O que a neurociência diz sobre o cérebro das pessoas violentas?

O que está por trás do aumento da violência? É a sociedade, a hereditariedade, ou outros fatores estão entrando em jogo? Vamos analisar o tema com mais detalhes neste artigo.
O que a neurociência diz sobre o cérebro das pessoas violentas?
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

As estatísticas nos dizem que, nos últimos anos, o número de atos criminosos vem aumentando. O que há no cérebro das pessoas violentas? Essa inclinação é genética? Existe alguma causa biológica por trás ou é tudo resultado de uma sociedade menos humana? As respostas para essas perguntas não são muito claras.

Há quem destaque que a própria cultura é o agente que facilita muitos desses comportamentos, ensinando-os e reforçando-os. Podemos falar de psicopatia, delinquência e até de parafilias com tendências violentas. Porém, muitas vezes, o próprio contexto social e cultural é o cenário capaz de induzir o surgimento de muitos desses comportamentos adversos.

Vicente Garrido, professor de criminologia da Universidade de Valencia, destaca que o nosso mundo se tornou menos igualitário e mais competitivo. Isso pode despertar parte desses comportamentos violentos. No entanto, também nos interessa saber o que há nas profundezas do universo neurológico dessas pessoas, o que é único e particular para poder explicar este tipo de realidade gritante.

Vamos analisar a seguir.

“A violência, em qualquer forma que se manifeste, é um fracasso para a sociedade.”
-Jean Paul Sartre-

Como é o cérebro das pessoas violentas?

Este é o cérebro das pessoas violentas

No início de 2000, Cary Stayner, um homem de 40 anos, foi preso. Ele assassinou violentamente 4 mulheres no Parque Nacional de Yosemite ao longo de um ano. Ele era o encarregado da manutenção do parque e era aquela figura de confiança a que muitos recorriam com frequência.

Durante o julgamento, ele declarou que era obcecado por machucar mulheres desde os 7 anos. Sua defesa alegou doença mental, solicitando uma ressonância magnética para identificar anormalidades neurológicas. No entanto, o juiz não quis levar esse fator em consideração e ele foi condenado à morte por injeção letal.

De certa forma, algo que os neurologistas apontam é que a existência de alguma alteração cerebral não explica o comportamento violento em 100% dos casos. Um exemplo disso é o Dr. James Fallon. Este neurologista passou a vida inteira realizando tomografias em psicopatas para mostrar que existem anomalias muito específicas. Em uma ocasião, ele decidiu fazer esse teste clínico em si mesmo e descobriu algumas anormalidades.

James Fallon descobriu que sua família paterna tinha pelo menos sete pessoas que cometeram assassinatos. No entanto, fatores como ter uma família afetuosa e amorosa provavelmente impediram o desenvolvimento desse determinismo biológico “sombrio” nele.

Ainda assim, há evidências de que o cérebro das pessoas violentas possui certas peculiaridades.

O gene da monoamina oxidase e a diminuição da produção de serotonina

Avshalom Caspi e seus colegas realizaram um estudo em 2002. Eles mostraram que crianças abusadas na infância apresentavam uma alteração no gene que codifica a enzima monoamina oxidase (MAOA). Essa anomalia tem uma consequência clara: mais testosterona e menos serotonina são produzidos.

Tudo isso leva a um comportamento antissocial e violento. O que é surpreendente (e até esperançoso) é que esse comportamento violento pode ser reduzido com a administração de Prozac (fluoxetina), um antidepressivo que regula e melhora a produção de serotonina.

Os cérebros de pessoas violentas têm menos massa cinzenta

Outro aspecto significativo visto em pessoas que cometeram atos violentos é uma anomalia na massa cinzenta. Eles mostram menos espessura no córtex pré-frontal rostral anterior e também nos polos temporais. Isso se traduz em dois fatos específicos: menos empatia e menos culpa.

A falta de cobrança de consciência ao infligir dor, não se identificar com a vítima ou sentir qualquer culpa ao cometer um ato violento são características muito recorrentes entre as pessoas com psicopatia.

A amígdala e o comportamento agressivo

A amígdala é aquela pequena região do cérebro intimamente relacionada ao processamento das emoções. É uma estrutura complexa, mas essencial para a sobrevivência.

Agora, pesquisas como as realizadas na Universidade de Friburgo (Alemanha) revelam algo interessante relacionado ao cérebro de pessoas violentas.

Foi constatado que pessoas com amígdala muito menor apresentam um comportamento mais agressivo. Além disso, em muitos casos, uma hiperestimulação também é observada nessa minúscula área neurológica.

Menino encapuzado representando uma pessoa violenta

Frustração e falta de controle dos impulsos

Temos certeza de que o cérebro das pessoas violentas funciona de forma diferente e que, em muitos casos, fatores como a formação, a educação e o meio social quase sempre orquestram essas bases agressivas. Agora, há um fator emocional a ter em mente: a falta de resistência à frustração somada à ausência de controle dos impulsos.

A pessoa violenta experimenta uma grande carga emocional quando não consegue o que deseja. Isso, tão comum em crianças e cuja regulação é tão difícil em uma idade precoce, é um perigo absoluto na idade adulta.

A frustração mal gerenciada e a incapacidade de controlar os impulsos costumam levar a reações agressivas com consequências graves, principalmente se isso for acompanhado pelo consumo de álcool ou outras substâncias.

Para concluir, embora seja verdade que o comportamento humano faz parte do ser humano, existem fatores biológicos que muitas vezes orquestram esse comportamento. Conhecê-los é sempre uma ferramenta de grande interesse e utilidade.


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