Logo image

Luto: fases, duração e estratégias de enfrentamento

6 minutos
Como explica a Dra. Marta Canino, embora normalmente associemos o luto à morte de um ente querido, ele também pode se manifestar diante de um término de relacionamento, da perda de um emprego ou até mesmo quando um amigo nos abandona sem motivo.
Luto: fases, duração e estratégias de enfrentamento
Última atualização: 17 maio, 2025

O luto é uma resposta emocional profunda que a maioria das pessoas vivencia mais cedo ou mais tarde. Perder algo ou alguém importante em nossas vidas dói e deixa uma marca na alma que pode ser difícil de esquecer. No entanto, embora a tristeza possa parecer insuportável no início, o tempo é o melhor remédio para a dor.

Para entender melhor os estágios do luto e como lidar com eles, conversamos com a Dra. Marta Canino, médica especialista em medicina familiar e comunitária com ampla experiência no apoio a idosos e suas famílias durante o processo de perda. Por meio de suas palavras, ela nos convida a encarar o luto com mais compaixão, humanidade e consciência.

Os estágios do luto: todos os indivíduos os vivenciam da mesma maneira?

Embora sejam reconhecidos cinco estágios do luto (negação, raiva, negociação, depressão e aceitação), eles podem ser vivenciados de diferentes maneiras. Segundo o especialista: “As fases são organizadas na ordem mais comum, mas, na realidade, uma pessoa pode pular fases ou mudar a ordem, e isso não é considerado ruim ou patológico.”

O luto não é apenas tristeza, como ressalta a médica, é uma dor psicológica que ativa as mesmas áreas do cérebro que a dor física, e é por isso que ela literalmente dói”. E embora muitas vezes queiramos evitar esse sofrimento, é necessário passar por ele no nosso próprio ritmo e viver as seguintes etapas para superá-lo:

1. Negação

Quando ocorre uma perda pela primeira vez, a negação é uma espécie de escudo emocional contra o impacto. “Geralmente vem com a sensação de que a pessoa falecida vai entrar pela porta a qualquer momento ou que o que aconteceu foi um pesadelo e não real”, explica a profissional.

“Mesmo que estejamos cientes do que aconteceu, ainda não processamos emocionalmente, e isso pode nos levar a pensar que tudo voltará a ser como era.”

Dra. Marta Canino

2. Raiva

Nessa fase, a tristeza e a culpa geradas pelo luto muitas vezes nos fazem culpar a nós mesmos por coisas do passado e ficar com raiva do que nunca aconteceu. “Por que não fiz mais?”, “Por que não liguei para ele antes?” ou ” Por que você me deixou?”, são perguntas que ajudam a canalizar a dor, mas podem nos fazer sentir muita raiva de nós mesmos ou dos outros.

De acordo com a Dra. Canino, o estágio da raiva “geralmente esconde outra coisa, geralmente a dor da perda, e aparece mais cedo porque é mais fácil de controlar do que outras emoções mais severas, como a tristeza”.

3. Negociação

Nessa fase, a médica sugere, “consideramos cenários hipotéticos em que a perda poderia não ter acontecido para sofrer menos temporariamente e assimilar o que aconteceu”, explica. É normal surgirem perguntas como: “E se tivéssemos chegado ao hospital mais cedo?” ou “E se eu tivesse saído com ele na semana passada?”.

4. Depressão

Esta é a fase mais profunda e dolorosa, onde a realidade bate forte. Aparecem a indiferença, o choro, o vazio… A Dra. Marta resume assim: “Sentimos a dor em toda a sua intensidade; há lágrimas, apatia e uma tristeza muito profunda que, no fundo, honra a perda de alguém que fez parte das nossas vidas.”

5. Aceitação

Com o passar do tempo, o coração não esquece nem deixa de sentir, mas aprende a conviver com a ausência. Como diz a Dra. Canino: “Parte da dor permanecerá conosco e nos visitará de vez em quando, mas podemos retornar às nossas vidas e funções normais, e até mesmo aproveitar a vida novamente”.

Quanto tempo dura um luto?

Não há um momento específico em que uma pessoa deve processar a dor de sua perda. Para alguns, pode ser uma questão de meses, enquanto para outros pode levar anos, e isso é normal. No entanto, a Dra. Marta Canino ressalta que “uma duração aproximada para o luto normal seria entre 1 e 2 anos”.

Cada caso é diferente, e processar a morte de um filho não é a mesma coisa que processar o fim de um relacionamento. Tudo depende da natureza da perda e da personalidade da pessoa enlutada. Mas se uma pessoa continua presa no sofrimento e na dor, sem conseguir seguir em frente, buscar o apoio de um profissional de saúde mental pode ser de grande ajuda.

Em que ponto o luto se torna patológico?

Nem todos os processos de luto evoluem naturalmente. Nas palavras da médica, “o luto patológico ocorre principalmente em pessoas que sofrem perdas repentinas e traumáticas, que evitam vivenciar as emoções em seu próprio ritmo ou que não têm apoio”.

Da mesma forma, se uma pessoa sofreu de depressão no passado, ela pode estar mais propensa a desenvolver outra. Ainda mais quando não tem uma rede de apoio sólida. Quando o sofrimento do luto persiste ao longo do tempo e parece interminável, é essencial buscar apoio terapêutico profissional para se curar.

Quais são as estratégias saudáveis para lidar com o luto?

Passar pelo luto, independentemente de sua natureza, geralmente é doloroso, mas isso não significa que deva ser feito sozinho ou em silêncio. Embora cada processo seja único, existem várias maneiras de catarse de sentimentos conflitantes e curar o coração com amor e compreensão.

  • Cerque-se de pessoas que ouvem você sem julgamento: Para a Dra. Canino, um dos pilares fundamentais para superar o luto é o apoio social. Conversar com alguém em quem você confia alivia sua dor e permite que você compartilhe o peso do que sente.
  • Procure espaços simbólicos para dizer adeus: dizer adeus não é fácil, mas é necessário. Rituais como funerais ou pequenos gestos pessoais (uma vela, uma carta ou uma foto) ajudam a dar sentido à perda e nos ajudam a começar a deixar ir.
  • Permita-se sentir e expressar o que você tem dentro de si: não reprima seus sentimentos por medo da tristeza. Chorar, escrever uma carta, conversar com um amigo ou pintar um quadro podem ser maneiras de expressar o que nos machuca e nos curar.
  • Conecte-se com sua espiritualidade: O Dr. Hahn enfatiza que, seja por meio da fé, da meditação ou “das crenças de cada pessoa sobre o que vem depois da vida”, a espiritualidade pode ser uma grande fonte de conforto.
  • Fique longe de álcool e drogas: esses tipos de substâncias podem mergulhar uma pessoa em luto em uma espiral de dor. Eles não aliviam a tristeza; e sim “pioram o quadro e levam à depressão”, alerta a profissional.

É possível encontrar um novo sentido para a vida após um luto

Embora possa ser difícil imaginar no início, muitas pessoas descobrem que o tempo é o melhor antídoto para se recuperar de uma perda. A Dra. Marta Canino conclui que o luto:

“Pode nos ajudar a acreditar mais em nossa força interior, aproveitar mais o presente e ter em mente que a vida continua, mesmo que uma parte de nós sempre sinta falta daqueles que não estão mais lá.”

Dra. Marta Canino

Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.