O efeito do castigo no cérebro das crianças
O efeito do castigo é um tema muito debatido, principalmente nos últimos anos. Constitui a base do sistema parental mais tradicional e não é utilizado apenas na família, mas também na escola e em várias áreas da sociedade.
O que torna o assunto confuso, a princípio, é a eficácia desse método. O efeito da punição sobre as crianças é imediato: as convence a fazer ou parar de fazer algo. A questão é que isso também é temporário. Se houver uma motivação profunda para algum comportamento, ele surgirá novamente apesar da punição.
A verdade é que a intimidação oferece resultados instantâneos e isso deixa muitos pais em paz, pelo menos momentaneamente. No entanto, também deve ser levado em conta que este método é eticamente questionável e até ilegal em muitos casos, mas o pior é que, a longo prazo, ele não funciona.
“Aquele que, estando com raiva, impõe um castigo, não corrige, mas se vinga”.
-Michel de Montaigne-
O efeito do castigo no cérebro
Segundo o Dr. Jorge Cuartas , o castigo físico provoca um desenvolvimento atípico no cérebro das crianças. Os altos níveis de cortisol que isso causa, em um estágio em que a estrutura do cérebro ainda está em formação, causa mudanças no córtex pré-frontal.
Da mesma forma, um estudo publicado na revista Journal off Agression, Maltreatment and Trauma indica que a punição severa está associada a uma redução nas habilidades cognitivas das crianças. Isso parece ter um maior impacto em crianças de 5 a 9 anos.
Isso não se aplica apenas ao castigo físico, mas também a agressões verbais e psicológicas de alto impacto, que têm um efeito semelhante ao de bater.
Ressalta-se que não há um único estudo que demonstre que esse tipo de punição apresenta alguma vantagem. Por outro lado, foi demonstrado que, além dos possíveis danos, a punição severa não é eficaz.
A resposta para o castigo
O efeito do castigo sobre a criança é, em princípio, a ativação do instinto de sobrevivência. Diante disso, existem três alternativas: ataque, fuga ou paralisia. Funciona de forma automática, sem qualquer reflexão ou decisão sobre o assunto. Ele simplesmente entra em ação.
Fisiologicamente, há uma maior secreção de cortisol e adrenalina, o que limita a capacidade de pensar, enquanto aumenta a intensidade de algumas emoções, como raiva ou medo. Nessas condições, funções como o pensamento crítico, raciocínio, etc. são diminuídas. Portanto, não pode haver aprendizado.
Depois que a punição é recebida, outras emoções intensas e confusas também costumam aparecer. Às vezes, há culpa, vergonha ou ressentimento. Da mesma forma, a criança pensa que é má ou que há algo de errado com ela. Nesse ínterim, ela não compreende totalmente o que fez de errado, por que está errada e quais são as razões para evitar isso no futuro.
Os castigos menos severos
O efeito do castigo não é negativo apenas quando a punição é severa ou violenta, mas também em outros casos. O psicólogo Rafael Guerrero disse que a própria natureza do castigo é questionável. Aparentemente, o que se busca é que a criança aprenda ou melhore algum comportamento. No entanto, trata-se de causar danos para alcançar esse objetivo.
Às vezes, o único recurso para causar esse dano é bater, gritar ou humilhar. Outras vezes, a dor ocorre na criança de outras maneiras. Por exemplo, alguns pais mandam os filhos “para o canto”, supostamente para “pensar” na “coisa errada” que fizeram. Muito provavelmente eles não farão essa reflexão (que nem mesmo os adultos fazem), vão apenas pensar em sair dessa situação o mais rápido possível.
O que resta depois disso não é uma maior consciência da conduta que motivou o castigo. Por outro lado, a relação de poder, a impotência e o impacto da figura que pune ficam fixos na memória. Se a criança parar de fazer o que lhe causou o castigo, será por causa da pressão das circunstâncias, não porque “aprendeu a se comportar”.
Talvez, uma das lições mais valiosas que um adulto pode ensinar a uma criança é que o erro é uma fonte de aprendizado. É mais fácil e rápido “treinar” uma criança do que nutrir a sua consciência. No entanto, como vimos, o efeito do castigo é muito temporário, diferentemente de uma consciência bem fundamentada, que dura para sempre.
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Sauceda-García, J. M., Olivo-Gutiérrez, N. A., Gutiérrez, J., & Maldonado-Durán, J. M. (2006). El castigo físico en la crianza de los hijos. Un estudio comparativo. Boletín Médico del Hospital Infantil de México, 63(6), 382-388.