um entendimento completo que, para os budistas, traz duas grandes virtudes: desapego e compaixão.


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  • López-Gay, J. (1992). El” Sutra del Corazón” y el” In-Sistencialismo”. Oriente-Occidente, 10(1-2), 17-26.


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