6 benefícios de pensar devagar

Por que pensar devagar nos ajuda? Em que contextos é benéfico realizar um processamento mais calmo da relação? Neste artigo vamos responder essas e outras perguntas interessantes.
6 benefícios de pensar devagar

Última atualização: 26 agosto, 2022

A mente humana ttem a tendência de pegar atalhos para decidir de maneira rápida, economizar gastos energéticos e aumentar as chances de sobrevivência. Imagine não ser capaz de desviar rapidamente de um objeto robusto vindo em sua direção. Os reflexos, como mecanismos de ação rápida, são necessários para a sobrevivência.

No estilo de vida acelerado de hoje, cada vez mais nos sentimos pressionados a tomar decisões instantâneas, rápidas e eficientes que nos permitam atender às demandas que nos são feitas. A primazia dessa forma de agir relega o pensamento lento para um segundo plano.

Pensar rápido e pensar devagar são duas formas de tomar decisões que podemos aproveitar dependendo do contexto. Um não é mais importante do que o outro, ambos são necessários. No entanto, atualmente, a velocidade parece ter mais relevância do que a lentidão. Em que sistemas se baseiam essas duas formas de processamento de informações? Qual é a vantagem de pensar devagar?

mente com mecanismos
O pensamento lento requer mais esforço e energia, mas tem seus benefícios.

Sistema 1 e sistema 2

O pensamento rápido é baseado no que tem sido chamado de sistema 1, que permite que decisões rápidas e automáticas sejam tomadas com pouco ou nenhum esforço ou controle voluntário (Kanheman, 2012). Esse sistema é econômico, pois requer pouca energia, mas nem tudo é perfeito. Essa rota de processamento é muito propensa a vieses e erros sistêmicos que acabam afetando as decisões que tomamos.

Assim, o sistema 1 é eficiente e nos permite responder rapidamente com pouca informação disponível. Algumas atividades automáticas atribuídas a esse sistema são as seguintes:

  • Nos direciona para a fonte de um som repentino.
  • Nos faz por cara de nojo quando vemos algo desagradável.
  • Permite dirigir ou fazer atividades no piloto automático.
  • Ajuda a compreender frases simples.
  • Ajuda a reconhecer objetos rapidamente.

Por sua vez, pensar devagar é determinado pelo sistema 2, que promove a tomada de decisão lenta, esforçada e controlada. Concentra a atenção nas atividades mentais que assim o exigem, como os cálculos complexos, e está associada à experiência de agir, escolher e concentrar-se (Kanheman, 2012).

Esse sistema de processamento não pode operar sem uma atenção focada e voluntária. Requer mais esforço e investimento de energia, por isso torna-se cansativo para a pessoa usá-lo constantemente por longos períodos de tempo. Alguns exemplos são:

  • Prestar atenção nas mudanças de cor do semáforo.
  • Encontrar um livro na biblioteca.
  • Comparar dois produtos para descobrir qual é o melhor.
  • Verificar a validade de um argumento.
  • Observar o comportamento em uma situação social.
  • Ouvir a voz de uma pessoa em um ambiente barulhento.

Para que cada ação, representada nos exemplos anteriores, seja realizada corretamente, é necessário controlar a atenção e focá-la no estímulo objetivo. Ou seja, requerem uma intervenção consciente e voluntária do sujeito.

Os benefícios do pensamento lento

Abaixo, revisaremos alguns dos benefícios mais importantes do pensamento lento.

1. Permite refletir, considerar alternativas e consequências

Pensar devagar e processar a informação de forma lenta e detalhada nos ajuda a refletir melhor sobre as circunstâncias em que nos encontramos, os problemas que surgem e as soluções que podemos usar para resolvê-los. O pensamento lento torna possível vincular melhor as opções com suas respectivas consequências.

A comparação, a previsão e a visualização dos efeitos primários ou secundários de uma decisão são alcançadas por meio do pensamento lento e crítico. Esse último modo só pode ser alcançado percorrendo os caminhos da lentidão.

O pensamento crítico está diretamente associado a um modo de pensar desacelerado que envolve uma análise cuidadosa das ideias.

2. Domina a lógica, a matemática e a estatística

Embora o pensamento rápido do sistema 1 possa realizar cálculos matemáticos básicos, como 2+2=4, ele tem sérias dificuldades para realizar cálculos mais complexos que exigem um raciocínio mais profundo. Se for necessário analisar e resolver um problema matemático usando fórmulas diferentes, o raciocínio rápido ficaria muito aquém; por sua vez, o pensamento lento abordaria a tarefa com maior probabilidade de sucesso.

Da mesma forma, para resolver problemas estatísticos de forma eficiente e eficaz é necessário o raciocínio lento. O Sistema 1, o do pensamento rápido, não é um bom estatístico. Ele pode oferecer soluções automáticas e rápidas, mas não garante que a resposta esteja correta.

3. Você pode corrigir erros

Corrigir erroes requer um processo atencional sustentado, capaz de descobrir onde está o problema e então, conjuntamente com outros processos mentais superiores, ajustar o erro cometido. Esse tipo de verificação e mudança requer a intervenção do pensamento lento, que possibilita uma análise detalhada, minuciosa e analítica do erro.

A resolução de erros requer um trabalho metacognitivo, que só pode ser alcançado apelando para o pensamento lento. A metacognição como estratégia permite planejar, monitorar, controlar e avaliar os resultados obtidos durante a execução de uma tarefa.

Da mesma forma, permite conhecer o processo cognitivo que a pessoa realiza, a tarefa que realiza e as estratégias que utiliza durante todo o processo.

4. Ajuda a fazer escolhas deliberadas

O pensamento lento permite que você tome decisões conscientes. Processos automáticos e rápidos enfraquecem as escolhas deliberadas, pois não há tempo para parar e analisar intencionalmente as alternativas antes de escolher uma.

Quando uma decisão é tomada com liberdade de pensamento, ela tende a ser mais razoável, pois contempla a relevância e as consequências das diferentes opções disponíveis para escolher aquela que melhor se adequa à situação. Toda escolha deliberada de ser consciente, controlada e voluntária requer como mediação a capacidade de pensar devagar.

homem pensando devagar
A lentidão do pensamento ajuda a refletir melhor sobre o que será feito e a assumir o controle das ações.

5. Facilita o cumprimento das regras

O pensamento lento, sendo sequencial, torna mais fácil seguir as regras. Ao pensar rápido, o passo a passo das regras são omitidos, pois o que se busca é a eficiência, e não a efetividade. Assim, você pula de uma etapa a outra para obter resultados imediatos.

Quando você pensa devagar, intencionalmente, deliberadamente e voluntariamente, a mente é mais capaz de seguir as regras, pois é capaz de entendê-las refletindo sobre elas e procurando seu significado. Além disso, permite saber como podem ser aplicadas e o que se espera delas quando implementadas.

6. Controlar o pensamento e o comportamento

Para regular os pensamentos e as ações é preciso pensar devagar. Esse tipo de pensamento facilita a observação do que está sendo feito e dos processos cognitivos envolvidos. Ao olhar, analisar e refletir sobre seus próprios pensamentos e comportamentos, é possível iniciar planos de ação que ajudem a gerenciar melhor esses processos.

Todo controle cognitivo requer uma intervenção voluntária, deliberada e consciente que permita ajustar, regular e avaliar as alterações e as implicações que possam ter, tanto para o funcionamento mental como para o desenvolvimento das relações da pessoa.

Finalmente, pensar rápido e pensar devagar são processos igualmente úteis e benéficos. Não entenda um como o vilão do outro, nem tente aplacar um em favor do outro. Pelo contrário, trata-se de saber escolher um ou outro caminho, dependendo das circunstâncias.


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  • Kahneman, D. (2012). Pensar rápido, pensar despacio.Debate.
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