6 benefícios de pensar devagar
A mente humana ttem a tendência de pegar atalhos para decidir de maneira rápida, economizar gastos energéticos e aumentar as chances de sobrevivência. Imagine não ser capaz de desviar rapidamente de um objeto robusto vindo em sua direção. Os reflexos, como mecanismos de ação rápida, são necessários para a sobrevivência.
No estilo de vida acelerado de hoje, cada vez mais nos sentimos pressionados a tomar decisões instantâneas, rápidas e eficientes que nos permitam atender às demandas que nos são feitas. A primazia dessa forma de agir relega o pensamento lento para um segundo plano.
Pensar rápido e pensar devagar são duas formas de tomar decisões que podemos aproveitar dependendo do contexto. Um não é mais importante do que o outro, ambos são necessários. No entanto, atualmente, a velocidade parece ter mais relevância do que a lentidão. Em que sistemas se baseiam essas duas formas de processamento de informações? Qual é a vantagem de pensar devagar?
Sistema 1 e sistema 2
O pensamento rápido é baseado no que tem sido chamado de sistema 1, que permite que decisões rápidas e automáticas sejam tomadas com pouco ou nenhum esforço ou controle voluntário (Kanheman, 2012). Esse sistema é econômico, pois requer pouca energia, mas nem tudo é perfeito. Essa rota de processamento é muito propensa a vieses e erros sistêmicos que acabam afetando as decisões que tomamos.
Assim, o sistema 1 é eficiente e nos permite responder rapidamente com pouca informação disponível. Algumas atividades automáticas atribuídas a esse sistema são as seguintes:
- Nos direciona para a fonte de um som repentino.
- Nos faz por cara de nojo quando vemos algo desagradável.
- Permite dirigir ou fazer atividades no piloto automático.
- Ajuda a compreender frases simples.
- Ajuda a reconhecer objetos rapidamente.
Por sua vez, pensar devagar é determinado pelo sistema 2, que promove a tomada de decisão lenta, esforçada e controlada. Concentra a atenção nas atividades mentais que assim o exigem, como os cálculos complexos, e está associada à experiência de agir, escolher e concentrar-se (Kanheman, 2012).
Esse sistema de processamento não pode operar sem uma atenção focada e voluntária. Requer mais esforço e investimento de energia, por isso torna-se cansativo para a pessoa usá-lo constantemente por longos períodos de tempo. Alguns exemplos são:
- Prestar atenção nas mudanças de cor do semáforo.
- Encontrar um livro na biblioteca.
- Comparar dois produtos para descobrir qual é o melhor.
- Verificar a validade de um argumento.
- Observar o comportamento em uma situação social.
- Ouvir a voz de uma pessoa em um ambiente barulhento.
Para que cada ação, representada nos exemplos anteriores, seja realizada corretamente, é necessário controlar a atenção e focá-la no estímulo objetivo. Ou seja, requerem uma intervenção consciente e voluntária do sujeito.
Os benefícios do pensamento lento
Abaixo, revisaremos alguns dos benefícios mais importantes do pensamento lento.
1. Permite refletir, considerar alternativas e consequências
Pensar devagar e processar a informação de forma lenta e detalhada nos ajuda a refletir melhor sobre as circunstâncias em que nos encontramos, os problemas que surgem e as soluções que podemos usar para resolvê-los. O pensamento lento torna possível vincular melhor as opções com suas respectivas consequências.
A comparação, a previsão e a visualização dos efeitos primários ou secundários de uma decisão são alcançadas por meio do pensamento lento e crítico. Esse último modo só pode ser alcançado percorrendo os caminhos da lentidão.
O pensamento crítico está diretamente associado a um modo de pensar desacelerado que envolve uma análise cuidadosa das ideias.
2. Domina a lógica, a matemática e a estatística
Embora o pensamento rápido do sistema 1 possa realizar cálculos matemáticos básicos, como 2+2=4, ele tem sérias dificuldades para realizar cálculos mais complexos que exigem um raciocínio mais profundo. Se for necessário analisar e resolver um problema matemático usando fórmulas diferentes, o raciocínio rápido ficaria muito aquém; por sua vez, o pensamento lento abordaria a tarefa com maior probabilidade de sucesso.
Da mesma forma, para resolver problemas estatísticos de forma eficiente e eficaz é necessário o raciocínio lento. O Sistema 1, o do pensamento rápido, não é um bom estatístico. Ele pode oferecer soluções automáticas e rápidas, mas não garante que a resposta esteja correta.
3. Você pode corrigir erros
Corrigir erroes requer um processo atencional sustentado, capaz de descobrir onde está o problema e então, conjuntamente com outros processos mentais superiores, ajustar o erro cometido. Esse tipo de verificação e mudança requer a intervenção do pensamento lento, que possibilita uma análise detalhada, minuciosa e analítica do erro.
A resolução de erros requer um trabalho metacognitivo, que só pode ser alcançado apelando para o pensamento lento. A metacognição como estratégia permite planejar, monitorar, controlar e avaliar os resultados obtidos durante a execução de uma tarefa.
Da mesma forma, permite conhecer o processo cognitivo que a pessoa realiza, a tarefa que realiza e as estratégias que utiliza durante todo o processo.
4. Ajuda a fazer escolhas deliberadas
O pensamento lento permite que você tome decisões conscientes. Processos automáticos e rápidos enfraquecem as escolhas deliberadas, pois não há tempo para parar e analisar intencionalmente as alternativas antes de escolher uma.
Quando uma decisão é tomada com liberdade de pensamento, ela tende a ser mais razoável, pois contempla a relevância e as consequências das diferentes opções disponíveis para escolher aquela que melhor se adequa à situação. Toda escolha deliberada de ser consciente, controlada e voluntária requer como mediação a capacidade de pensar devagar.
5. Facilita o cumprimento das regras
O pensamento lento, sendo sequencial, torna mais fácil seguir as regras. Ao pensar rápido, o passo a passo das regras são omitidos, pois o que se busca é a eficiência, e não a efetividade. Assim, você pula de uma etapa a outra para obter resultados imediatos.
Quando você pensa devagar, intencionalmente, deliberadamente e voluntariamente, a mente é mais capaz de seguir as regras, pois é capaz de entendê-las refletindo sobre elas e procurando seu significado. Além disso, permite saber como podem ser aplicadas e o que se espera delas quando implementadas.
6. Controlar o pensamento e o comportamento
Para regular os pensamentos e as ações é preciso pensar devagar. Esse tipo de pensamento facilita a observação do que está sendo feito e dos processos cognitivos envolvidos. Ao olhar, analisar e refletir sobre seus próprios pensamentos e comportamentos, é possível iniciar planos de ação que ajudem a gerenciar melhor esses processos.
Todo controle cognitivo requer uma intervenção voluntária, deliberada e consciente que permita ajustar, regular e avaliar as alterações e as implicações que possam ter, tanto para o funcionamento mental como para o desenvolvimento das relações da pessoa.
Finalmente, pensar rápido e pensar devagar são processos igualmente úteis e benéficos. Não entenda um como o vilão do outro, nem tente aplacar um em favor do outro. Pelo contrário, trata-se de saber escolher um ou outro caminho, dependendo das circunstâncias.
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