O ambiente de trabalho competitivo é eficaz?
O ambiente de trabalho competitivo é eficaz? Gerentes e especialistas no campo da psicologia organizacional dirão que sim; mas eles irão adicionar nuances importantes. Este é um campo de atuação que é preciso saber nivelar e promover, pois se for feito de forma inadequada, os resultados são desastrosos para as empresas e para o capital humano.
Algumas pinceladas de competitividade no trabalho são estimulantes; mas não uma cultura baseada exclusivamente neste princípio. Devemos ter em conta que alguns trabalhadores, pela sua personalidade, não se ajustam a esta dinâmica. Além disso, essa estratégia costuma ser fonte de conflitos, estresse e baixa produtividade. Então, vamos olhar para os prós e contras.
Em ambientes de trabalho competitivos, os colegas se tornam rivais.
O que é um ambiente de trabalho competitivo?
Um ambiente de trabalho competitivo é aquele que orienta os funcionários a se sentirem motivados e desafiados a fim de superar seus colegas e se destacar. No entanto, em muitas empresas essa mesma dinâmica permanece subjacente. A maioria de nós compete por reconhecimento, bônus ou promoções.
Como Daniel Goleman nos explica em seu livro Foco: desenvolver a atenção para alcançar a excelência (2013), todo funcionário é forçado a competir em algum momento.
Em um mundo cada vez mais complexo, dinâmico e em mudança, indivíduos, grupos sociais e organizações acabam por competir entre si para obter uma posição ou as metas que se propõem. A seguir, algumas características desse tipo de cenário:
- Concorrência constante e rivalidade entre os trabalhadores.
- Ambientes de trabalho muito exigentes e dominados pela pressão.
- Recompensas são dadas para aqueles que demonstram maior realização de metas.
- Mecanismos constantes são aplicados para avaliar o desempenho dos funcionários.
O ambiente de trabalho competitivo é eficaz?
Existe uma ideia geral no campo das organizações que defende a conveniência de fomentar tais ambientes. Este princípio justifica-se pela necessidade de aumentar a produtividade, inovação e melhorar o desempenho empresarial. Agora, a pergunta é: o ambiente de trabalho competitivo é eficaz?
A resposta rápida é: apenas em determinadas circunstâncias. Nem todos os ambientes de trabalho nem as próprias pessoas se beneficiam com uma política organizacional competitiva. Como nos indicam em um artigo da Universidade de Pequim, para saber se essas dinâmicas desafiadoras são úteis, deve-se considerar tanto a personalidade dos funcionários quanto as características das próprias equipes.
E a competição em humanos é uma das variáveis mais complexas que existem. Vamos detalhar a seguir em quais circunstâncias ela será benéfica e em quais ela atuará como um obstáculo.
Muitos ambientes de trabalho tornam-se “tóxicos” devido a uma cultura de trabalho extrema e baseada em recompensas e penalidades.
Aspectos positivos da competitividade do trabalho e como conseguir que seja benéfica
Em cenários particulares, o ambiente de trabalho competitivo é eficaz. Sabemos por pesquisas publicadas em Personality and Individual Differences que um trabalhador com essas características traz inovação para a empresa. Essa motivação interna está relacionada ao comprometimento e ao desejo de superação; também com a harmonia entre os próprios objetivos da organização.
São, sem dúvida, características de alto valor, mas que nem todos os indivíduos apresentam. Além do mais, às vezes uma pessoa pode ser competitiva, mas se a cultura do ambiente de trabalho não for propícia, ela se sentirá frustrada, mal recompensada e menosprezada. Os aspectos positivos que esta dimensão contribui sçao os listados abaixo:
- Maior desempenho.
- Promove a inovação e a criatividade.
- Os trabalhadores são recompensados por suas conquistas.
- Incentiva que os funcionários estabeleçam novas habilidades e competências.
- Os indivíduos podem se sentir inspirados pelo trabalho de seus pares.
- Conduz a empresa a uma posição de maior relevância no mercado.
- A competitividade pode dar ao funcionário uma dose de impulso e motivação.
Como tornar o ambiente de trabalho competitivo eficaz
Há um estudo muito interessante publicado no Journal of Experimental Social Psychology que nos convida a refletir. Muitas vezes, para ter sucesso, devemos superar aqueles que nos ajudaram em determinado momento; aos colegas que facilitaram nossas habilidades e desenvolvimento. São experiências comuns que acontecem quase todos os dias.
Para que essas dinâmicas ocorram sem conflitos, é necessário que a empresa cuide dos mecanismos de promoção e competitividade. As empresas são responsáveis por criar um clima em que os funcionários possam competir nas melhores circunstâncias. Vejamos quais são as chaves:
- Valorizar os funcionários.
- Recompensar seus esforços.
- Oferecer estratégias para gerenciar o estresse.
- Não subestimar quem não apresenta maior competitividade.
- Combinar objetivos baseados na cooperação com a competitividade.
- Dar os mecanismos adequados para que os funcionários possam progredir.
- Informar os funcionários sobre as políticas e a cultura competitiva da empresa.
- Promover uma cultura de grupo e não apenas a competitividade individual.
Quando o ambiente de trabalho competitivo não é eficaz?
O ambiente de trabalho competitivo não funciona naquelas organizações sustentadas em uma cultura implacável voltada apenas para o alcance de objetivos. Quando a produtividade é priorizada e as condições e o bem-estar do funcionário são negligenciados, surge o problema. Como bem sabemos, esta é uma dinâmica que aparece em boa parte do nosso tecido laboral.
Alguns exemplos e circunstâncias onde essa abordagem não é adequada são aqueles que passamos a listar:
- Quando o ambiente de trabalho é estressante e muito exigente.
- Nem todo mundo se sente confortável em ambientes competitivos.
- Carecem de mecanismos de trabalho claros e boa organização.
- O funcionário é percebido como uma peça inútil e substituível da organização.
- A competitividade não é eficaz se os trabalhadores se percebem como rivais.
- Também não é eficaz quando compete apenas para manter o emprego, sem qualquer outra recompensa.
- Se o alcance dos objetivos for priorizado sobre a saúde mental do funcionário, também não é útil.
Quais são os efeitos de um ambiente de trabalho altamente competitivo?
Um dos principais efeitos de um ambiente organizacional altamente competitivo é o conflito interrelacional. O Instituto Nacional de Saúde Ocupacional de Oslo publicou uma análise muito esclarecedora sobre o assunto. Esses problemas causados entre colegas de trabalho devido à competitividade, muitas vezes levam a licenças médicas. Além disso, as seguintes consequências são possíveis:
- Estresse e ansiedade aparecem.
- Pode haver conduta desonesta ou antiética.
- Dinâmicas de abuso no local de trabalho podem surgir entre os colegas.
- A alta competitividade talvez reduza a produtividade e a inovação.
- Às vezes, a competitividade se traduz em conformismo. São muitos os que, pela sua personalidade, evitam estas dinâmicas e preferem fugir a este tipo de desafio “fazendo o que é suficiente e necessário”.
Existem pessoas que competem consigo mesmas, que precisam se aprimorar a cada dia e mostrar até onde podem ir.
A chave do funcionário guiado pela competitividade interna
Neste ponto, já sabemos que um ambiente de trabalho competitivo nem sempre é eficaz. Entendemos que são as organizações que devem orquestrar e cuidar dos mecanismos para que essa dimensão seja ideal e bons resultados sejam alcançados. Da mesma forma, ninguém nega que, em um contexto social tão desafiador, as empresas devem se adaptar da melhor forma a essas ondas imprevistas.
Nessa ordem, vale destacar uma dinâmica psicológica relevante. Existem funcionários que apresentam grande competitividade pessoal que não é motivada por fatores externos. Há pessoas cujo trabalho é pautado pelo aprimoramento interno, por assumir desafios constantes e vencê-los; assim constroem seu autoconceito.
Esse fator de personalidade é uma peça de grande relevância para os ambientes de trabalho, desde que as próprias empresas cuidem das condições para valorizar e promover esses comportamentos. As empresas disfuncionais abundam e são aquelas que não valorizam a componente humana e privilegiam exclusivamente a produtividade.
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