Descubra o que é a resiliência

Todos nós já passamos por momentos difíceis. Algumas pessoas se recuperam mais facilmente porque são resilientes, mas outras nunca encontram a saída. Se você quiser saber mais sobre resiliência, continue lendo!
Descubra o que é a resiliência
Gema Sánchez Cuevas

Escrito e verificado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Última atualização: 21 setembro, 2023

Como as pessoas lidam com situações difíceis? O que nos permite nos adaptar a experiências traumáticas, como a perda de um ente querido, de um emprego ou mesmo quando nos dizem que temos uma doença grave?

A resiliência é uma capacidade extraordinária que nos permite enfrentar os desafios da vida mais facilmente. É o resultado da adaptação a diferentes situações através da flexibilidade e da aceitação. Ser resiliente nos dá os recursos necessários para sair mais fortes da dor.

Neste artigo, vamos explorar a base dessa incrível habilidade e descobrir o que é, quais são seus sete pilares e como desenvolvê-la.

O que é a resiliência?

É a capacidade de superar a adversidade e se recompor. A American Psychological Association enfatiza que a resiliência é o resultado da adaptação aos momentos difíceis da vida, por meio da flexibilidade mental, emocional e comportamental.

Ser resiliente não isenta as pessoas de problemas ou desafios. Pelo contrário, é um recurso para enfrentar os infortúnios e superá-los, apesar da dor, do estresse, da ansiedade, da tristeza e do trauma. Agora, quais são os fundamentos dessa incrível habilidade?

No livro The Resilient Self, Wolin e Wolin apresentam as bases da resiliência em sujeitos que enfrentaram situações infelizes. Estes são os sete pilares que eles conseguiram identificar:

  1. Introspecção: consiste na capacidade de compreender e pensar sobre eventos passados, como desafios e problemas. A introspecção favorece a compreensão de si mesmo e de como superamos os infortúnios.
  2. Independência: é saber traçar limites entre si e o mundo. Implica também manter distância física e emocional, mas sem levar a um isolamento desadaptativo. Permite o desenvolvimento da identidade e da autonomia.
  3. Interação: refere-se à capacidade de formar laços e ser íntimo com os outros. Inclui confiança nos outros, comunicação assertiva, vínculos significativos e apoio social.
  4. Iniciativa: refere-se à capacidade de assumir responsabilidades e tomar iniciativas para alcançar objetivos e superar adversidades.
  5. Criatividade: é a capacidade de projetar soluções inovadoras para problemas. Incentiva o surgimento de diferentes alternativas para responder de forma mais adaptativa ao meio ambiente.
  6. Humor: alude à capacidade de encontrar o lado cômico das tragédias. Ajuda a reduzir o estresse e relaxar um pouco a tensão gerada pelas adversidades. Proporciona alívio através do aparecimento de emoções positivas.
  7. Moralidade: é a capacidade de se comprometer com os valores que são professados. Orienta comportamentos e decisões por meio do reconhecimento de princípios éticos.

Esses sete componentes representam aquelas habilidades que as pessoas resilientes desenvolveram quando se viram em momentos infelizes que viveram. Esses pilares se reforçam mutuamente, pois formam uma base sólida para praticar a resiliência.

Fatores que influenciam o desenvolvimento da resiliência

Em uma revisão publicada na revista Frontiers in behavior neuroscience, diferentes achados são apresentados em relação aos fatores genéticos, epigenéticos, desenvolvimentais, psicossociais e neuroquímicos que contribuem para o desenvolvimento da resiliência. Vejamos cada um deles:

  • Genética: alguns genes e polimorfismos estão ligados ao desenvolvimento dessa qualidade. Estes incluem: gene transportador de dopamina, genes receptores de dopamina, região promotora do gene transportador de serotonina, genes receptores de serotonina, entre outros. Esses fatores podem influenciar a resposta ao estresse e ao trauma.
  • Epigenética: refere-se a mudanças funcionais no genoma, mas sem alterações na sequência do DNA. Esse distúrbio genético é um produto da exposição ao estresse durante períodos críticos de crescimento. Estudos em animais e humanos indicam que a epigenética tem papel relevante nas reações ao estresse e no aparecimento de transtornos psiquiátricos.
  • Desenvolvimento: eventos traumáticos ou adversos na infância podem afetar negativamente os sistemas de resposta ao estresse, afetando o desenvolvimento da resiliência. É por isso que as interações iniciais são essenciais para formar pessoas resilientes.
  • Psicossocial: dentro desses fatores encontramos vários elementos que intervêm no desenvolvimento da resiliência. Os mais proeminentes são: monitoramento, avaliação e substituição de pensamentos negativos, estratégias de enfrentamento, suporte social, humor, espiritualidade e comportamentos pró-sociais, como o altruísmo.
  • Neuroquímicos: os sistemas noradrenérgicos, dopaminérgicos e serotoninérgicos demonstraram estar envolvidos na resposta ao estresse e consequentemente na resiliência. Os autores da revisão citada afirmam que: “esses neuroquímicos interagem e se equilibram para produzir efeitos regulatórios em adaptações agudas e duradouras ao estresse”.

Outros fatores associados à resiliência são:

  • Carinho e apoio familiar.
  • Capacidade de projetar planos realistas.
  • Visão positiva de si mesmo.
  • Habilidades de comunicação e resolução de problemas
  • Regulação emocional e controle de impulsos.

O florescimento da resiliência não se deve a um único fator, e sim à relação entre vários. Portanto, não é possível afirmar que seu desenvolvimento dependa claramente de variáveis genéticas, neuroquímicas ou ambientais. Seu surgimento é mediado por variáveis biopsicossociais.

Como são as pessoas resilientes?

Os sete pilares de Wolin e Wolin são úteis para entender como as pessoas são resilientes e como elas se comportam diante da adversidade. A seguir, daremos a você outras características ou sinais que se destacam nelas:

  • Exteriorizam os pensamentos e as emoções que experimentam como consequência do infortúnio.
  • Formulam, revisam e aplicam diferentes opções de resolução de problemas.
  • Sabem como pedir ajuda e a quem recorrer.
  • Reconhecem os limites entre quem são e o que estão vivenciando. Elas não se identificam com seu sofrimento.
  • Identificam o que precisam e o que não precisam. Elas são muito autoconscientes e sabem ouvir a si mesmas.
  • Possuem redes sociais que alimentam suas vidas e se relacionam com pessoas exemplares.
  • Aceitam o que acontece com elas.
  • Sabem tirar um tempo para ficar quietas e pensar.
  • Têm bons hábitos de vida.
  • Reconhecem que não têm todas as soluções ou todas as respostas.

Essas e outras qualidades tornam esse tipo de pessoa capaz de enfrentar as dificuldades com determinação e coragem. Além disso, permitem que elas desenvolvam seus pontos fortes de acordo com as demandas do ambiente.



Como construir a resiliência

Há muitas maneiras de aprimorar essa qualidade no dia a dia. Aqui estão algumas recomendações da American Psychological Association.

1. Tenha relacionamentos interpessoais

Já mencionamos que o apoio emocional é um dos fatores mais importantes que o ajudarão a se tornar mais resiliente. Ter um bom relacionamento com os outros, aceitar a ajuda que eles lhe oferecem, bem como ajudar os que precisam, são atitudes que contribuem para motivar a aceitação diante das dificuldades.

2. Evite enxergar crises como obstáculos

Você não pode impedir que eventos ameaçadores ocorram, mas pode mudar a maneira como os interpreta e reage a eles. Enxergar os problemas como desafios a serem superados, de uma perspectiva ampla e positiva, pensando que você tem capacidade suficiente para enfrentá-los, é essencial para a resiliência.

3. Aceite a mudança

Para ser mais resiliente é preciso aceitar as transições e adversidades. A aceitação de emoções e pensamentos é fundamental para reduzir humores negativos associados a estressores. Acolha o que acontece com você, mas sem deixar de buscar uma saída.

4. Vá em direção aos objetivos

Defina seus objetivos na vida e se esforce para alcançá-los. Mantenha-se firme em atividades e ações que lhe permitirão realizar seus sonhos, mesmo que você não perceba nenhuma mudança. Não foque no que você não pode controlar ou alcançar, ao contrário, foque no que depende de você.

5. Realizar atos decisivos

Tome a iniciativa diante dos pequenos infortúnios do seu dia a dia, assim você estará pronto para quando tiver que passar por grandes adversidades. Tome atitudes que marquem um antes e um depois no problema. Fazer algo é melhor do que ignorar o que está acontecendo.

6. Procure oportunidades para se descobrir

Muitas vezes, após superar um evento estressante ou uma situação adversa, você experimenta um crescimento pessoal, aprendendo algo novo sobre si mesmo. Em meio a esses momentos, procure o ensinamento que você pode obter e transforme-o em uma oportunidade.

7. Tenha perspectiva

Veja as coisas de uma perspectiva mais ampla, mesmo quando o que você está sentindo é doloroso. Tente analisar a experiência, como se estivesse assistindo à distância, e observe seus pensamentos, emoções e desejos. Não torne o problema maior.

8. Cultive uma visão positiva

Observe-se de forma positiva e crie um autoconceito otimista sobre si mesmo. Seja confiante em sua capacidade de resolver problemas e confie em seus instintos.

9. Cuide de você

Atenda às suas necessidades e desejos. Desfrute de atividades que melhorem sua saúde mental e física. Exercite-se, medite, alimente-se bem, durma o suficiente, caminhe no meio da natureza. Essas atividades permitirão reduzir o estresse e aumentar o seu bem-estar.

10. Mantenha a esperança

Tenha uma visão positiva e otimista, espere que coisas boas aconteçam com você. Tente imaginar o que você quer e ocupe-se em torná-lo realidade. Otimismo sem ação é vazio. Não fique só em fantasias.



Considerações finais sobre a resiliência

Cultivar a resiliência não é fácil e requer tempo e paciência, principalmente quando fortalecida em meio às adversidades. Essa capacidade é, sem dúvida, um dos melhores recursos a ter em conta no longo percurso da vida.

No entanto, você também deve ter cuidado com isso, como alerta o artigo Adversity and Resilience Science. Nele, os autores questionam a visão positiva da resiliência e sugerem que ela pode ter aspectos negativos, como: ser mal-adaptativa em contextos onde a vulnerabilidade e a violência são mascaradas, ou quando uma ação efetiva para lidar com o risco é impedida.

Apesar de seus potenciais efeitos contraproducentes, a resiliência é uma capacidade que agrega enorme valor à vida das pessoas, independentemente de sua etnia, idade, objetivos e identidade. Você já demonstrou essa atitude em meio a problemas? Foi útil para você sair fortalecido da situação que estava enfrentando?


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