O que é o sentimento de solidão, por que ele ocorre e como superá-lo
A solidão é um sentimento que, mais cedo ou mais tarde, ocorre em todos. Não distingue idades, momentos ou circunstâncias: às vezes surge no meio do silêncio; outras vezes entre risos e rodeados de pessoas. Entender o que o causa e como transformá-lo nos dá ferramentas para avançar com mais calma em direção ao futuro.
E sentir-se sozinho vai além de estar sem companhia. É aquele sentimento de desconexão que pesa no coração. É um abismo emocional que muitas vezes nos leva a nos distanciar dos outros, quando na realidade precisamos nos reconectar, tanto conosco mesmos quanto com aqueles que nos rodeiam.
O que queremos dizer com sentir-se sozinho?
Ao longo do tempo, filósofos, psicólogos e escritores falaram da solidão como algo inerente à experiência humana. Segundo especialistas, é descrito como um sentimento de sofrimento emocional que aparece quando nossos relacionamentos sociais não nos satisfazem ou não nos fazem sentir conectados aos outros.
A origem da palavra “solidão” vem do latim solitas , que significa “qualidade de estar sem mais ninguém”.
Dicionários definem a solidão como a “falta voluntária ou involuntária de companhia”, mas também como a “dor e a melancolia sentidas pela ausência, morte ou perda de alguém ou algo”. Essa nuance ajuda a entender como o conceito abrange tanto uma condição externa quanto uma experiência profundamente emocional.
Segundo alguns estudos, a solidão está relacionada a estados como abandono, tristeza, melancolia, nostalgia e falta de comunicação. Ela não é percebida apenas como uma situação, mas como algo que afeta a alma, a ponto de em alguns casos ser considerada um estado próximo ao sofrimento emocional ou mesmo patológico.
Por que ocorre o sentimento de solidão?
Um estudo realizado com dados da Pesquisa de Saúde do País Basco revelou que o sentimento de solidão indesejada afeta 23,3% dos homens e 29,7% das mulheres. É mais prevalente entre idosos, adultos jovens e aqueles pertencentes a classes sociais mais baixas. A seguir estão os principais fatores que levam à solidão.
Aspectos pessoais
A solidão pode estar relacionada à forma como nos percebemos e aos obstáculos internos que enfrentamos. Idade avançada, gênero, viver com uma doença crônica ou sofrer de transtornos mentais podem prejudicar nossa capacidade de nos conectar com outras pessoas, gerando um profundo sentimento de isolamento.
Por sua vez, a Revista Cuidarte informa que a solidão emocional está ligada a fatores psicológicos, como a presença de sintomas depressivos, altos níveis de estresse, pensamentos pessimistas, ansiedade e baixa autoestima.
A autocrítica constante e a falta de confiança também nos fazem acreditar que não somos dignos de afeto ou companhia. Essa visão negativa de si mesmo leva a evitar interações sociais por medo de rejeição, o que, em vez de nos proteger, acaba alimentando a desconexão e dificultando a criação de relacionamentos significativos.
A solidão está associada a uma saúde mental mais precária, especialmente entre adultos mais velhos, que sentem um impacto mais profundo. Isso destaca como o isolamento e a desconexão social tendem a agravar problemas como depressão, ansiedade e estresse.
Fatores externos
Grandes mudanças na vida, como mudanças de casa, términos de relacionamentos ou a perda de entes queridos, não apenas alteram nossa realidade, mas também interrompem conexões emocionais mais profundas, intensificando a solidão.
Um estudo publicado na revista Gerokomos destacou que circunstâncias como status de emprego, nível educacional, recursos econômicos e local de residência estão associadas ao sentimento de solidão. No entanto, a perda de um parceiro e a deterioração da saúde são os maiores fatores de risco para vivenciar esse sentimento.
A ausência de uma rede de apoio genuína ou estar cercado por pessoas hipócritas ou superficiais que não oferecem verdadeiro apoio emocional cria um vazio difícil de preencher. Isso ocorre porque são relacionamentos que não nos permitem compartilhar nossas vulnerabilidades ou nos sentir autenticamente compreendidos.
Por outro lado, em alguns casos, o uso excessivo das redes sociais, embora dê a ilusão de nos aproximar, muitas vezes reforça a real desconexão, pois substitui as interações presenciais e limita o verdadeiro contato emocional.
O círculo vicioso da solidão
Quando nos sentimos solitários, muitas vezes respondemos com mais isolamento, acreditando que a solidão é a única maneira de lidar com a dor. No entanto, esse distanciamento tende a aumentar o sofrimento emocional, criando um ciclo difícil de quebrar.
Quanto mais nos distanciamos dos outros, mais difícil se torna a interação, pois o medo da rejeição ou o desconforto da vulnerabilidade nos torna mais relutantes em nos aproximar. Isso reforça a ideia de que estamos sem ninguém, o que aprofunda a tristeza e nos afasta ainda mais das oportunidades de conexão.
Um estudo publicado na Frontiers in Psychiatry sugeriu que a solidão atua como um tipo de estresse crônico que afeta nossa saúde mental e física, alterando o funcionamento do corpo. Isso pode aumentar o isolamento, fazendo com que a solidão e os problemas de saúde se reforcem mutuamente.
Como superar o sentimento de solidão
A solidão é algo que nos envolve por inteiro, e o que esse sentimento produz costuma ser difícil de lidar. Embora possa ser um ótimo professor, é importante lembrar que não precisa ser permanente. Com a abordagem certa e pequenas mudanças em nossa vida diária, é possível nos reconectar com outras pessoas. Compartilhamos com você algumas dicas práticas.
1. Incentive interações sociais
A socialização é vital para o cérebro humano. Manter comunicação constante com amigos próximos e familiares, bem como participar de atividades que promovam o conhecimento de outras pessoas (como um clube, voluntariado ou eventos locais), ajuda a estabelecer novos relacionamentos e fortalecer os existentes.
De acordo com especialistas, as intervenções para reduzir a solidão se concentram nas quatro áreas principais a seguir: melhorar as habilidades sociais para facilitar a comunicação, fortalecer o apoio social por meio de relacionamentos de apoio, criar mais oportunidades de interação social e mudar pensamentos negativos sobre a conexão com outras pessoas.
Ao melhorar as habilidades sociais e construir uma forte rede de apoio, o medo da rejeição e da vulnerabilidade é gradualmente eliminado, permitindo interações mais positivas.
2. Integre o autocuidado à sua rotina
O autocuidado não é apenas uma maneira de se mimar, mas uma ferramenta poderosa para combater a solidão. Práticas como mindfulness e meditação ajudam você a fazer uma pausa e se reconectar consigo mesmo, permitindo que você tome consciência de seus pensamentos e emoções para gerenciá-los de forma eficaz.
Nesse sentido, um estudo da Revista Grafías relata que o mindfulness pode mudar pensamentos negativos associados à solidão. Essa prática ajuda a concentrar a atenção no momento presente, permitindo que as pessoas, especialmente os idosos, transformem seus pensamentos negativos e melhorem seu bem-estar emocional.
Além disso, dedicar tempo aos seus hobbies ou projetos pessoais ajuda a ter um propósito e gera uma sensação de satisfação e realização, preenchendo o vazio emocional que produz a sensação de solidão. Esses momentos de calma reduzem o estresse e a ansiedade, proporcionando paz interior.
3. Mude sua narrativa interna
Muitas vezes, o sentimento de solidão está ligado a crenças limitantes sobre si mesmo e sobre os outros. Mudar narrativas internas, como “ninguém nunca me entende” para “estou disposto a me conectar com mais pessoas”, pode abrir a porta para novas oportunidades sociais.
Ao substituir pensamentos negativos, podemos desfrutar de novas experiências e relacionamentos. Além disso, trabalhar a autoestima por meio de afirmações positivas e autocompaixão fortalece nossa capacidade de nos relacionarmos autenticamente.
4. Estabeleça metas pequenas, mas alcançáveis
Em vez de tentar fazer grandes mudanças imediatamente, comece com ações simples que você possa aproveitar, como convidar um amigo para tomar um café ou participar de um grupo de interesse.
Essas pequenas conquistas não apenas permitem que você se sinta mais conectado, mas também aumentam sua confiança e mostram que os relacionamentos podem crescer naturalmente. Cada passo, por menor que seja, aproxima você de um sentimento de pertencimento e satisfação pessoal.
5. Procure apoio profissional
Uma pesquisa do Clinical Journal of Family Medicine sugeriu que a solidão pode ter muitos efeitos negativos na saúde mental, incluindo depressão, ansiedade, estresse, psicose, demência, distúrbios do sono e pensamentos suicidas. Então, quando esse sentimento se torna insuportável, é fundamental procurar ajuda de um psicólogo.
Um profissional de saúde mental pode oferecer ferramentas específicas para lidar com sua solidão e trabalhar suas causas subjacentes. Na mesma linha, participar de uma terapia de grupo permite que você compartilhe suas experiências com outras pessoas que estão passando por situações semelhantes. Esta pode ser uma experiência enriquecedora.
A solidão é uma ótima professora, mas não faça dela parte da sua vida
Embora muitas vezes vista como um desafio doloroso, a solidão pode ser uma oportunidade única de crescimento pessoal. Redefini-la como um espaço para explorar nossos pensamentos, emoções e desejos mais profundos nos ajuda a descobrir aspectos de nós mesmos que, de outra forma, passariam despercebidos.
Tenha em mente que o sentimento por si só não define a identidade. É apenas uma fase temporária que, com tempo e paciência, é possível superar. Buscar apoio, praticar o autocuidado e fazer pequenas mudanças ajudarão você a seguir em frente e ter uma vida mais plena, conectada e autêntica.
Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.
- Ahmed, M., Cerda, I., & Maloof, M. (2023). Breaking the vicious cycle: The interplay between loneliness, metabolic illness, and mental health. Frontiers in Psychiatry, 14. https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC10030736/
- Céspedes, I. (2019). Factores relacionados al sentimiento de soledad durante la vejez. Anales en Gerontología, 11(11), 141-157. https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=7312955
- Díaz, L., Moreno, S., & Arias-Rojas, M. (2019). Soledad en el adulto mayor: implicaciones para el profesional de enfermería. Revista Cuidarte, 10(2). http://www.scielo.org.co/scielo.php?pid=S2216-09732019000200300&script=sci_arttext
- Gené, J., Ruiz, M., Obiols, N., Puig, L., & Jiménez, E. (2016). Aislamiento social y soledad:¿ qué podemos hacer los equipos de atención primaria?. Atención Primaria, 48(9), 604-609. https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0212656716301809
- Hernández, M., Fernández, M., Sánchez, N., Blanco, M., Perdiz Álvarez, M., & Castro, P. (2021). Soledad y envejecimiento. Revista Clínica de Medicina de Familia, 14(3), 146-153. https://scielo.isciii.es/scielo.php?pid=S1699-695X2021000300005&script=sci_arttext
- Márquez, M., Reyes, M., & Corredor, F. (2015). Bases neurológicas de mindfulness y su influencia en el sentimiento de soledad en adultos mayores. Revista Grafías, 63-73. https://ojs.ucp.edu.co/index.php/grafias/article/view/1311
- Martín, U., & González, Y. (2022). Soledad no deseada, salud y desigualdades sociales a lo largo del ciclo vital. Gaceta Sanitaria, 35, 432-437. https://www.scielosp.org/article/gs/2021.v35n5/432-437/es/
- Palma, E., & Escarabajal, M. (2021). Efectos de la soledad en la salud de las personas mayores. Gerokomos, 32(1), 22-25. https://scielo.isciii.es/scielo.php?pid=S1134-928X2021000100022&script=sci_arttext
- Real Academia Española. (2024). Soledad. RAE. Consultado el 23 de enero del 2025: https://dle.rae.es/soledad
- Richard, A., Rohrmann, S., Vandeleur, C., Schmid, M., Barth, J., & Eichholzer, M. (2017). Loneliness is adversely associated with physical and mental health and lifestyle factors: Results from a Swiss national survey. PloS one, 12(7). https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0181442
- Rico, J. (2014). Hacia una historia de la soledad. Historia y grafía, (42), 35-63. https://www.scielo.org.mx/scielo.php?pid=S1405-09272014000100003&script=sci_arttext