A clonagem humana vista da psicologia

O que você acha da clonagem humana? Do ponto de vista bioético, a psicologia entende que esta é uma linha que não deve ser ultrapassada. No entanto, os avanços da ciência são irrefreáveis. O que considerar nesse contexto?
A clonagem humana vista da psicologia
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 24 outubro, 2023

Ben Lamm, fundador da primeira empresa de “desextinção” de espécies, anunciou recentemente que os primeiros mamutes-lanosos poderão ser vistos até 2028. A biotecnologia e a ciência da edição de genes estão avançando de forma impressionante. Isso leva a uma pergunta interessante: que opinião a psicologia tem sobre a clonagem humana?

Existe uma percepção comum entre a comunidade médica e psicológica de que, em algum momento, os clones humanos se tornarão realidade. Do ponto de vista bioético, não é recomendável, pois as implicações sociais e emocionais serão imensas.

Mas com quais argumentos convencer os cientistas a não encorajar tal engenharia? Além disso, que efeitos teria na sociedade se isso acontecesse? Confira mais detalhes dessas informações a seguir.

A psicologia admite e aprova a terapia genética para fins médicos, como transplante de órgãos, células nervosas e cicatrização de tecidos. Mas a clonagem humana tem outras implicações mais problemáticas.

A clonagem humana vista da psicologia

A revista Reproductive Biomedicine Online  destaca em um documento que a questão da clonagem humana tem sido motivo de um debate controverso por décadas. Nesse sentido, tanto a psicologia quanto as demais ciências sociais devem ser o suporte orientador capaz de dissuadir o progresso ou fornecer a espinha dorsal para sua regulamentação, caso seja realizada.

A realidade é que, embora grande parte da sociedade veja com bons olhos a edição de genes para tratar doenças, mergulhar na replicação humana é tratado como algo aberrante. A clonagem da ovelha Dolly em 1997 foi vista como uma metáfora: o lobo em pele de cordeiro e a forte possibilidade de que essa tecnologia pudesse se materializar em humanos.

Tal foi o impacto que, meses depois, o Conselho da Europa aprovou uma norma que proibia essa possibilidade. Mais tarde, a Assembleia Geral das Nações Unidas pediu o mesmo, alegando que a clonagem terapêutica viola irrevogavelmente a dignidade humana. No entanto, países como o Reino Unido já editam embriões humanos, revela um estudo de 2017 na Nature.

A tecnologia existe, então está claro que, em algum momento, a clonagem acontecerá. Então, qual é a opinião da psicologia em relação ao assunto?



Imagem da cadeia genética representando a clonagem humana
Muitas questões sobre a clonagem humana precisam ser resolvidas, como as relacionadas aos seus aspectos sociais, psicológicos e éticos.

A clonagem tem sérias considerações

A psicologia está em sintonia com as perspectivas de um dos maiores especialistas em genética e clonagem: Dr. Francisco J. Ayala. Em seu livro Cloning Humans? e em pesquisas como as publicadas na PNAS em 2015, ele enfatiza a mesma ideia: os genes podem ser clonados para fins médicos, mas nunca as pessoas.

Abrir as portas à clonagem humana daria forma aos cenários futuros mais utópicos e antiéticos. Por exemplo, poderiam ser feitas “cópias” de indivíduos com características muito específicas: grande talento, inteligência ou beleza. Da mesma forma, seria possível produzir filhos de um genótipo específico. O que mais traria tal avanço?

  • Modificaria o conceito de biodiversidade genética.
  • A possibilidade de clonar entes queridos falecidos.
  • A replicação humana como forma evidente de eugenia.
  • Como na clonagem de animais, haveria falhas e malformações frequentes.
  • A origem de muitas pessoas não se deve mais à causalidade biológica, mas ao desenho realizado em laboratório.
  • A clonagem humana não respeitaria mais o que há de mais valioso em todos nós: nossa singularidade, cada um sendo único no mundo inteiro.
  • Todas as relações de parentesco seriam alteradas, pois haveria apenas um único genitor (figura a partir da qual se replica).

A psicologia recomenda que a clonagem reprodutiva continue proibida. As implicações éticas, sociais, psicológicas e morais seriam imensas. No entanto, caso em algum momento essa possibilidade se abra, ela deve ser regulamentada com muito rigor.

O consenso científico atual é que a clonagem humana é antiética. De fato, muitos clones de animais têm malformações graves, não sobrevivem ou apresentam doenças graves.

Possíveis consequências psicológicas da legalização da clonagem

Atualmente, a clonagem humana não é legal, mas em algum lugar há alguém que se apresentará e será o pioneiro que mudou as coisas neste campo. A psicologia sabe que, por mais aberrante que pareça agora, a clonagem reprodutiva acontecerá mais cedo ou mais tarde.

Portanto, vamos nos colocar em uma situação: que efeito isso teria na sociedade? E para a pessoa clonada? Vamos analisá-lo imediatamente.

  • As pessoas clonadas sofreriam rejeição social e discriminação.
  • Ser um clone frequentemente implicaria em profundas crises existenciais.
  • Os clones estariam altamente condicionados pelas expectativas e exigências dos pais ou doadores de genótipos.
  • O ambiente sempre teria a tendência de comparar as realizações da figura clonada com as da pessoa original.
  • Apareceriam profundas cargas psíquicas, tanto na figura do doador quanto na do clonado. Seriam filhos e pais? Gêmeos, talvez?
  • As crianças geradas pela clonagem reprodutiva sofreriam problemas na formação de sua identidade e desenvolvimento psicossocial (Annas, 1998; Gonnella e Hojat, 2001 ).
  • Os clones teriam dificuldade em aceitar sua origem e entender quem são seus familiares ou pais. Pela genética, seria apenas um, ou seja, seu gêmeo monozigótico.
  • Mesmos genes, diferentes formas de ser. Em 2013, apareceu o Dr. Michael Zuck que queria clonar John Lennon. Contudo, algo que ele não sabia é que o clone teria o mesmo DNA, mas nenhuma das experiências de vida que formaram sua personalidade. Ele não seria o artista que ansiava por voltar à vida. No futuro, haveria clones criados de propósito para substituir alguém que morreu. Nesses casos, nem a identidade nem a personalidade seriam as mesmas.


Divisão celular como parte da clonagem humana
Muito provavelmente, em algum momento, a clonagem humana se tornará uma realidade.

Proibir a clonagem protege a dignidade humana

Do ponto de vista da psicologia, são apontados aspectos muito grotescos que derivariam da clonagem humana. Um exemplo disso seriam os pais que anseiam por ter um substituto exato para um filho falecido. Outro, a tentativa de replicar figuras de grande talento em busca de criar uma sociedade com conotações eugênicas. Na ausência de uma regulamentação bioética firme nesse campo, brincaríamos de Frankenstein.

Atualmente, se a clonagem não é legalizada, é porque os avanços no campo da replicação animal ainda são deficientes. Malformações, doenças e mortes prematuras são frequentes. No entanto, quando indivíduos fortes e saudáveis se desenvolverem, uma nova revolução biológica e social pode começar.

A psicologia insiste que o passo não seja dado, já que a clonagem é um atentado à dignidade humana. Já “escravizados” pela tecnologia, seria uma tentativa de controlar o que não deveria estar sob nosso controle. Deixar de ser único para se tornar uma cópia do outro é um ataque à identidade e à individualidade.


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