Tudo que acontece é perfeito, segundo os estóicos

Os estóicos afirmam que tudo que acontece é perfeito. Eles veem as coisas dessa forma porque presumem que existe uma ordem universal, na qual temos apenas uma pequena margem de ação. Tudo que acontece conosco é uma revelação, e deve ser visto dessa forma.
Tudo que acontece é perfeito, segundo os estóicos
Gema Sánchez Cuevas

Escrito e verificado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Última atualização: 05 março, 2021

Um importante número de filósofos estóicos sustenta a ideia de que existe uma ordem universal em tudo o que acontece. Em outras palavras, tudo que acontece é perfeito, de uma forma ou de outra. Ou seja, só acontece o que precisa acontecer: o que tiver que acontecer, acontecerá. Entre os que sustentam esta perspectiva encontram-se grandes pensadores, como Sêneca.

A perfeição mencionada por estes filósofos não é a ausência total de erros, defeitos ou dificuldades. Eles se referem a um tipo de coerência a partir da qual cada peça se encaixa em seu devido lugar. Há uma lógica interna nos fatos que sempre acaba prevalecendo.

Minha fórmula para expressar a grandeza no homem é o amor fati [amor ao destino]: não é querer que nada seja diferente, nem no passado, nem no futuro, nem por toda a eternidade. Não só para suportar o necessário, e menos ainda para escondê-lo ― todo idealismo é mentira diante do necessário ― e sim para amá-lo.
-Friedrich Nietzsche-

Nesse ponto, os estóicos concordam com as filosofias orientais e com um grande número de religiões. Tudo que acontece é perfeito porque vai ao encontro de um destino. Não necessariamente um destino escrito de antemão, mas configurado por inúmeras circunstâncias que se unem para dar origem a tudo o que acontece constantemente conosco.

Mulher olhando o horizonte

Tudo que acontece é perfeito

Há uma série de circunstâncias que marcam um destino para nós desde o momento em que nascemos. Em primeiro lugar, o simples ato de nascer não é uma escolha. Em seguida, vem a nossa configuração genética, que também não é fruto de uma decisão deliberada. Além disso, também somos registrados sob um gênero ou outro ao nascer. Tudo isso, como um todo, já define uma grande constelação de circunstâncias que determinam nossas vidas.

A isso podemos acrescentar o fato de que não escolhemos os pais que nos trazem ao mundo. Nem a nacionalidade, classe social, família ou o ambiente imediato no qual nascemos. Da mesma forma, também não temos nenhum controle sobre o momento histórico em que nascemos. Esses múltiplos condicionamentos estão completamente fora do nosso controle.

Como se tudo isso não bastasse, nosso destino é moldado, em grande parte, pelo lugar que ocupamos entre nossos irmãos e pelo estado físico e emocional em que os nossos pais se encontravam no momento em que viemos ao mundo. Então, muitos perigos irão moldar a nossa formação. Para os estóicos, tudo que acontece é perfeito porque resulta numa forma de vida única e exclusiva.

A aceitação

Obviamente, muitos desses eventos iniciais que podemos chamar de “destino” contêm contradições, dificuldades e problemas. Porém, também apontam um caminho específico que cada um de nós deve percorrer, de acordo com suas particularidades. A partir daí, tudo que acontece é perfeito porque desenvolve a essência de quem somos.

O erro é supor que existem modelos ou paradigmas universais para o ser humano. Não existe um momento ideal para nascer, nem pais ideais, nem nenhuma das outras circunstâncias podem ser isentas de contradições. Não perceber isso nos leva a um inconformismo absurdo.

E é absurdo porque é inútil se rebelar contra o impossível. Podemos negar muito, mas isso não muda nada. Na verdade, quanto melhor aprendermos a aceitar essa realidade única e exclusiva que vivemos, menos expostos estaremos ao sofrimento. É como se uma rosa fosse rejeitada por não ser um cravo. Absurdo.

Mulher pensando na vida

Aceitar não é se resignar

Nem Sêneca, nem os outros filósofos estóicos, pensam que a aceitação do único destino que nos corresponde equivale à resignação. Muito menos uma resignação amarga, que leve à impotência. Em vez disso, defendem que devemos abraçar o que acontece conosco, entendendo que tudo que acontece é perfeito. Devemos comemorar esse mistério que nos torna completamente únicos no mundo.

Temos, de qualquer maneira, uma margem para a ação. Ela é pequena, mas existe. Ela se manifesta como a possibilidade de escolher um caminho ou outro, por uma ou outra ação, em diferentes momentos da vida.

Os estóicos insistem que a aceitação da ordem universal se materializa quando não negamos os resultados das nossas ações, mas quando os abordamos como uma revelação.

O que somos e o que fazemos na nossa vida não é louvável se estiver dentro do “correto”. Tudo isso possui um valor intrínseco, porque se trata da expressão de um destino já amplamente traçado. Nosso papel é tentar entendê-lo, orientá-lo e aceitar com gratidão o que ele nos traz.


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  • Boeri, M. D. (2007). Necesidad, lo que depende de nosotros y posibilidades alternativas en los estoicos: Réplica a Ricardo Salles. Crítica (México, DF), 39(115), 97-111.

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