O que é e como prevenir a síndrome do colega de quarto?


Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater
Para onde vai a paixão, a intimidade e a cumplicidade quando o amor se desgasta? O que aconteceu para que, quase sem saber como, um casal more na mesma casa, mas o sexo desapareça nessa equação relacional? Esta é a mesma coisa que aqueles que derivam do que é conhecido como “síndrome do colega de quarto” se perguntam.
Quando o desejo se torna obsoleto em um casal e a sexualidade deixa de se conjugar nessa linguagem, tudo perde o sentido em um vínculo afetivo. Apesar disso, são muitos os que continuam, partilhando espaços físicos, mas não recantos emocionais. Há esperança nessas situações? É possível fazer algo a respeito? Descubra durante a leitura.
Na síndrome do colega de quarto, o casal mantém um vínculo respeitoso e cordial; quase sem saber como, tornam-se bons amigos, sem intimidade emocional e física.
Síndrome do colega de quarto: definição e características
Seu relacionamento se tornou rotineiro e carente de brilho, entusiasmo e projetos futuros? As frases “estou cansado” ou “só não estou com vontade agora” sempre aparecem? Você compartilha uma casa, mas carícias, beijos e cumplicidade não estão mais presentes? Então, é provável que você evidencie essa realidade que é bastante comum, embora não defina nenhuma categoria clínica.
A síndrome do colega de quarto caracteriza casais que vivem juntos apesar da falta de intimidade afetivo-sexual.
Eles são dois amigos bem casados que pagam a mesma hipoteca, compartilham tarefas domésticas, talvez criando filhos e até cuidando de animais de estimação. Mas a paixão rachou ou secou como uma planta que não recebe mais água. A seguir desenvolvemos outras particularidades que definem essa situação.
1. A coexistência é boa
A principal característica da síndrome do colega de quarto é que são casais assexuados que se dão bem. Não há conflitos que causem grandes desafetos, angústias e distanciamentos. Existe uma boa gestão de responsabilidades e uma harmonia aceitável na convivência, o que justifica não ter de romper imediatamente essa relação.
Boas conversas e até hobbies comuns continuam. De alguma forma, o casal prolonga essa circunstância porque espera que, em algum momento, o vínculo recupere a paixão perdida ou desgastada.
Boa parte das separações de casais são causadas pelo peso da rotina e pela perda da cumplicidade emocional.
2. O sexo não está mais presente
A sexualidade não está mais presente nessa conjunção relacional do casal. E isso não é algo que se aceita com prazer, mas se vive com tristeza e sem saber ao certo o motivo de ter chegado a esse ponto. Pode ser que essa falta de libido tenha começado em um dos membros, até que, aos poucos, o outro perdeu o desejo e a iniciativa.
Então, por que esse desinteresse por sexo? A Universidade de Southampton realizou um estudo na população britânica sobre esse fenômeno, no qual homens e mulheres revelaram, entre outros aspectos, que o desinteresse se devia a fatores como não se sentir emocionalmente perto de seus parceiros nas relações sexuais, por exemplo.
A verdade é que nesta matéria não se pode sequer falar em diferenças de género, a relutância no sexo deve ser sempre abordada de forma holística, porque entram várias variáveis.
3. A relação é sustentada por responsabilidades comuns
Por que um casal que não tem intimidade afetivo-sexual continua com esse relacionamento? A síndrome do colega de quarto baseia-se na ideia de que um relacionamento pode continuar quando há boa convivência e responsabilidades conjuntas. Às vezes, o custo de romper um vínculo é maior do que continuar com ele, apesar de não haver intimidade.
O casal segue em frente porque estão ancorados na rotina de trabalho, na manutenção do lar e naquelas dinâmicas diárias que preenchem o tempo, mas não o coração.
4. A rotina sufoca, mas há medo de romper o relacionamento
Trabalhos como os revisados na revista Evolutionary Psychology Eles enfatizam que o impacto da separação pode ser muito difícil para ambas as partes. Se os casais que sofrem da síndrome não abandonam esse relacionamento é por medo da solidão e porque ainda há um componente afetivo.
A rotina é a principal inimiga dos laços passivos daquele casal sem sexo que termina em uma amizade respeitosa, mas desprovida de ilusões, paixões e linguagem do físico.
5. Na síndrome do colega de quarto existe amor, mas falta cuidado
Parte significativa das relações conjugais é fragmentada pelo descaso, por não saber cuidar do amor. Esse é o exemplo claro da síndrome. Nesse caso, há vínculos nos quais ainda navegam a estima e a admiração, mas são vínculos de atenção negligenciados, vazios de reforço e validação.
Permanece, portanto, um sentimento latente de abandono que, embora doa, tenta-se reprimir focando-se nas rotinas e obrigações do quotidiano. Não pensar demais para não sofrer faz com que optem por se apegar a projetos comuns e não à relação que os define e que está se desfazendo.
6. Você evita falar sobre o que está acontecendo
Na síndrome do colega de quarto, há uma óbvia falta de comunicação. O casal sem sexo evita a todo custo falar dessa falta de intimidade afetivo-sexual e, em vez disso, recorre a desculpas. Pode ser justificado com o fato de que essa situação é temporária e que as coisas vão mudar em algum momento.
Porém, se evita-se o aprofundamento desse distanciamento, é porque gera muito sofrimento perceber o quanto a atenção ao vínculo foi abandonada.
Casais sem sexo: como lidar com essa situação?
Quando a intimidade afetivo-sexual não está mais presente em um relacionamento e, apesar disso, você segue em frente, acaba escondendo todos os seus problemas debaixo do tapete. Você não quer vê-los. Você tem medo de enfrentar essa situação por medo de perder completamente o seu parceiro.
Nestes casos, convém perguntar-se, antes de mais nada, algo tão simples como: “Sou feliz nesta relação? É isso que eu quero a longo prazo? . Se a resposta a estas perguntas for não, reflita sobre as chaves que deve aplicar e que detalhamos a seguir.
1. Fale: o que você precisa, o que eu preciso
Frontiers in Psychology destaca em artigo que a comunicação é o coração ou a pedra angular de um vínculo afetivo. É o motor que move tudo e a competição em que todos devem se classificar.
No caso dessa síndrome, é aconselhável sentar com seu parceiro e, de forma empática, sensível e assertiva, conversar sobre o que cada um precisa. A honestidade e a capacidade de dialogar sem projetar culpas serão o catalisador.
2. Trabalhe o afeto e a comunicação emocional
A linguagem emocional é a artéria que nutre um relacionamento. Se você deseja recuperar a intimidade afetivo-sexual, é pertinente fazer um esforço para abordar o cuidado mútuo, a atenção e os detalhes do cotidiano. Sem intencionalidade e cuidado emocional, sem compromisso de atender as tramas emocionais de um relacionamento, será difícil voltar a ser um casal pleno.
3. Vá devagar, sem grandes expectativas.
Quando se pensa em reatar o relacionamento, é comum ter expectativas muito altas e querer mudanças rápidas. Casais sem sexo não recuperam a paixão de um dia para o outro, é melhor se envolver em um trabalho delicado, lento e comprometido. Deixar o amor fluir para construir um novo desejo autêntico leva tempo.
Para superar a síndrome do colega de quarto, é preciso quebrar rotinas e recuperar a linguagem do cuidado, atenção e carinho no dia a dia.
4. Mude a rotina, surpreenda, improvise
A rotina sufoca a paixão, assim como as obrigações do trabalho, tão desfavoráveis para que surja a magia do improviso a dois. Que o objetivo seja desfocar ao máximo as rotinas e surpreender uns aos outros com encontros repentinos, com viagens de última hora. A ilusão também é trabalhada.
Quando pedir ajuda para lidar com a síndrome do colega de quarto?
Em última análise e se o progresso que você deseja não acontecer, será sempre sensato procurar a ajuda de um profissional. Tenha em mente que o fenômeno de casais sem sexo é algo muito frequente e isso não deve gerar objeção ou vergonha ao pedir apoio.
Se houver amor e, principalmente, a vontade clara e comprometida de ambos em trabalhar essa relação, a terapia de casal será muito útil. Não dispense o passo.
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