Crise do quarto de vida? Dicas para superar esse momento

Acolher as emoções e compreender que não é errado senti-las é o primeiro passo para sair desse momento. Explore outras dicas e passe por essa fase de forma mais completa.
Crise do quarto de vida? Dicas para superar esse momento
Sara González Juárez

Escrito e verificado por a psicóloga Sara González Juárez.

Última atualização: 30 maio, 2024

Tal como acontece com aqueles que questionam as suas realizações quando atingem a meia-idade, entre os 20 e os 30 anos ocorre frequentemente um dilema conhecido como crise do quarto de vida. É sobre o conflito que algumas pessoas sofrem nessa década, em que a ansiedade, a angústia e a frustração colorem um período que deveria ser (segundo os cânones) de autodescoberta e sucesso.

O que caracteriza esse processo? Afeta todos os indivíduos dessa idade? E, o mais importante, é possível evitá-lo ou enfrentá-lo sem muito desconforto? Responderemos a todas essas perguntas de forma concisa.

O que é a crise do quarto de vida?

Embora não seja uma síndrome ou doença, esse momento conhecido como crise do quarto de século é um fenômeno descrito e estudado em jovens entre os 20 e os 30 anos. Assim como acontece com aqueles que vivenciam a crise da meia-idade, as pessoas que sofrem nessa fase expressam grande insatisfação com suas conquistas de vida e se sentem apreensivas com o futuro, principalmente quando comparadas às gerações anteriores, como os baby boomers ou a geração X.

Esse período de estresse, confusão e ansiedade tem as suas raízes na incerteza, alimentada pela crise econômica, profissional, ambiental e geopolítica. São jovens que, aproximando-se da terceira década de vida, fazem grandes esforços para prosperar e encontrar seu lugar no mundo, mas com pouco ou nenhum sucesso.

A tudo isso somam-se novas pressões, necessidades e obrigações para as quais, geracionalmente, não estavam preparados: redes sociais, produtividade desenfreada, novas formas de relacionamento e um longo etc. Essas pressões assumiram novas formas e a concepção de trabalho e de relações interpessoais mudaram, mas não vieram acompanhadas de um manual de instrução cultural.



O que posso fazer para superar a crise do quarto de vida?

As chances de sofrer uma crise de vida aumentam em um mundo que foi prometido como brilhante e que se revelou ameaçador. Porém, em momentos de necessidade também é possível capacitar-se e alcançar a reconciliação consigo mesmo. Vejamos algumas dicas para conseguir isso.

1. Aceite e valide suas emoções

O primeiro passo, antes de implementar qualquer outro tipo de estratégia, é validar-se. As emoções não podem ser controladas e têm uma utilidade muito grande: responder ao ambiente para sobreviver.

Quando o futuro está tingido de catástrofe e o presente não é o que queremos, é lógico que as emoções mais comuns sejam a ansiedade e a frustração. Você não é fraco nem deve esconder o seu desconforto, mas abrace-o, aceite-o e deixe-o guiá-lo nas ações necessárias para melhorar a sua situação.

2. Analise a sua realidade e não se deixe levar por preconceitos

Você provavelmente já ouviu as expressões “geração de vidro” e “cultura do esforço”. Sim, é verdade que todos devemos treinar para sermos mais resilientes e trabalhar arduamente pelos nossos sonhos, mas numa perspectiva mais gentil do que as exigências e os julgamentos de valor.

Você sabe o quanto trabalhou duro para atingir seus objetivos. É importante que você não se deixe levar pelas expectativas que foram colocadas sobre você e analise o que pode e o que não pode controlar.

3. Não se compare com os outros

É fácil cair em comparações com as redes sociais disponíveis 24 horas por dia e sob o peso das expectativas das gerações anteriores. A internet está inundada de vidas perfeitas, corpos canônicos, positividade tóxica e pessoas que afirmam se sentir realizadas dentro de um sistema de produtividade prejudicial à saúde.

Uma das ações que favorece a sua saúde mental é limitar a exposição a essas mensagens de pressão social. Para superar a crise da meia-idade, concentre-se nas suas conquistas e no que deseja melhorar, recompensando-se cada vez que atingir uma meta e criticando construtivamente seus fracassos.

4. Persiga seus objetivos em pequenos passos

Outro efeito das elevadas expectativas depositadas nos millennials e na geração Z é a o sentimento de grandiosidade e imediatismo. É claro que você se vê longe daquele trabalho de sucesso e com um grande salário, pois até chegar nesse ponto há muitas pequenas vitórias e também erros.

Como estratégia contra a frustração, escreva uma meta e os passos necessários para alcançá-la. Trace esses objetivos sempre que precisar e se recompense sempre que atingir um deles. Assim, o exemplo do emprego dos sonhos será o descanso do guerreiro após aproveitar a viagem até ele.

5. Ajuste suas expectativas

Muitas das pessoas que hoje vivem a crise do quarto de vida enfrentam a decepção de uma série de ideias que as tornaram grandes: conseguir uma carreira, ter um ótimo emprego, ter uma casa antes dos 30 anos, manter um relacionamento amoroso de muitos anos, etc.

Porém, embora possa ser doloroso no início, é pertinente analisar o presente e ajustar até onde você quer ir. Ainda há muito futuro pela frente aos 25 anos, mas é melhor aprender a se aceitar do que se flagelar a vida toda por algo irrealizável.

6. Não abandone o seu autocuidado

Outra das duras realidades da crise do quarto de vida é que a saúde é muitas vezes sacrificada. A “cultura do esforço” em que as gerações recentes foram criadas determina que grandes sacrifícios têm enormes recompensas, mas já está provado que não é sempre esse o caso.

Embora seja difícil num modelo econômico onde abunda a exploração laboral e a falta de tempo, é muito importante encontrar espaços para o autocuidado: alimentar-se bem, praticar exercícios, ter um bom sono para descansar, ter lazer consciente e relacionamentos saudáveis.

Quando o futuro não traz garantias de bem-estar, o cuidado no presente será o seguro para manter a qualidade de vida com o passar dos anos.

7. Crie laços de qualidade

Ninguém é uma ilha. A crença cultural de que um indivíduo pode ser independente é uma falácia, uma vez que somos animais gregários que contribuem para a sociedade e ao mesmo tempo bebem dela.

Cerque-se de pessoas que o apoiam e de quem vale a pena cuidar. Organize-se e absorva os benefícios do coletivo, pois a pior coisa que pode acontecer a alguém que carrega um peso grande é fazer isso sozinho.

8. Abrace sua identidade atual

Você não será a mesma pessoa daqui a um ano, nem talvez daqui a um mês. O ideal não é permanecer estático, mas encontrar o cerne da sua identidade nas mudanças que você vivencia. Abrace seus hobbies, lute pelos seus ideais, reflita criticamente e não tenha medo de mudar se isso o tornar melhor. Você sempre será você.

9. Procure ajuda profissional

Todas essas dicas podem não ser suficientes quando sua saúde mental está piorando. Se tiver a possibilidade de contar com a ajuda de um profissional de psicologia, não hesite em marcar uma consulta, pois aí desenvolverá plenamente essas indicações e adquirirá ferramentas para se sentir melhor.

Tanto no nível institucional quanto nos grupos populares, você encontra recursos de baixo custo ou gratuitos. Descubra quais estão disponíveis na sua região caso você não tenha condições de pagar por um serviço privado.

Consequências desse momento na saúde mental

As pessoas que passam pelo crise do quarto de vida são frequentemente vítimas das suas circunstâncias. Muitas não conseguem se tornar independentes e sair da casa dos pais ou acham impossível melhorar as suas condições. A ausência de oportunidades de emprego e, em geral, de apoio do sistema, é típica dessa geração. E são diversas as consequências que derivam desse contexto. Aqui estão ss mais comuns:

  • Frustração geral.
  • Crise de identidade pessoal.
  • Insegurança quanto ao futuro.
  • Sentimentos de isolamento e solidão.
  • Repensar amizades e relacionamentos amorosos.
  • Tendência à radicalização de ideias de natureza ideológica.
  • Comparação com o resto dos pares (“Os outros estão melhor do que eu”).
  • Baixa autoestima (“Não sou bom o suficiente para atingir meus objetivos”).
  • Dificuldades de adaptação à vida após os estudos e ao mercado de trabalho.



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Capacite-se em tempos de crise

Os transtornos de ansiedade têm prevalência de 35-40% nos homens e 60-80% nas mulheres, quando se trata de pessoas entre 20 e 30 anos. A pandemia pela qual passamos, que afetou principalmente grupos desfavorecidos, despertou também uma onda de resistência à opressão dos tempos atuais.

A cultura do individualismo, do consumismo sem fim e da pressão social têm tentado isolar os indivíduos, fazendo-os esquecer que o coletivo dá resultados maiores do que a soma das suas partes. Portanto, no contexto dessa crise de idade, não deixe de se associar a outras pessoas, em ajudar e pedir ajuda, porque já não é um tempo de heróis, mas de tribos.


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