Você se sente entediado e cansado no trabalho? Você pode estar sofrendo de Síndrome de Burnout
“Saber distinguir o que é importante do que é urgente. Essa é a verdadeira sabedoria.”
Catherine Rambert
No final do século XX, vários profissionais de saúde mental apresentaram as suas observações sobre os profissionais de diferentes setores relacionados a ajudar pessoas. Todos coincidiram ao indicar sinais de desmotivação, perda progressiva de energia, falta de interesse e esgotamento acompanhado de sintomas de ansiedade e depressão.
Freudenberger escolheu a palavra Burnout, (“ser queimado”, “consumido” ou “apagado”) para descrever os seus colegas da New York Free Clinic para viciados em drogas, aproveitando o fato de que ela também era usada para se referir aos efeitos da consumo crônico de drogas, assim consideradas na época.
Além disso, esse termo também era usado no jargão esportivo para falar das pessoas que não alcançavam os resultados desejados, apesar de terem feito um grande esforço. Também era usada coloquialmente por advogados que expressavam uma perda de responsabilidade e desinteresse clínico.
Por fim, após muitas definições construídas em diferentes áreas profissionais ao longo das últimas três décadas, é possível definir o problema como um processo contínuo que surge gradativamente e se estabelece até provocar os sentimentos típicos da síndrome.
Surge principalmente como consequência de eventos estressantes de natureza profissional, mas também de relações humanas trabalhador-cliente intensas e/ou duradouras.
A OMS define o burnout como uma resposta ao estresse emocional crônico com três fatores incidentes:
- exaustão emocional/física
- queda na produtividade.
- notável despersonalização que implica um sentimento de alienação com uma visão negativa dos outros.
Características da Síndrome de Burnout
Existem quatro planos nos quais podemos encontrar as principais manifestações.
1. No plano emocional, reúnem-se sentimentos como depressão, desamparo, desesperança, apatia, decepção, pessimismo, hostilidade, etc.
2. No do pensamento (ou cognitivo) há perda de valores, desaparecimento de expectativas, perda de autoestima, perda de criatividade, distração ou cinismo.
3. Na maneira de se comportar, vemos evitação das responsabilidades, absenteísmo no trabalho, comportamentos inadequados, preocupação excessiva, evitação de decisões, aumento do uso de cafeína, álcool ou tabaco e até mesmo autossabotagem.
4. Finalmente, no plano psicossomático, sentem-se dores musculares, perda de apetite, alterações de peso, problemas sexuais, problemas de sono, distúrbios gastrointestinais e dores de cabeça.
Aos olhos dos outros, estamos diante de uma pessoa com um mau humor permanente e que é muito irritável com clientes ou colegas. Além disso, também apresenta falta de motivação e energia, o que tem como consequência um desempenho inferior que, por sua vez, afeta o conceito que a pessoa tem de si mesma e do que está ao seu redor de forma direta e indireta.
Quais são os profissionais mais vulneráveis ao problema?
Sabe-se que os profissionais propensos a sofrer desta síndrome são principalmente aqueles que têm tarefas diretamente relacionadas a terceiros. Ou seja, professores, médicos, policiais, bombeiros e profissionais relacionados ao atendimento ao cliente.
Mas não são apenas as pessoas que trabalham com terceiros que são vulneráveis. Estudos recentes mostraram que o leque de profissionais pode se abrir quando o estresse laboral se relaciona com outros fatores, tais como cargos de muita responsabilidade, jornadas longas (entre 10 e 16 horas) ou também trabalhos repetitivos, monótonos e entendiantes sem nenhum elemento motivador.
Felizmente, existem técnicas tanto para ajudar o indivíduo psicologicamente quanto para reorganizar a empresa estruturalmente em relação aos trabalhadores.
De acordo com pesquisadores da Universidade de Zaragoza e do Instituto Aragonês de Ciências da Saúde, existem três perfis:
– Frenéticos: são aqueles profissionais que têm a sensação de estar sobrecarregados, abandonando a sua vida pessoal e a sua saúde para atender às tarefas profissionais.
– Sem desafios: sentem-se indiferentes às tarefas que precisam desempenhar. Não se sentem motivados e pensam em mudar de emprego. Geralmente é algo associado a profissionais ligados a cargos administrativos ou burocráticos.
– Desgastados: sentem que não controlam os resultados do seu trabalho e que não recebem reconhecimento pelo seu esforço. Assim, finalmente optam por ser negligentes e abandonar suas responsabilidades.
Prevenir o aparecimento da síndrome
A prevenção do burnout pode ser encarada principalmente a partir de duas perspectivas: a do profissional e a da organização-empresa.
As necessidades que podem ser entendidas diante do exposto se relacionam ao trabalhador afetado. Ou seja, que a tarefa seja motivadora, que não seja repetitiva e que exista algum reconhecimento do trabalho. Diante da impossibilidade de atender a essas condições em muitas ocasiões, existem estratégias para a prevenção. Assim, os especialistas recomendam:
- Ajustar as expectativas à realidade
- Não se sobrecarregar com tarefas, menos ainda se não forem as tarefas habituais
- Usar os canais de comunicação da empresa para transmitir preocupações ou inseguranças
- Contar com o apoio de pessoas de confiança para que possam ajudar diante de uma situação de angústia
- Verificar se existem pessoas próximas que já passaram por situações parecidas e não ter medo ou vergonha de perguntar como elas resolveram os conflitos
- Definir as funções a desempenhar. Reduzir a incerteza em relação ao trabalho executado.
- Usar técnicas de relaxamento ou meditação
- Relacionar-se de forma assertiva no ambiente de trabalho. Procurar expor as divergências, propondo soluções e mantendo o foco do discurso nos fatos.
- Ter momentos de lazer de qualidade
- Manter uma boa higiene do sono e fazer exercícios regularmente
- Não se isolar do entorno pessoal satisfatório
“A pressão pode ser suprimida com a ginástica mental”
Leonard Zaichkowsky
Burnout: O que fazer se tivermos um colega nessa situação?
Conforme resume o psicólogo Javier Miralles, os pontos-chave para ajudar são:
- Estabelecer uma relação de apoio (emocional e físico)
- Escutar ativamente, ajudando a expressar preocupações e a relativizar a situação, dando outra perspectiva
- Não julgar o que a pessoa está nos comunicando
- Reconhecer o seu trabalho se for bem feito e incentivar quando os objetivos desejados não forem alcançados. Será essencial criar um clima de companheirismo e solidariedade.
Sabemos positivamente que isso pode ser prevenido e, se estivermos imersos nesta situação, é possível recuperar o rumo perdido.
“Serenidade não é estar a salvo da tempestade, mas sim encontrar a paz no meio dela”
Thomas Kempis