Células OLM: os neurônios que nos ajudarão a tratar a ansiedade severa

Nos últimos meses foi feita uma descoberta esperançosa para o tratamento da ansiedade severa. Os cientistas descobriram que, se as células do hipocampo são estimuladas, a sensação de ameaça, angústia e inquietação é reduzida.
Células OLM: os neurônios que nos ajudarão a tratar a ansiedade severa
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

Os neurologistas chamam as células OLM de neurônios da coragem. Nos últimos meses, cientistas descobriram que quando esse tipo de célula do hipocampo é estimulado, a sensação de ameaça e inquietação é reduzida.

Essa revelação, como resultado, abre as portas para a possibilidade de criar novos tratamentos mais eficazes contra a ansiedade severa.

Os doutores Sanja Mikulovic e Samer Siwani, da Universidade de Uppsala, na Suécia, publicaram um estudo na revista Nature que, sem dúvida, teve um grande impacto na comunidade científica.

Até o momento, sabia-se apenas que as células OLM eram fundamentais nos processos de memória e aprendizado.

Localizadas na camada mais externa do hipocampo, eram até hoje aquelas velhas conhecidas que costumávamos chamar de “guardiãs da memória”. No entanto, após uma série de testes e análises, vimos que estávamos subestimando o que esse tipo de célula poderia fazer.

Foi possível observar que, quando um animal é estimulado nessa pequena área do cérebro onde elas estão alojadas, ele deixa de ter medo de seus predadores naturais. Assim, a sensação de ameaça é reduzida e dá início a comportamentos mais ousados ​​e corajosos.

Portanto, as células OLM deixaram de ser as guardiãs da memória para se erguerem como os neurônios da coragem…

Quando os níveis de ansiedade são muito altos, sentimos que tudo escapa de nossas mãos e que o futuro só nos reserva eventos negativos e adversos. O estímulo das células OLM nos ajudaria a recuperar o controle sobre nós mesmos.

As células OLM e o controle da ansiedade

As células OLM e o controle da ansiedade

Há pessoas que iniciam projetos e planos de forma contínua sem experimentar um medo excessivo da incerteza. Elas se arriscam, tomam decisões e aprendem com seus erros e acertos ao encararem desafios de maneira periódica.

Além disso, também há perfis que recorrem aos esportes radicais, que adoram a sensação de risco e que precisam dessas provas limite frequentemente.

Entre esses dois tipos de personalidade há um aspecto em comum: a iniciativa e uma boa regulação do medo. Assim, por trás desse tipo de comportamento mais arriscado estariam, de acordo com especialistas, as células OLM.

Até o momento não se sabia (ou ainda não estava claro) quais eram os mecanismos neurológicos que regulavam esse tipo de decisão.

O Departamento de Neurociências da Universidade de Uppsala, na Suécia, trabalhou em colaboração com o Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, no Brasil, até chegar a essa descoberta.

Algo que puderam comprovar a nível laboratorial é que, quando esse tipo de célula do hipocampo é estimulado, a ansiedade é reduzida e a sensação de risco diminui.

Vejamos, portanto, o que essa descoberta pode implicar.

O que são as células OLM?

Ansiedade adaptativa e ansiedade patológica

Para entender o que as células OLM podem implicar, devemos entender primeiro a diferença entre os diferentes tipos de ansiedade.

Em primeiro lugar, a própria ansiedade tem uma importância essencial como fator condicionante do comportamento humano. É, por assim dizer, um mecanismo de sobrevivência indispensável para todo ser vivo.

  • Desta forma, algo que nos caracteriza como espécie é a chamada ansiedade adaptativa. Trata-se de um processo pontual e isolado no tempo em que o referido mecanismo físico e psicológico nos ajuda a responder diante de perigos e ameaças objetivas e reais.
  • Por sua vez, a ansiedade patológica forma um tipo de abordagem mental claramente desadaptativa. Trata-se de um estado crônico em que a mente frequentemente antecipa riscos que não são reais. O medo é constante e a sensação de ameaça é permanente. São, portanto, situações de grande angústia nas quais a pessoa fica paralisada em uma realidade que afeta sua qualidade de vida por completo.

As células OLM e a ansiedade patológica

Estudos, como o realizado na Universidade de Emory, em Atlanta, indicam que os transtornos de ansiedade são o resultado da alteração do equilíbrio da atividade nos centros emocionais do cérebro. Portanto, não têm relação com qualquer área cognitiva.

  • Essas alterações, como resultado, provocam estados disfuncionais que, em muitos casos, exigem um tratamento farmacológico em que os efeitos colaterais são frequentes.
  • Portanto, a descoberta das células OLM e seu envolvimento na redução da sensação de medo e angústia é um avanço. O objetivo não é estimular esse tipo de neurônio e levar o paciente a iniciar um comportamento orientado para o risco.
  • Estimulando as células OLM conseguiríamos, sobretudo, reduzir a ansiedade que paralisa, aquela sensação constante de ameaça e de angústia que corta as asas da vida do paciente.
  • Conseguiríamos recuperar um estado de ânimo com o qual nos sentimos mais seguros e com uma maior capacidade de controle.
As células OLM e a ansiedade patológica

Por outro lado, vale lembrar que os ansiolíticos que utilizamos atualmente têm um impacto sobre todo o cérebro. Assim, se pudermos desenvolver um medicamento que atue exclusivamente nesse tipo de célula, eliminaríamos qualquer efeito colateral.

Como vemos, a esperança proporcionada por esta descoberta é imensa. Além disso, a boa notícia é que também foi possível ver que as células OLM são sensíveis à nicotina. Portanto, existe a certeza de que elas podem ser controladas farmacologicamente.

Ficaremos no aguardo de mais progressos sobre esta questão…


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