Tratamentos psicológicos para superar o "ghosting"

Muitas pessoas pedem ajuda psicológica porque não conseguem superar uma experiência de "ghosting". São feridas traumáticas que requerem abordagens especiais, que serão discutidas neste texto.
Tratamentos psicológicos para superar o "ghosting"
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 27 janeiro, 2024

Superar o ghosting não é fácil para todos. Deixar alguém abruptamente, sem dar nenhuma explicação, tornou-se um fenômeno comum e às vezes com efeitos traumáticos. Afinal, as pessoas são seres que se unem e a construção de laços sólidos constrói, em grande medida, nosso bem-estar psicológico.

Esse tema tem destaque em um estudo recente publicado no Journal of Social and Personal Relationships. Os seres humanos têm necessidades básicas de pertencimento, que revertem em nossa autoestima, senso de controle e uma vida mais significativa. Se isso falhar, uma parte de nós entra em colapso, e isso muitas vezes justifica a busca por ajuda especializada.

Se esse é o seu caso, se você percebe que não consegue superar essa experiência, confira a seguir quais estratégias seriam as mais adequadas para alcançar a superação. Tome nota.

A pessoa que sofreu ghosting pode passar anos se perguntando por que foi abandonada sem explicação.

O que é ghosting

Ghosting é um termo que descreve aquela situação em que uma pessoa termina um relacionamento unilateralmente sem dar nenhuma explicação ou oferecer ao outro a oportunidade de fechamento desse vínculo. Embora a terminologia seja nova, esses tipos de experiências não o são. Acabar com um vínculo afetivo sem uma comunicação clara é um fenômeno frequente.

Além disso, graças às tecnologias e ao universo virtual, essas dinâmicas disfuncionais aumentam. Basta deixar a conversa “lida”, não responder ou ser deletado das redes sociais de alguém para assumir —à força e sem anestesia— que já não fazemos parte da vida dessa pessoa.

A esse respeito, este aritgo da Universidade de Viena argumenta que, embora grande parte da literatura científica se concentre nos relacionamentos românticos, o ghosting também ocorre nas amizades. Da mesma forma, existe a ideia de que sofrer ghosting é vivenciado de forma mais dolorosa do que uma rejeição direta e argumentada. A razão? O cérebro não tolera o que fica no limbo ou o que não compreende.



Como saber se preciso de ajuda especializada nesses casos?

Comportamentos carentes de responsabilidade afetiva sempre existiram. Porém, a tecnologia articula outras formas de se relacionar, de criar vínculos e também de rompê-los. Foi o filósofo e sociólogo Zygmunt Bauman quem nos falou sobre a prevalência atual de relações líquidas e laços frágeis.

É verdade que essa fragilidade relacional parece permear cada vez mais nossa sociedade. Mas geralmente existem muitas diferenças interindividuais quando se trata de abordar o ghosting. Há quem consiga superá-lo e outros, por outro lado, ficam presos em um intenso e duradouro luto emocional. É nesse momento que você deve pedir ajuda psicológica.

A Erasmus University of Rotterdam conduziu uma pesquisa sobre essas experiências entre usuários de aplicativos e descobriu algo importante: o ghosting nem sempre é realizado com intenção prejudicial ou consciente. Contudo, as consequências não deixam de ser imensas e sempre há um impacto direto na saúde mental.

Portanto, você não deve se sentir envergonhado ou desconfortável por se encontrar bloqueado nessa experiência: você não é o único. Vamos ver quais são as características daqueles que estão presos nesse limbo.

As pessoas que vivenciam o ghosting de maneira muito traumática podem se beneficiar da terapia de aceitação e compromisso.

Sintomas de que você está tendo dificuldade em superar o ghosting

  • Você se sente cada vez mais irritado.
  • A dor emocional é constante.
  • Sua autoestima está baixa.
  • Você fica se perguntando “o que eu fiz de errado”.
  • Você sente desesperança e tristeza constante.
  • Você se questiona e se critica com frequência.
  • Você tem medo de ser rejeitado por outras pessoas que conhece.
  • Como você vive como ghosting, é difícil para você confiar nos outros.
  • A memória do ghosting ocupa grande parte do seu tempo.
  • Você evita fazer novos amigos ou encontrar parceiros em potencial.
  • Você não consegue parar de checar as redes sociais dessa pessoa.
  • Você sente uma grande turbulência emocional que não desaparece rapidamente.
  • Você está preso em um luto congelado que dura mais de seis meses.

Tratamentos psicológicos para superar o ghosting

As pessoas que se aventuram e decidem fazer terapia para superar o ghosting precisam passar por uma avaliação primeiro. O que o psicólogo fará, previamente, é colher informações para fazer um diagnóstico adequado. Às vezes, alguns pacientes apresentam depressão ou sintomas de estresse pós-traumático.

O que nos dizem as pesquisas, como as desenvolvidas pela Universidade de Castilla-La Mancha, na Espanha, é que nessas situações ocorre uma experiência psicológica frequente: o ostracismo. É um fenômeno que integra o sentimento de solidão, humor deprimido e impotência. Tudo isso requer uma abordagem terapêutica adequada. Confira as mais úteis.

Terapia de aceitação e compromisso

Caso estejamos arrastando o desconforto emocional associado ao ghosting há algum tempo, a terapia de aceitação e compromisso (ACT) ajudará.

Conforme indicado em uma meta-análise publicada no Journal of contextual behavior science, a ACT é uma abordagem eficaz capaz de reduzir o sofrimento e abordar diferentes condições psicológicas. Quando se trata de superar o ghosting, contribui da seguinte forma:

  • Comprometer-se com a mudança e com o próprio bem-estar.
  • Trabalhar nossos valores para definir novas metas vitais.
  • Aceitar o que aconteceu e deixar espaço às emoções negativas para aprendermos a lidar com elas.
  • Aplicar a desfusão cognitiva para promover uma abordagem mental mais flexível e saudável.
  • Mindfulness. Com essa técnica, o presente fica mais focado para não se deixar levar pelo passado, emoções difíceis e pensamentos adversos.
  • Entender que tudo que nos acontece faz parte de um contexto. Não somos culpados pelo que acontece, mas devemos aprender a conviver com essa experiência.

Para superar o ghosting, é fundamental aceitar o que aconteceu, focar em nós mesmos e estabelecer novos objetivos de vida.

Terapia cognitivo-comportamental

A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é um modelo usado para ajudar as pessoas a lidar com o luto emocional e superar o ghosting. Utiliza uma metodologia ampla baseada nos eixos que citamos abaixo:

  • Validação emocional e reforço da autoestima.
  • Prevenir as recaídas e oferecer à pessoa ferramentas para enfrentar sozinha as dificuldades futuras.
  • A TCC nos orienta a mudar nossos comportamentos para outros mais saudáveis que nos permitirão reduzir o sofrimento.
  • Regulação emocional. Ter estratégias para lidar com o desconforto, as emoções difíceis e a ansiedade associadas a essa experiência é fundamental.
  • Reestruturação cognitiva para identificar e modificar padrões de pensamento negativos e distorcidos ligados à experiência de ghosting.
  • Técnicas para resolver problemas. Muitas vezes, quando ficamos presos em um luto devido ao ghosting, deixamos de enfrentar os desafios mais básicos. Essa terapia nos permitirá nos fortalecer nesse sentido.

Terapia focada na emoção

A terapia focada na emoção (TCE) é uma abordagem desenvolvida pelo psicólogo humanista Carl Rogers e posteriormente aprimorada por Leslie Greenberg e outros terapeutas. Esse modelo ajuda a superar o ghosting graças aos recursos disponíveis para passar pelo luto e gerenciar melhor o desconforto. O que se consegue com a TCE?

  • Aprender técnicas de regulação emocional.
  • Promover a reflexão para dar sentido ao que foi vivido.
  • Facilitar a transformação emocional e promovem maior bem-estar na pessoa.
  • Gerenciar estados como raiva, culpa, tristeza ou vergonha ligados à experiência do ghosting.

Graças a esses recursos daremos início a uma nova etapa de vida livre de desconforto e sofrimento. Não vamos mais nos perguntar por que fomos deixados e focamos no “para quê” vivemos. E a resposta não é outra senão trabalhar em nossa felicidade e bem-estar além da dor sofrida.



Última recomendação para superar o ghosting

Nem todo mundo que viveu uma situação de ghosting precisa de ajuda, há quem sofra as consequências dessa experiência em silêncio. Há muitos que não se atrevem a dar o passo necessário porque esperam que o tempo, por si só, cure a ferida.

Mas o passar dos dias, longe de cicatrizar, tornam a ferida maior. Não hesite em consultar um profissional. Você merece superar essa situação e continuar sua vida livre dessa preocupação.


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Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.